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Mourinho enfrenta o passado em busca de título europeu histórico

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

30/04/2014 06h00

Volta e meia a imagem pipoca em algum documentário sobre futebol europeu: eufórico com um gol tardio do Porto que eliminava o Manchester United  da Liga dos Campeões de 2004 em pleno Old Trafford, um então apenas secundário José Mourinho dava um pique alucinado pela lateral do campo para comemorar uma zebra que seguiria cavalgando até levantar o troféu numa final inusitada contra o Monaco. Das declarações do treinador após  a vitória contra os ingleses, poucas chamaram mais atenção que uma comparação de orçamentos.

Dez anos depois, Mourinho se vê em papel inverso: nesta quarta-feira, seu Chelsea, um dos 10 times mais ricos do mundo, entra em campo em Londres em busca de soluções para lidar com um Atlético de Madri que se transformou numa sensação do futebol europeu. Dono do menor orçamento entre os quatro semifinalistas, o “primo pobre” da capital espanhola tem toda a pinta de uma viagem ao passado para o português, que busca ser o primeiro treinador da história a vencer a Liga dos Campeões com três clubes diferentes – levou também a Inter de Milão ao título em 2010.O jogo começa às 15h45 (horário de Brasília) e terá acompanhamento em Tempo Real pelo Placar UOL Esporte.

Assim como o Porto de Mourinho em 2004, o Atlético é um Davi temperamental que mistura excelência tática com catimba. Teve seu “momento Old Trafford” nas quartas-de-final ao eliminar o Barcelona de Messi e Neymar. Contra o Chelsea, porém, o Atlético esbarrou num adversário que a exemplo da equipe espanhola tem no contra-ataque seu “plano A”, o que ficou evidente na rodada mais recente do Campeonato Inglês, quando o Chelsea se fechou para nocautear o Liverpool fora de casa.

Em vez de reclamar da vida, porém, o argentino Diego Simeone, treinador do Atlético, preferiu reconhecer o mérito do “approach” de Mourinho. “Respeito o fato de que no futebol você precisar ter versatilidade para armar sua equipe da melhor maneira de acordo com o adversário que tem pela frente. Defender bem não é fácil e saúdo os treinadores que fazem isso bem”, afirmou Simeone em sua entrevista coletiva nesta terça-feira.

O argentino poderia ter apertado a própria mão, já que seu Atlético é equipe menos vazada na Espanha e na Europa. Com mais duas vitórias na Liga Espanhola, a equipe conquistará seu primeiro título nacional em 18 anos com o luxo de transformar o clássico com o Barcelona numa partida de entrega das faixas. Um estrago em Stamford Bridge valerá um final dos sonhos com o Real Madrid. O zero a zero em Madrid na semana passadacolocou o Chelsea numa posição mais vulnerável por causa da regra que valoriza os gols fora de casa. O Atlético só precisa de um para forçar os ingleses a fazerem dois.

Mourinho, apesar do currículo invejável, tem contra si uma sequência de “afogamentos” em semifinais. Foram duas com o Chelsea (2005 e 2007)  e duas com o Real Madrid (2011 e 2012), além de uma contra o Borussia Dortmund no ano passado. Em sua “segunda vinda” no Chelsea, o clube em que, com a ajuda do investimento maciço do bilionário Roman Abramovich, quebrou um jejum de títulos ingleses para o Chelsea de 50 anos em 2005, Mourinho recebe nova chance de redenção continental. “Mas prefiro pensar que estamos numa situação privilegiada. Uma semifinal de Liga dos Campeões é a segunda melhor coisa depois da final, então precisamos curtir nossa caminhada. Vamos ser se conseguimos ir juntos à Lisboa na final, porque eu certamente passarei por lá em breve”, brincou o treinador, referindo-se às férias em seu país de origem.