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Expulsão polêmica empurra ingleses para pior campanha na Liga desde 96

Técnico do Manchester United, Alex Ferguson, reclama da expulsão de Nani - Peter Powell/EFE
Técnico do Manchester United, Alex Ferguson, reclama da expulsão de Nani Imagem: Peter Powell/EFE

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

06/03/2013 06h00

Na teoria, o Arsenal poderá ir à Alemanha na semana que vem e reverter a considerável vantagem obtida pelo Bayern de Munique com a vitória por 3 a 1 em Londres no mês passado. Na prática, é bem provável que o último representante inglês na Liga dos Campeões da Uefa vá ficar pelo caminho, assim como o Manchester United diante do Real Madrid, e marcar a pior temporada do país na competição europeia desde 1996, quando nenhum inglês foi às quartas-de-final.

O time de Alex Ferguson estava bem vivo na competição até os 10 minutos do segundo tempo da partida em Old Trafford. Foi quando o português Nani foi expulso após atingir Arbeloa, em uma decisão bastante contestada do árbitro turco Cüneyt Çakir. Depois disso, apesar de ser o "melhor time em campo” na opinião até do técnico do Real Madrid, José Mourinho, o Manchester United sofreu a virada e amargou uma frustração que remete aos tropeços do futebol inglês no fim do século passado.

Se naquele ano os súditos da rainha ainda estavam atrás de italianos e espanhóis no que dizia respeito a poder de fogo dentro e fora de campo, a queda prematura de seus representantes na Liga dos Campeões em 2013 soa bem mais grave quando a Premier League exibe uma pujança financeira sem comparação com os vizinhos – mesmo na Espanha, onde a diferença entre Real e Barcelona é imensamente superior a do resto dos clubes da primeiro divisão. Desde a noite desta terça-feira, os ingleses especulam se não está havendo uma mudança no jogo de forças europeu.

Sim, um observador mais atento vai apontar para o fato de que, com exceção de 2010, os clubes ingleses marcaram presença em todas as  finais de liga desde 2005, sem falar ainda no tira-teima caseiro entre Chelsea e United em 2008. A equipe londrina, por sinal, é atual campeã continental, repetindo os feitos mais recentes de United (1999 e 2008) e Liverpool (2005).

No entanto, poucos meses depois de conquistar um inédito título europeu, o Chelsea fez história às avessas ao cair na fase de grupos. O mesmo destino teve o Manchester City, não apenas o atual campeão inglês como o dono de um dos elencos mais caros do mundo, em que jogadores como Carlitos Tevez, Sergio Aguero, David Silva, Yaya Touré  e, há até pouco tempo, Mario Balotelli, jogam do mesmo lado do campo. E ambos os times foram categoricamente superados pela concorrência na fase de grupos.

‘’Estamos vendo uma diferença de qualidade entre o futebol que está sendo jogado este ano na Inglaterra e no resto da Europa. Em 2013, os clubes ingleses não estão no mesmo nível da concorrência’’, vaticina o irlandês Roy Keane, ex-jogador do Manchester United com diversas partidas de Liga dos Campeões no currículo, incluindo a campanha de 1999.

Os resultados certamente desferem um golpe na soberba inglesa. O sucesso de sua liga, hoje a mais rica, a mais vista ao redor do mundo e a que mais conta com jogadores de seleções internacionais espalhados pelas equipes da primeira divisão, alimentou o ufanismo da mídia e dos torcedores locais, que também não foi desestimulado por desempenhos como as cinco finais consecutivas incluindo um clube inglês entre 2005 e 2009  - mesmo apesar de três delas terem terminado em vice.

Discussões táticas certamente terão a companhia de especialistas apontando para a falta de férias de inverno na Inglaterra e o predomínio de atletas estrangeiros nas equipes como argumentos para o fraco desempenho. E se parece exagerado falar em crise, o quase garantido sumiço precoce dos ingleses na Liga dos Campeões de 2013 certamente acendeu uma luz de alerta.

REAÇÕES APÓS A ELIMINAÇÃO DO MANCHESTER UNITED

  • Independentemente da decisão do árbitro, a melhor equipe perdeu. Não merecemos ganhar, mas o futebol é assim. Estou feliz pela classificação, mas esperava mais do meu time. Não fizemos um bom jogo. Quando o goleiro é o melhor jogando contra dez, é sinal de que não controlamos a partida como deveríamos

    José Mourinho, técnico do Real Madrid

  • Creio que foi a decisão correta. É irrelevante se Nani teve ou não a intenção. É preciso estar atento a todos os jogadores que estão ao seu redor, ou será que ele achava que teria 20 metros só para ele?

    Roy Keane, ex-jogador do Manchester United

  • O técnico não está em condições de falar sobre a decisão do árbitro. Estamos extremamente desapontados. Nosso técnico está perturbado, assim como o vestiário. A decisão que pareceu muito dura, e incrível naquele momento do jogo. Estávamos em uma situação taticamente confortável, mas aquela decisão mudou tudo

    Mike Phelan, assistente de Alex Ferguson

  • Os sentimentos tomaram conta de mim. Mas queria vencer. Fiz meu trabalho. O Real Madrid venceu, e estou contente com minha equipe. Tanto no primeiro jogo quanto no segundo o sentimento foi de querer e não poder. O sentimento desta gente, que te trata tão bem, é muito especial. É minha segunda casa

    Cristiano Ronaldo, ex-Manchester, hoje Real Madrid

REPERCUSSÃO NA IMPRENSA INTERNACIONAL


  • Os jornais da Inglaterra mostraram inconformismo com a expulsão supostamente injusta de Nani. O tradicional The Guardian afirmou que a decisão do árbitro “abriu as portas” para a derrota do Manchester United. O Telegraph escreveu que “um jogo maravilhoso como esse não poderia ser decidido pela incompetência do árbitro”. Já o tabloide The Sun (foto) preferiu destacar o gol de Cristiano Ronaldo, mas não deixou de citar que o português só decidiu o jogo depois da controversa expulsão.


  • Na Espanha, tanto o Marca quanto o As, diários esportivos sediados em Madri, reagiram em tom de euforia à classificação do Real e saudaram o sonho da “Décima”, já que os merengues venceram nove vezes a Liga dos Campeões. O catalão Mundo Deportivo foi mais cauteloso e colocou na manchete que a vitória foi “polêmica”. O conceituado jornal El Pais (foto) preferiu dar ênfase à virada meteórica do time após a expulsão de Nani e destacou o “instante para o futuro” que ajudou o Real a vencer “mesmo sem jogar bem”.

EXPULSÃO DE NANI DIVIDE OPINIÃO DE INTERNAUTAS

  • Kerim Okten/EFE


    Rubens Dias - A expulsão foi justa, o Nani foi com a perna na altura da cintura do outro jogador, futebol é esporte de contato mas precisa ter bom senso, não é luta...

    Reiki Cardoso - Expulsão polêmica? O cara deu uma voadora! Se lance igual a esse não é para cartão vermelho, qual seria então? Um tiro de 38? Fala sério!

    VTenani - O que deu no Ferguson? Fez besteira nível a de 2009 contra o Barça. Deixar o Rooney no banco... Se o United jogou melhor o primeiro tempo sem o Rooney foi sorte, que acabou no erro do arbitro (o mesmo que expulsou o Terry contra o Barça na UCL passada), então o United foi eliminado pelo árbitro e pelo Ferguson.

    dipra - O juiz fez uma verdadeira operação, pois no lance da expulsão do jogador do Manchester, vê-se claramente que o jogador olha exclusivamente para a bola, e o atleta do Real é quem vem de encontro ao pé do jogador do Manchester. Talvez até uma falta poderia ser marcada, mas daí a uma expulsão, eu entendo ser má fé.