Topo

Liga dos Campeões faz surgir novo Fàbregas. Só falta vencer

IAN KINGTON/AFP
Imagem: IAN KINGTON/AFP

Do UOL, em São Paulo

08/01/2015 00h00

Aos 10 anos, Cesc Fàbregas conheceu Lionel Messi. Viraram companheiros em La Masia, as categorias de base do Barcelona, nas quais o pequeno torcedor do clube catalão começava a jogar. Naquela mesma turma de garotos, que depois ficaria conhecida como a turma de 1987,  estavam também o zagueiro Gerard Piqué e o atacante Pedro, espanhóis. O destino, no entanto, separaria o quarteto com uma diferença nada sutil: títulos nacionais, internacionais e, principalmente, da Liga dos Campeões da Europa para três dele, e quase nada para Fàbregas, o mais precoce de todos: nenhum título da Liga, e fracasso em âmbito internacional.

Fàbregas hoje joga no Chelsea do técnico português José Mourinho e é um dos melhores jogadores da atual edição da Liga dos Campeões. Foi talvez o mais importante jogador do time inglês na primeira fase da competição, conquistando 14 pontos em seis jogos. O meia espanhol marcou dois gols e deu três assistências – só o compatriota Koke, do Atlético de Madri, deu mais passes para gols.

A história que conta a separação da turma de 87 e que sela a sina pouco afortunada de Fàbregas na Liga dos Campeões começa em 2003, ano em que o jovem meio-campista decidiu deixar o clube catalão. Acreditando que não teria muitas oportunidades, transferiu-se para o Arsenal, em Londres.

Foi uma sensação. Depois de um ano de adaptação e algumas oportunidades, Fàbregas apareceu como titular absoluto aos 17 anos do time campeão inglês. Sua chegada coincidiria, porém, com o início do fracasso de Wenger à frente do Arsenal. Depois de sua titularidade, não haveria mais títulos do Campeonato Inglês. O requinte de crueldade viria em 2006: Fàbregas, titular, perderia uma final de Liga dos Campeões da Europa para o Barcelona, nos minutos finais da partida em Paris, após gol do brasileiro Belletti.

Fàbregas se manteve no Arsenal até 2011. Aos 21 anos, antes, em 2008, já assumira a braçadeira de capitão deixada pelo francês Thierry Henry. O Arsenal, no entanto, despencava e deixava o espanhol cada vez mais distante das taças – o clube inglês jamais erguei a taça da Liga dos Campeões.

Até 2011, os momentos não tão bons do Arsenal prejudicaram Fàbregas na seleção espanhola. De destaque precoce, passou a ser reserva de quem brilhava justamente no Barcelona: Xavi e Andrés Iniesta. Quando Fàbregas venceu, nunca foi protagonista. Quando foi protagonista, não venceu. Foi quando o meia decidiu voltar a seu clube de origem.

O retorno de Fàbregas ao Barça marcou o reencontro da turma de 87. Gerard Piqué havia seguido o exemplo do amigo e se transferido ao Manchester United em 2004. Conquistara, com o escocês Alex Ferguson, um título da Liga dos Campeões e mais duas taças da competição após voltar ao Barcelona, em 2008. Pedro e Messi, que do Barça nunca saíram, conquistaram as mesmas duas taças da Liga no clube, sob o comando de Pep Guardiola. Quis o destino que nem a volta às origens fizesse com que Fàbregas conquistasse tal título.

No Barcelona, Fàbregas não teve como tirar Xavi e Iniesta do time. Jogou em todas as posições do meio de campo e do ataque, menos na sua função de origem, como meia central. Foi primeiro volante, ponta direita, ponta esquerda e falso 9 – chegou a ser considerado o reserva imediato de Messi quando o argentino teve mais problemas com lesões. Foram três temporadas, todas abaixo do que o meia havia jogado pelo Arsenal.

Atualmente, Fábregas faz aquela que é talvez a melhor temporada de toda sua carreira. Redescobriu-se com José Mourinho no Arsenal após participação pífia na Copa do Mundo de 2014 – foi um dos piores jogadores da seleção espanhola, em um time que teve muitos piores. No Chelsea, como segundo volante, atuando da área de defesa à área de ataque, virou o coração de um time muito bem montado. É um dos melhores do Campeonato Inglês, dos melhores da Liga dos Campeões e voltou a ser o grande protagonista da nova geração da seleção espanhola.

Hoje, no Chelsea, Fàbregas tem a maior chance de conquistar a Liga dos Campeões que já teve na carreira. Joga como nunca, no melhor nível desde que surgiu para o futebol, está num clube que, diferentemente do Arsenal, já superou o trauma de nunca ter conquistado a liga e é comandado por um treinador que já venceu a competição duas vezes, por dois times inferiores: o Porto, em 2004, e a Inter de Milão, em 2010.

Em fevereiro, o Chelsea e Fàbregas enfrentam o Paris Saint-Germain pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Chegam ao duelo como favoritos, mesmo diante da megalomania do clube francês. Oportunidade para Fàbregas vencer como protagonista e começar a reescrever o próprio destino.