Topo

Diante de plateia mais hostil, Neymar testa seu show na Liga dos Campeões

Fernando Duarte

Do UOL , em Londres (ING)

18/02/2014 06h00

Neymar. Dive (mergulho, em inglês).

Bastam essas duas palavras e a ferramenta de busca apresenta resultados em texto, foto e vídeo reforçando o que espectadores em partidas de futebol na Inglaterra já tinham expressado ao vivo: a acusação de que Neymar é cai-cai. Alvo de demonstrações de insatisfação vindas da arquibancada em praticamente todas as vezes que se apresentou no país, Neymar voltará nesta terça-feira a enfrentar tal público na partida em que o Barcelona encara o Manchester City, no estádio de Eastlands, pelas oitavas-de-ifnal da Liga dos Campeões da Uefa. O Placar UOL Esporte acompanha o jogo em tempo real a partir das 16h45 (horário de Brasília).

O fato de o resultado mais recente da combinação ‘’Neymar + diver” ainda datar de janeiro deve-se muito mais à ausência prolongada do atacante brasileiro dos gramados – ele se recuperou no mês passado de uma torção no tornozelo esquerdo - do que a algum tipo de arrefecimento por parte dos críticos. Nos últimos meses, críticas motivadas pela percepção de que o atacante dobra os joelhos com muita facilidade se proliferaram na Inglaterra e não vieram apenas de blogueiros, jornalistas ou comentaristas: o português José Mourinho, treinador do Chelsea, atacou o brasileiro publicamente, classificando sua atitude como “uma desgraça”.

Mas Neymar já vinha criando polêmica há bem mais tempo na Inglaterra: em março de 2011, o brasileiro foi vaiado efusivamente no estádio de Wembley, em Londres, durante o amistoso em que a seleção derrotou a Escócia por 2 a 0. Nas Olimpíadas de 2012, a mesma reação marcou partidas em que o público inglês, mesmo neutro, era a maioria nos estádios. Já no amistoso da seleção com a Rússia, em março do ano passado, os apupos vieram até de torcedores brasileiros, descontentes com a má fase pela qual o então atacante do Santos passava.

“Neymar é o Justin Bieber do futebol. Brilhante nos clipes do YouTube, mas ruim ao vivo”, provocou o jogador inglês Joey Barton (na época atuando pelo Olympique de Marselha) com um comentário feito no Twitter durante o empate em 1 a 1 da equipe de Luiz Felipe Scolari diante dos russos. O episódio acabaria por gerar um princípio de crise diplomática entre o Olympique e o Paris Saint-Germain depois de o capitão da seleção e zagueiro do clube da capital francesa, Thiago Silva, tomar as dores de Neymar e também acabar ofendido por Barton.


Desde então, Neymar ratificou seu status como maior estrela do futebol brasileiro na atualidade com sua participação crucial no título da Copa das Confederações.  E seus números gerais no Barcelona estão longe de desastrosos: em 27 partidas, marcou 12 gols e deu 12 assistências, quatro delas na Liga dos Campeões, em que o Barcelona teve que passar por Milan e Ajax na fase de grupos. Depois de um mês parado, ele já brilhou em sua primeira partida: marcou um golaço nos 6 a 0 dos catalães sobre o Rayo Vallecano no último fim de semana.

Mas se na seleção Neymar é quase onipresente, com média acima de 80 minutos por partida no time, no Barcelona ele registra 62 minutos em campo por partida. E ainda é visto como coadjuvante para o show de Messi. Fora do campo, o atacante enfrenta ainda a controvérsia provocada pela diferença nos valores desembolsados e declarados pelo Barcelona em sua contratação junto do Santos em maio do ano passado, que derrubou o presidente do clube catalão, Sandro Rosell. Sem falar na exposição pública do fim do seu namoro com a atriz Bruna Marquezine.

Se tecnicamente a partida desta terça-feira com o City não é a primeira de Neymar em território britânico desde sua transferência para o Barcelona, já que ele teve participação ativa na goleada de 6 a 1 aplicada pelos catalães sobre o Celtic, em dezembro (fez três gols), o confronto com o City é o que se pode chamar de uma ‘’outra liga”: o brasileiro estará diante de um adversário que perdeu apenas uma partida desde outubro e cuja campanha na temporada de 2013/14 já resultou em mais de 100 gols.

Além de bem mais forte que o Celtic como elenco, o City conta ainda com uma “sombra” especial para Neymar: o lateral-direito argentino Pablo Zabaleta, que de acordo com as estatísticas divulgadas pela Premier League é um dos cinco mais eficientes marcadores em atividade na Inglaterra, isso com média de menos de duas faltas por partida. “O Pablo vai grudar no garoto. Ele é competitivo até nos treinos”, conta Fernandinho, representante brasileiro solitário no City e que apesar de já ter voltado aos treinos após uma lesão na coxa, ainda é dúvida para o jogo no Eastlands.

O desafio não é exclusividade de Neymar. Depois de ser massacrado pelo Bayern de Munique nas semifinais da Liga dos Campeões do ano passado, com um placar agregado de 7 a 0, o Barcelona tem um ponto a provar numa temporada em que domesticamente disputa palmo a palmo o título espanhol com o Real Madrid e o ressurgente Atlético de Madri. Sobreviver a uma disputa com o City e seu elenco turbinado pelos petrodólares dos Emirados Árabes é considerado um passo importante na recuperação. Mas o zagueiro Piqué admite que o companheiro brasileiro enfrenta expectativas especiais.

“Neymar é jovem e está cheio de vontade de mostrar seu potencial. Ele quer provar para o mundo que é o jogador certo para o Barcelona. A qualidade dele trouxe muito para o time e ele pode ajudar a tirar um pouco o foco de Lionel (Messi)”, afirmou o zagueiro a jornalistas ingleses nessa segunda-feira.

Só não se sabe quanto tempo Neymar terá para enfrentar o City e a plateia hostil. Na entrevista coletiva desta segunda-feira, o técnico do Barcelona, o argentino Tatá Martino, não confirmou se Neymar sairá jogando ou começará no banco – contra o Rayo Vallecano, por exemplo, ele jogou apenas 29 minutos, entrando no segundo tempo. “Terei que analisar o que vi nos treinos. Por enquanto o mais importante é tê-lo saudável”, disse Martino.