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Na Liga, pegar pênaltis sendo zagueiro rende R$ 300 mil e nome em estádio

Do UOL, em São Paulo

28/08/2014 06h00

Cosmim Moti é um zagueiro de 29 anos que joga no pequeno e desconhecido Ludogorets, da Bulgária. Na última quarta-feira, ele jogava talvez a partida mais importante da sua vida e de seu clube: o mata-mata final valendo vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões. Em sua cabeça, ele deveria pensar que a vitória e a vaga eram o máximo possível a ser alcançado. Mal sabia ele que, após 119 minutos de tempo normal e prorrogação, sua vida mudaria - em termos de dinheiro e, claro, fama.

Naquele momento, com o Ludogorets batendo o Steaua Bucareste por 1 a 0, o jogo estava indo aos pênaltis e a vaga na principal competição de clubes da Europa seria decidida nas cobranças. Moti, possivelmente, já pensava em como bateria quando Stoyanov, o goleiro do time búlgaro, foi expulso. O time já havia feito as três substituições e ele se ofereceu para virar o goleiro. Pegou a camisa 91, de Cvorovic, o goleiro reserva, colocou luvas nas mãos e se dirigiu para a trave que teria que defender. Ali, ficou só por um minuto. Na trave do outro lado é que ele faria história.

A partida realmente foi para os pênaltis. O Ludogorets foi para o momento mais importante de sua história com um zagueiro como goleiro. Surpreendentemente feliz, como o próprio Moti revelaria depois da partida: "Aconteceu em poucos segundos, fiquei feliz que deixaram eu virar goleiro".

Antes, porém, de ter que pensar em defender, ele mesmo abriu a série de cobranças. Bateu colocado, com classe, deslocando o goleiro rival. E então começou o que se tornou o roteiro perfeito: o time búlgaro perdeu a segunda cobrança, com o brasileiro Wanderson, mas Moti produziu uma das mais belas defesas possíveis em pênaltis ao pegar chute alto de Pirvulescu logo em seguida. O primeiro "milagre" estava feito.

A série seguiu empatada até a sétima cobrança. Espinho acertou para o Ludogorets. E no minuto seguinte Moti produziu algo que muitos goleiros jamais conseguiram: pegou o pênalti cobrado por Rapa agarrando a bola, sem espalmá-la, dar rebote. Fato raro. Tão raro quanto um time da Bulgária na Liga dos Campeões. Ambos fatos conseguidos pelo zagueiro. Goleiro. Herói.

"Trabalhamos que nem loucos para isso. Fizemos história", disse ele ainda no gramado. Mas ele, dispensado do Siena, na Itália, por não ser bom taticamente, segundo a imprensa romena, não quer mais ser goleiro: "Não quero mais, nunca mais. Quero continuar sendo zagueiro."

Zagueiro ou goleiro, ele provavelmente verá seu nome batizar um setor do novo estádio que o Ludogorets planeja construir, de acordo com Kiril Domuschiev, dono do clube: “Moti receberá um bônus. Começamos um novo estádio e um dos setores será batizado com o nome de Moti”, revelou, ainda no calor do momento.

O "bônus" se refere ao dinheiro que ele também garantiu para seu próprio bolso e de todos seus companheiros: 100 mil euros, ou mais de R$ 300 mil. Moti não sabia naquele 119° minuto de jogo, mas vivia, desde então, talvez o dia mais feliz de seus 29 anos.