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Elenco 'ponta firme'. Grêmio tem time estudioso e calejado na final

Elenco usa estatísticas e análise geradas pelo clube na preparação dos jogos - Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Elenco usa estatísticas e análise geradas pelo clube na preparação dos jogos Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

27/11/2017 04h00

O Grêmio é um time que estuda seus jogos e adversários. A conduta do grupo de jogadores é exaltada não só pelos resultados positivos, acumulados desde o final do ano passado, mas pelo interesse. Com material preparado pelo clube e até relatórios do espião contratado por Renato Gaúcho, o Tricolor tem aquilo que foi definido como um ‘elenco ponta firme’. Que mostra comprometimento no dia a dia e ganhou experiência por insucessos anteriores.

A reta final do jejum de títulos, encerrado com a Copa do Brasil de 2016, ajudaram a moldar um vestiário unido. Que procura auxílio mútuo e se prepara com riqueza de detalhes antes de cada jogo. E a preparação vai até segundos antes da bola rolar, literalmente.

Já se tornou rotina. Antes do time entrar em campo os líderes do grupo falam. Sem nenhuma cerimônia, como formação de círculo ou algo do gênero. As palavras são ditas em meio ao ritual final de cada um. Entre um pé de meia e a camisa.

“O simples hoje é o bonito. Facilita para o companheiro”, comentou Ramiro. “Não interessa quem vai fazer o gol. Nós vamos fazer o gol, nós vamos vencer”, acrescentou na sequência Edilson. “Eu estou preparado para qualquer coisa, mentalmente e fisicamente. Vamos, vamos”, gritou Kannemann.

As frases ajudam a entender o ambiente interno. A relação boa entre todos os jogadores facilita a cobrança e a troca de orientações. Mas as cenas flagradas ao longo do ano pela Grêmio TV e divulgadas no YouTube são apenas a ponta final do processo.

No dia a dia, os jogadores recebem via WhatsApp relatórios individuais e coletivos. As estatísticas são geradas pelo CDD (Centro Digital de Dados) e ajudam no aprimoramento de cada um. Maicon, atualmente lesionado, Ramiro e Geromel são clientes mais assíduos do setor. Barrios, Marcelo Oliveira e Edilson também entram na lista.

“A gente sempre recebe os números e estuda bem, analisa bem, e depois conversa com o professor para procurar melhorar”, declarou Everton.

Os líderes do vestiário chegam a se reunir com Renato para trocar ideias sobre estratégias e funções em campo. Ao longo da semana, e na concentração, o time também dialoga. O caso mais notório dessa cultura de estudo e busca por melhora envolve Arthur.

“O Maicon me pegou um dia e levou até o CDD. Mostrou as estatísticas e falou como eu dava passe para o lado e para trás. Disse para eu arriscar mais”, contou Arthur.

Outra passagem que confirma o caráter aberto e propositivo remete ao início do Brasileirão. Michel havia se consolidado como titular e durante um treino tentou um lançamento longo. Renato Portaluppi chamou o volante depois do treino e incentivou o treino daquele lance. A jogada terminou resultando em gol contra a Chapecoense, em Chapecó, e também foi usada durante várias semanas como desafogo do meio-campo diante de marcação pesada.

Um dos jogadores que mais se valeu do CDD nem está no Grêmio hoje. Pedro Rocha nunca escondeu que analisava a fundo os rivais para tentar qualquer tipo de vantagem no jogo. O exemplo dele é citado internamente quando jovens são promovidos.

“O Pedro Rocha se dedicou, se empenhou e aproveitou todas as oportunidades que tinha no clube. Hoje está jogando na Europa (Spartak Moscou)”, citou Odorico Roman, vice de futebol.

O adjetivo ‘calejado’ também precisa ser aplicado. Boa parte dos jogadores que agora lutam pelo título da Libertadores, com a vantagem de ter vencido o primeiro jogo em Porto Alegre, sofreu em 2016. Depois da derrota para o Rosario Central-ARG fora de casa, o ônibus da delegação foi cercado pela torcida. A cobrança foi proporcional à esperança criada pelo futebol praticado até então sob as ordens de Roger Machado. Mas faltou bola para passar das oitavas.

“Esse grupo tem DNA campeão. Muita gente com experiência e outros que cresceram muito nas mãos do Renato”, comentou Paulo Victor, contratado do Flamengo e que chegou já sabendo que seria suplente de Marcelo Grohe.

O Grêmio volta a enfrentar o Lanús-ARG nesta quarta-feira (29), na grande Buenos Aires. Para conseguir o terceiro título da Libertadores o Tricolor precisa vencer ou até empatar. Se o ‘granate’ sair vencedor pelo placar mínimo a decisão vai à prorrogação.