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Há cinco anos, corintiano foi à Justiça para ver Libertadores "sozinho"

Armando, Karina e Milton Mendonça e Rodrigo Adura, solitários no Pacaembu em 2013 - Leandro Moraes/UOL
Armando, Karina e Milton Mendonça e Rodrigo Adura, solitários no Pacaembu em 2013 Imagem: Leandro Moraes/UOL

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/05/2018 04h00

Em 27 de fevereiro, o Pacaembu recebeu uma partida de Copa Libertadores da América entre Corinthians e Millonarios, mesmo duelo que promete agitar a Arena nesta quinta-feira, às 21h30. Naquela oportunidade, os paulistas eram os últimos campeões do torneio - e também do mundo -, havia a empolgação por contratações de peso, mas o estádio estava praticamente deserto. Apenas quatro torcedores, que recorreram à Justiça, conseguiram furar punição da Conmebol e acompanhar o confronto que terminou com vitória alvinegra por 2 a 0. 

Armando José Terreri Rossi Mendonça, que hoje é conselheiro do clube, foi quem liderou o movimento nos tribunais que permitiu a presença do quarteto na partida de 2013. O Corinthians havia sido punido pela morte do garoto Kevin Espada, na cidade de Oruro, durante jogo contra os bolivianos do San José na mesma edição da Libertadores. A Conmebol, primeiro, baniu a torcida corintiana do restante da competição e a pena começaria a valer justamente contra o Millonarios.

"A Conmebol jamais poderia ter aplicado aquela punição. Porque quando abriu a primeira fase da Libertadores, ela autorizou que o Corinthians já vendesse todos os jogos. Eu e muitos torcedores já havíamos comprado ingressos e você não poderia proibir a entrada dessas pessoas. Pelo código de defesa do consumidor, a Conmebol não podia impedir a entrada da torcida. Levamos isso a um juiz e ele concedeu a liminar. Até pedimos como extensão que não fosse para nós quatro apenas, mas para todos que tinham comprado ingresso antes da punição. Mas criaria uma confusão grande, sem policiamento, e deixou só com a gente", relembra Armando.

"Quando tentamos essa liminar, ninguém no clube acreditava que a gente conseguiria. Depois que conseguimos e que estávamos indo para o jogo, o Corinthians começou a ligar para nós dizendo que isso prejudicaria o clube. Eu não podia mudar. Exerci meu direito. Não podia fazer da Justiça uma banca de interesses próprios. A decisão judicial me autorizou e eu fui. Demonstramos que não haveria nenhum prejuízo e isso ainda permitiu que a Conmebol reavaliasse e tirasse a punição na partida seguinte".

Corinthians e Millonarios voltarão a se encontrar na capital paulista pelo torneio continental, às 21h30, desta quinta-feira, em cenário completamente distinto de meia década atrás. A Arena Corinthians, então apenas um canteiro de obras, já foi inaugurada há quatro anos e está quase sempre lotada. A expectativa é de mais um bom público contra os colombianos e Armando, um dos quatro presentes no Pacaembu em 2013, poderá relembrar os ecos dos gritos de jogadores e técnicos que o deixaram apreensivos na solidão da arquibancada.

"Eu estarei presente na quinta. O Corinthians é um time muito forte, muito preparado, muito bem comandado. Agora com portões abertos, sem ninguém prejudicado entre os verdadeiros torcedores, aqueles que vão pelo espetáculo. Estou muito satisfeito. Ver o jogo sem torcida foi horrível. O estádio vazio te deixa ouvir tudo o que os jogadores e treinadores falam. E como estávamos em quatro e torcendo, eu sentia que a nossa torcida poderia até atrapalhar a comunicação deles. Nem fiquei gritando. Me preocupei em não tirar a atenção deles", confessa.

A morte de Kevin Espada fez com que 12 torcedores do Corinthians ficassem detidos na Bolívia por 156 dias. Depois, um outro corintiano, então menor de idade, disse ter realizado o disparo de sinalizador que acertou o garoto boliviano. O episódio causou comoção nos dois países, que prometeram um amistoso em Santa Cruz de la Sierra para ajudar a família Espada. A seleção brasileira disputou a partida, mas o paí de Kevin diz que nunca recebeu o dinheiro prometido.

Perguntado se o Corinthians não merecia de fato ser punido pela Conmebol em 2013 e jogar sem torcida no restante da Libertadores, Armando disse que o clube não podia ser culpado pela atitude de "vândalos".

"Sempre tive certeza absoluta que o Corinthians, como instituição, nunca foi responsável pelo que aconteceu. E a instituição não pode responder pela atitude inconsequente de quem cometeu aquele ato criminoso. Era um problema de Estado, tanto é que ficaram presos. O clube não teve culpa alguma, não tinha nem o mando do jogo, não cuidava da segurança", pondera.

Além de Armando, outras três pessoas ganharam o direito de acompanhar o duelo com o Millonarios no Pacaembu - Karina Mendonça, Milton Mendonça e Rodrigo Adura. O advogado e agora conselheiro do Corinthians, porém, lembra que a própria Conmebol já havia encontrado brecha para levar seus convidados à partida. Ele, no entanto, ressalta: "Nós entramos no jogo única e exclusivamente para fazer valer nosso direito. Não foi para enfrentar ninguém".