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Marcelo pode não ser unanimidade, mas já tem espaço entre as lendas do Real

Do UOL, em São Paulo

04/11/2014 06h00

Marcelo já foi chamado de “irresponsável”, “esquentadinho”, “irresponsável” e brigou com dois treinadores diferentes da seleção brasileira. Não é, e nem nunca foi, uma unanimidade, mas ainda assim merece respeito. Quinto jogador estrangeiro que mais vestiu a camisa do Real Madrid, o brasileiro pode, depois de sete anos, reclamar seu lugar entre as lendas do clube espanhol, que nesta terça enfrenta o Liverpool pela Liga dos Campeões.

No último fim de semana, contra o Granada, Marcelo completou 283 jogos com a camisa do Real Madrid, um a mais que o mexicano Hugo Sánchez, ídolo do clube nos anos 1980. Hoje, só está atrás de quatro jogadores: o alemão Uli Stielike (308), do uruguaio José Emilio Santamaria (337), do argentino Alfredo di Stéfano (396) e do brasileiro Roberto Carlos (527).

Marcelo tem mais partidas pelo Real Madrid que ícones como Ferenc Puskas, o húngaro que mudou a forma de jogar futebol nos anos 1950. É, hoje, o terceiro capitão do time mais poderoso do mundo, atrás da Iker Casillas e Sergio Ramos na hierarquia da braçadeira. E tudo isso com “apenas” 26 anos de idade.

“É um orgulho fazer parte dessa equipe dessa equipe. Estamos fazendo um grande trabalho. Eu estou bem, tenho a confiança dos meus companheiros, do treinador e isso me dá mais vontade de ajudar a equipe”, disse Marcelo na última segunda.

Ainda assim, a muitos parecerá estranho chamar Marcelo de lenda, embora não se possa negar que ele está entre elas, ao menos em número de jogos. Só que a trajetória errática do lateral talvez impeça um julgamento mais abonador, ainda que não falte quem o defenda.

Roberto Carlos, por exemplo, não cansa de apontá-lo como seu substituto, tanto na seleção como no Real Madrid. Os dois jogaram juntos durante seis meses, assim que Marcelo chegou à Espanha em 2007, tempo suficiente para que se aproximassem.

Maradona, que nunca teve proximidade com o lateral, não precisou disso para elogiá-lo. Em 2011, no auge da rivalidade entre Real e Barcelona, o argentino disse que Marcelo era o terceiro melhor do mundo, atrás apenas de Cristiano Ronaldo e Messi.

Para os treinadores da seleção, sempre foi difícil dizer sequer se ele era o melhor da posição. Marcelo foi descartado por Dunga no caminho para a Copa de 2010 e por Mano Menezes até a Copa América de 2011. Pesaram, para ambos, casos de indisciplina. Para chegar à Copa no Brasil, o lateral teve de se reinventar, como parte do grupo, e apostar no espírito agregador de Felipão.

O treinador gaúcho esqueceu o histórico de lesões, os destemperos em campo e os atritos com a imprensa. Marcelo tem, como mostrou o UOL Esporte durante a Copa, um tipo de humor peculiar. Tanto no Real quanto na seleção, é apontado como um dos mais engraçados. Diante das câmeras, porém, se retrai e torna-se irônico, incomodado com o mise en scene que o futebol exige atualmente.

Também pesa contra Marcelo, especialmente na Europa, a postura tática do lateral, muito mais dado a atacar do que se costuma esperar de um lateral. O ímpeto ofensivo, inclusive, o manteve distante do time titular do Real Madrid por alguns anos, até a chegada de José Mourinho ao clube.

“Marcelo não era um bom jogador na parte defensiva. Analisei todos os gols que o Real Madrid sofreu no ano passado. Em alguns, Marcelo aparecia na tela. Trabalhamos nesse aspecto. Agora ele é um lateral completo”, disse o técnico português em 2010, meses após conhecer o brasileiro, com a segurança que lhe é comum.

Esse casamento, curiosamente, não terminou bem, com Mourinho às turras com Marcelo e dividido entre ele e o compatriota Fábio Coentrão. Entrar em colisão com o técnico, porém, não foi uma exclusividade do brasileiro. O lateral ficou no clube e conquistou seu espaço.

Hoje, é visto por Carlo Ancelotti como uma arma de primeira e um ótimo parceiro de Cristiano Ronaldo pelo lado esquerdo, embora ainda desperte alguns calafrios na defesa. Na última temporada, ele foi fundamental na conquista da décima Liga dos Campeões do Real, com direito a gol na decisão contra o Atlético.

Com experiência, respaldo e talento, porém, ninguém pode dizer que o recorde de Roberto Carlos é imbatível. Com alguma sorte, Marcelo ainda pode conquistar a unanimidade no caminho.