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Final da Liga consagra brasileiros sem fama com torcida do país

Felipe Santana (esq.) e o trio do Bayern representam o Brasil na decisão da Champions - REUTERS/Ina Fassbender e AP/Thomas Niedermueller
Felipe Santana (esq.) e o trio do Bayern representam o Brasil na decisão da Champions Imagem: REUTERS/Ina Fassbender e AP/Thomas Niedermueller

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

24/05/2013 06h00

Houve um tempo em que Brasil na final da Liga dos Campeões era quase sempre significado de espaço para os ídolos mais populares do nosso futebol, como Romário, Roberto Carlos, Dida, Lúcio e Kaká. No entanto, a edição 2013, com sua final 100% alemã, consagra jogadores do país que trilharam caminho menos óbvio até o sucesso internacional, sem passagem por times brasileiros de massa.

O Brasil tem quatro representantes na decisão deste sábado entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund, em Londres. Todos eles apresentam desenvolvimentos de carreira semelhantes, com origem em clubes pequenos ou médios do país, além de uma peregrinação por times alternativos da Europa.

Tanto Dante, Luiz Gustavo e Rafinha, do Bayern, quanto Felipe Santana, do Borussia, não passaram pelas forças do circuito Rio-São Paulo-Minas-Rio Grande do Sul. No entanto, celebram a vida no topo através de trajetos prolongados por forças menores.

TRAJETÓRIA DOS FINALISTAS BRASILEIROS

DANTE
Juventude (2002 – 2003)
Lille-FRA (2004 – 2005)
Sporting Charleroi-BEL (2006)
Standard Liege-BEL (2007 – 2008)
Borussia Mönchengladbach-ALE (2009 – 2012)
Bayern de Munique-ALE (2012 - 2013)
LUIZ GUSTAVO
Corinthians Alagoano (2006)
CRB (2007)
Hoffenheim-ALE (2007 - 2010)
Bayern de Munique-ALE (2011 - 2013)
RAFINHA
Coritiba (2003 -2005)
Genoa-ITA 1893 (2010 - 2011)
Schalke 04-ALE (2005 - 2010)
Bayern de Munique-ALE (2010 - 2013)
FELIPE SANTANA
Figueirense (2006 – 2008)
Borussia Dortmund-ALE (2008 – 2-13)

O baiano Dante (29 anos) começou jogando nas categorias de base de clubes pequenos de seu estado (como o Galícia) e depois conseguiu a chance de atuar como profissional pelo Juventude, em Caxias do Sul. Foi apenas uma pequena etapa gaúcha antes de subir degrau por degrau na Europa, passando por times marginais de Bélgica, França e Alemanha, até finalmente virar titular da zaga do Bayern.

Na última parada antes do Bayern, Dante conseguiu virar um dos destaques defensivos da Bundesliga com a camisa do Borussia Mönchengladbach, força média do país, se tornando um dos jogadores mais cobiçados do futebol alemão. 

"Eu até tentei, fiz testes no Bahia, Vitória e Fluminense. Em todos esses times fui avaliado e gostaram do meu futebol. Só que falavam que não tinha como eu ficar por outros motivos. Até que eu cheguei no Juventude e me deram uma oportunidade. Imagino que vários grandes jogadores perderam a chance de crescer por causa disso. Eu até aconselharia as pessoas que tenham o sonho em não desistir nunca e buscar alternativas e um lugar para poder mostrar o futebol.  Com certeza não precisa jogar nesses clubes do eixo Rio, São Paulo e Minas para se tornar um grande jogador e para ser olhado ate por times de fora, como foi meu caso", declarou Dante à reportagem do UOL Esporte.

O lateral direito Rafinha (27 anos), por sua vez, conseguiu alguma projeção individual ainda antes de partir para a Europa, com uma camisa de destaque como a do Coritiba, além de vivência em seleções de base. Mas também precisou percorrer anos em forças médias europeias para fazer seu nome emplacar.

"Saí muito cedo do Brasil graças as minhas atuações pelo Coritiba e pela seleção brasileira sub-20, no Mundial. O Coritiba é um grande clube, que sempre revelou grandes talentos para o futebol brasileiro e mundial. Foi uma grande plataforma para mim e fico muito grato por tudo. Não é preciso jogar num clube de Rio ou São Paulo para ter sucesso e conseguir chegar aos objetivos na carreira", afirmou Rafinha, reserva do Bayern.

Felipe Santana (27 anos) saiu do Figueirense depois de ser vice-campeão da Copa do Brasil em 2007. Desde então batalha para ganhar importância no elenco do Borussia. A princípio, com a convivência com o compatriota Dedé, com carreira bem-sucedida em Dortmund.

Apesar de não desfrutar do status de titular, o defensor Santana fez um dos gols mais importantes da campanha do Borussia, na dramática vitória de virada sobre o Málaga nas quartas de final.

Por fim nesta lista, Luiz Gustavo (25 anos) chegou à Alemanha também como um anônimo em seu país, depois de passagens por Corinthians e CRB em Alagoas. Encontrou espaço para mostrar serviço no então emergente Hoffenheim, antes de atrair interesse do gigante de Munique.

Embalados pela boa fase no Bayern, Luiz Gustavo e Dante tiveram chances em amistosos e acabaram relacionados por Luiz Felipe Scolari para a disputa da Copa das Confederações, em junho. Mas a aparição recente no time nacional também ainda não fez a dupla de Munique cair na boca do torcedor [Luiz Gustavo tem três jogos internacionais, contra apenas dois de Dante]. 

O BRASILEIRO-ALEMÃO DA FINAL

Além do quarteto já citado, outro jogador com sangue brasileiro estará em Wembley na decisão deste sábado. Trata-se do meio-campo Leonardo Bittencourt (19 anos), que apesar da cidadania alemã carrega o legado do pai, o ex-jogador Franklin.

Bittencourt nasceu em Leipzig, quando o pai cumpria os anos finais da carreira. No Brasil, Franklin despontou no Fluminense e depois conseguiu notoriedade na melhor fase nacional do Bragantino, vice-campeão nacional de 1991.

Mesmo após a aposentadoria de Franklin, a família seguiu na Alemanha. Assim Bittencourt acabou se desenvolvendo como jogador nas categorias de base do Energie Cottbus até ser garimpado pelo técnico Jürgen Klopp, do Dortmund. O jovem foi contratado em negociação de 3 milhões de euros. 

Hoje Leonardo Bittencourt ainda é figura coadjuvante no elenco do finalista da Liga dos Campeões, na batalha por espaço. Por outro lado já acumula experiência como jogador das seleções alemãs de base.