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Dispensado pelo Palmeiras tem auge na Europa, mas 'sua' torcendo pelo clube

Caio Carrieri

Do UOL, em Londres

16/01/2015 06h00

“Quatro cartões amarelos, incluindo dois em um jogo, em apenas quatro atuações na Liga dos Campeões sugerem que a reputação de jogador duro de Mauricio se justifica”. Esta descrição do ex-zagueiro do Palmeiras e que hoje está no Sporting, de Lisboa, partiu do Chelsea, na tradicional revista que os clubes ingleses produzem para cada partida da temporada. Os exemplares têm informações do confronto do dia, com direito a dados detalhados sobre a equipe adversária. Jogar em Stamford Bridge no começo de dezembro pelo torneio de maior prestígio no mundo sintetiza a guinada surpreendente que o paulistano de 26 anos conseguiu dar na carreira, após ser dispensado do Palestra Itália e perambular pela Série B.

Naquela gelada noite de Londres, Mauricio não foi advertido pela arbitragem pela primeira vez na temporada de estreia na competição, mas assistiu à vitória de Diego Costa, Fàbregas e Cia. por 3 a 1, o que eliminou os portugueses do campeonato – em fevereiro será a vez de tentar a sorte na Liga Europa, em confronto eliminatório com o Wolfsburg, da Alemanha.

Há cerca de um ano e meio, os compromissos eram muito mais modestos: em vez de atuar nos principais certames europeus, o desafio era disputar a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro pelo Sport em meio a oscilações profissionais. Entre 2010 e 2013, foram cinco clubes: Grêmio, Portuguesa, Vitória, Joinville e o Leão da Ilha.

A vida profissional pareceu desmoronar junto com as chances de título do Palmeiras no Brasileirão de 2009, quando ele trocou socos com Obina no intervalo da derrota por 2 a 0 para o Grêmio em Porto Alegre, a três rodadas do fim do Nacional. Os dois foram expulsos, o Verdão terminou o jogo com nove em campo, acabou o ano apenas em quinto colocado, fora até mesmo da zona de classificação para a Libertadores, e Mauricio nunca mais jogou pelo clube que defendera por 14 anos.

 

“Aquela noite é inesquecível. Eu fui criado e educado no Palmeiras, mas tudo se foi em um dia” relembrou ao UOL Esporte. “Fui ao fundo do poço ao ter que disputar a Série B, mas nunca deixei de pensar grande. Realizei o sonho de poder jogar a Champions e, mesmo triste por não passarmos do nosso grupo, acredito que a minha experiência foi muito boa. Quero manter esse padrão, continuar nesse nível de futebol e depois conseguir voos ainda mais altos na carreira”.

Os Leões de Lisboa pagaram R$ 950 mil aos xarás de Recife pelo beque na janela de transferências da metade de 2013. Com mais de 60 apresentações, Mauricio recebe elogios dos “adeptos” lisboetas pelo desempenho em campo. “Ele é muito bom jogador, praticamente um tanque”, brincou João Paulo, técnico de informática que viajou a Londres para acompanhar seu time de coração. A opinião também é compartilhada por outros fanáticos que estavam em Stamford Bridge na última rodada da primeira fase fase. “Ele é um pouco limitado, mas sabe disso. Até por ter essa consciência, compensa com entrega em campo. Ele é muito raçudo”, analisou Bruno Aires, consultor de sistemas.

“Esse apoio existe porque estou mais experiente e também pela paciência a mais que os torcedores têm na Europa. Sou muito grato aos fanáticos do Sporting. Na temporada passada fizemos um grande campeonato, terminando em segundo, depois de ficarmos em sétimo no ano anterior. Nesse ano alguns jogadores saíram, não comecei a temporada muito bem e agora estou voltando ao normal. Mas sempre que precisei, os torcedores estiveram comigo”, agradece o defensor.

Mesmo em dias redentores do outro lado do Atlântico, Mauricio acompanha o noticiário do Palmeiras como mais um apaixonado pelo clube. Por isso, também sofreu até a última rodada do último Brasileiro, quando finalmente o Alviverde evitou novo rebaixamento ao empatar com o Atlético-PR em 1 a 1 no Allianz Parque e contar com ajuda do Santos, que venceu por 1 a 0 e rebaixou o Vitória, concorrente do Verdão contra a queda.

“Tirei o dia só para assistir a esse jogo. Mesmo com os problemas que tive no clube, não carrego mágoa alguma. Talvez eu estivesse mais ansioso do que alguns torcedores por causa daquela partida decisiva. Estava suando em casa, com a mão gelada, e a minha esposa teve que me acalmar. Quando saiu o gol do Santos eu dei uma desabafada (risos)”, conta, aliviado. “Claro que me considero palmeirense. Meu sangue ainda tem verde”.