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Intocável no Chelsea, Willian diz que pressão no Corinthians era maior

Willian posa na casa em que vive em Londres e comemora bom momento no Chelsea - Caio Carrieri / UOL Esporte
Willian posa na casa em que vive em Londres e comemora bom momento no Chelsea Imagem: Caio Carrieri / UOL Esporte

Caio Carrieri

Do UOL, em Londres (ING)

29/01/2015 06h00

José Mourinho defende que seus times costumam apresentar resultados mais consistentes na segunda temporada consecutiva sob seu comando. O Chelsea de 2014/2015 comprova essa teoria, apesar do vexame do último fim de semana, quando entrou em Stamford Bridge com equipe mista e foi surpreendido com a virada por 4 a 2 do Bradford City, da terceira divisão inglesa, e consequente eliminação na quarta rodada da tradicional Copa da Inglaterra. Na Copa da Liga, no entanto, está na final após eliminar o Liverpool na semi. No Campeonato Inglês, a equipe londrina lidera com cinco pontos de vantagem sobre o atual campeão Manchester City (52 a 47) após 22 partidas. É o melhor início do clube na história da Premier League. E Willian tem sido imprescindível para isso.

O meia de 26 anos só não atuou em quatro das 35 apresentações do Chelsea na temporada, a segunda dele em Londres. Dos 12 brasileiros na elite do futebol inglês, é o mais intocável. Da legião brasuca no clube, supera em número de atuações até Oscar (28), há dois anos e meio no Chelsea. Filipe Luis (21) e Ramires (20) vêm atrás. No ranking geral do plantel, só é superado pelo craque belga Eden Hazard (33) e pelo sérvio Matic (32).

Os concorrentes sentem na pele a predileção de Mourinho por Willian. No primeiro semestre do ex-corintiano no Chelsea, o espanhol Juan Mata viu seu espaço no time diminuir antes de ser vendido para o Manchester United, em janeiro de 2014. Um ano depois, o campeão do mundo Schürrle é preterido pela comissão técnica e pode trocar o Chelsea pelo Wolfsburg (ALE). "É o homem que escolhe, eu não tenho nada a ver com isso", brinca o camisa 22, que acumula 73 partidas e sete gols na equipe.

No próximo sábado, Willian deixará a voz pausada e serena de lado por um importante passo em busca de seu primeiro título pelo Chelsea. O compromisso será às 17h30, em casa, contra o Manchester City, e uma vitória pode abrir para oito pontos a diferença sobre o segundo colocado. Antes disso, ele conversou com o UOL Esporte:

UOL Esporte: Esse Chelsea é o time mais completo em que você já jogou?
Willian:
Acredito que sim. Sem dúvida é um time repleto de grandes jogadores, com muita qualidade. Joguei no Shakhtar muito tempo, com muita qualidade também, muitos brasileiros, mas em se tratando de Chelsea, um clube grande e disputando a Premier League, é o time mais forte em que já joguei.

UOL Esporte: Você vê a equipe ainda mais forte na sua segunda temporada?
Willian:
O trabalho vem desde o ano passado. O grupo é praticamente o mesmo e tem alguns jogadores novos. Ano passado nós fomos bem, chegamos à semifinal da Champions, e por detalhes não conquistamos a Premier League. Mas neste ano estamos conseguindo fazer o trabalho certinho, tudo aquilo que o Mourinho pede para conquistarmos os títulos.

Willian conduz a bola na primeira etapa. Chelsea pressionou o rival nos 45 min, com 1 a 0 no placar - AFP - AFP
Imagem: AFP

UOL Esporte: Dá para chamar de final antecipada o clássico contra o Manchester City, sábado?
Willian:
Vencendo esse jogo, nós podemos abrir oito pontos de diferença, o que seria um grande passo para ir no caminho do título.

UOL Esporte: No próximo mês o desafio será contra o PSG (FRA), pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Você vai provocar o David Luiz, seu grande amigo dos tempos de escolinha de futebol na infância e ex-companheiro de Chelsea?
Willian:
Vai ser difícil. Ele é um grande amigo meu, e outros também são: Thiago Silva, Maxwell, Lucas, Marquinhos. Mas a partir do momento em que o juiz apita, cada um tem que defender as suas cores. Eu falo com o David quase todos os dias. Já prometi que vou dar um elástico para cima dele igual eu dei na seleção [na vitória por 4 a 0 sobre a Turquia, em um amistoso em Istambul, em novembro]. Ele falou "Eu te mato se você fizer isso!" [risos].

UOL Esporte: Aquele elástico saiu na hora ou você costuma treinar o movimento do drible?
Willian:
No Shakhtar eu já fazia isso e venho mantendo isso nos treinos. Ali, naquele momento, um marcador parou na minha frente, outro se aproximou, então veio na minha cabeça que era momento para o elástico. Acabou dando certo e foi bem legal.

UOL Esporte: Você se inspirou em quem para dar aquele drible?
Willian:
Ronaldinho Gaúcho. Sou muito fã dele. Sempre vejo os vídeos dele na internet e na televisão. Sempre acompanhei para aprender.

UOL Esporte: Ainda sobre o David Luiz, há quem veja uma supervalorização dele. Você acredita que ele vale R$ 167 milhões?
Willian:
Eu acho. Eu conheço o David há muito tempo e falo isso pela qualidade que ele tem. Jogamos juntos na seleção de base, na principal, no Chelsea. Sei da qualidade do David e, sem dúvida nenhuma, ele vale tudo isso. É o melhor zagueiro do mundo, junto com o Thiago Silva. Eles formam a melhor zaga do mundo, mas como o David é meu amigo, ele fica em primeiro [risos].

UOL Esporte: O que mais surpreendeu você no trabalho do Mourinho?
Willian:
Ele é muito inteligente, estuda muito bem o adversário e sabe fazer a leitura do jogo. Gosto da capacidade que ele tem de análise e de fazer o nosso time jogar em cima do erro dos rivais.

UOL Esporte: O que mais te marcou das conversas que vocês tiveram?
Willian:
Ele me falou que qualidade eu tenho de sobra para jogar, mas hoje em dia o jogo não é só com a bola. Tem que dar combate, pressionar o zagueiro, ajudar a marcar. Aprendi bastante e venho fazendo isso durante os jogos.

27.jan.2015 - Willian abre a casa em que vive em Londres e fala sobre bom momento no Chelsea - Caio Carrieri / UOL Esporte - Caio Carrieri / UOL Esporte
Imagem: Caio Carrieri / UOL Esporte

UOL Esporte: Dos estrangeiros do Chelsea, com quem você tem relação mais próxima?
Willian:
Todos são muito legais. O Fàbregas [espanhol] convive e conversa muito com a gente. Mas desde quando eu cheguei, criei mais afinidade com o Ivanovic [sérvio]. Por ele também ter jogado na Rússia e também falar russo, nós conversamos em russo. Não falo perfeitamente, mas dá para entender legal. Então sempre que há um jantar, churrasco ou aniversário, ele está presente com a família dele.

UOL Esporte: E ele já se interessou por algo da cultura brasileira?
Willian:
Às vezes, quando tem um aniversário e toca um samba, ele tenta dançar, mas é difícil [risos]. Ele gosta, se interessa e pergunta.

UOL Esporte: Qual é o tamanho da pressão de jogar no Chelsea?
Willian:
É uma pressão positiva. É um dos maiores clubes do mundo atualmente, muitos jogadores sonham em estar aqui, e eu tenho esse privilégio. Poder jogar aqui eu encaro como uma grande conquista para a minha vida, por poder crescer profissionalmente e como homem.

UOL Esporte: Como que você compara as torcidas dos seus maiores clubes na carreira, Corinthians e Chelsea?
Willian:
Tudo está muito relacionado à cultura dos lugares, né? Depende de cada torcedor. Mais pressão do que no Corinthians não há. Falo dos dois lados, o positivo e o negativo. Quando o time está bem, você está no céu, quando o time não está, a torcida faz muita pressão e todas as coisas que nós sabemos. Aqui a torcida é mais cautelosa, como se você estivesse em um teatro. Eles batem palma quando você faz uma jogada ou dá um carrinho. Acho bem legal.

UOL Esporte: Mas você sente falta do estádio empurrando quando o jogo está mais complicado?
Willian:
É verdade. Às vezes você sente falta daquele incentivo da torcida que chega até a arrepiar. Isso é diferente, mas tem um pouco aqui também. Quando começamos a pressionar, a torcida vai junto com o time.

UOL Esporte: Falando de bastidores, é muito diferente o ambiente do vestiário do Corinthians e do Chelsea?
Willian:
O vestiário do Chelsea é diferente porque tem jogadores de diversos países diferentes, mas no Corinthians a maioria é de brasileiros, o que faz a resenha ser uma só [risos]. Jogando aqui no Chelsea, a resenha é diferente. Uns falam português, outros inglês, francês. Mas o que não muda muito é a energia, que é positiva.

UOL Esporte: Qual hábito você desenvolveu ao morar tanto tempo fora do Brasil?
Willian:
Numa cidade como Londres, não tem como ficar só dentro de casa. E eu gostei bastante desde a primeira vez que fui a um musical aqui em Londres. Então, sempre quando tenho um tempo livre, eu vou, mesmo que seja no mesmo. Já assisti mais de dez vezes a "Thriller", sobre o Michael Jackson.

UOL Esporte: Dá para entender todo o espetáculo ou vai de acordo com o contexto?
Willian:
O do Michael Jackson é mais dança, não precisa entender muito. Nos outros, só não entendo quando eles falam algo muito rápido. Mas gosto de ir mesmo assim, porque aprendo.

27.jan.2015 - Ambulantes de Londres vendem camisetas alusivas ao Chelsea e transformam trio ofensivo formado por Wililan, Hazard e Oscar em "The Who" - Caio Carrieri / UOL Esporte - Caio Carrieri / UOL Esporte
Imagem: Caio Carrieri / UOL Esporte

UOL Esporte: E por que especificamente do Michael Jackson?
Willian:
Porque eu curto muito dança, e não vai ter ninguém igual ao Michael Jackson. Eu já gostava antes dele, mas não tinha acompanhado nada sobre ele tão de perto. Quando eu vi, se os caras da peça dançam daquele jeito, imagine como ele não dançava.

UOL Esporte: Quantas perguntas você já respondeu sobre o 7 a 1?
Willian: Muitas, né? Até hoje tem pessoas que perguntam o que aconteceu. A resposta é sempre a mesma: não tem como voltar atrás. Isso já é passado. Claro que todos nós ficamos chateados - torcedores e jogadores -, mas não podemos ficar com isso na cabeça, senão não conseguimos evoluir e crescer. Tem que esquecer para manter a batalha.

UOL Esporte: Você tem a percepção de que terá de falar sobre isso até o fim da vida?
Willian:
Sim, como foi o Brasil na Copa de 1950, quando perdeu no Maracanã com frango do goleiro Barbosa. Você acha que ele também não teve que responder à pergunta até o fim da vida dele? Sem dúvida nós também vamos ter que fazer.

UOL Esporte: Quando o Felipão te chamou para entrar no jogo, com 7 a 0 no placar, no que você pensou?
Willian:
É difícil. Independentemente da situação, sou profissional, tenho que entrar e fazer a nossa parte. Claro que é difícil entrar num resultado como esse. Se estivesse vencendo, o sentimento seria de alegria. E naquele momento de tristeza eu tinha de estar junto também. Tenho que defender as cores da seleção até o final.

UOL Esporte: Você esperava ser titular naquele jogo?
Willian:
Esperava sair jogando naquela partida porque eu estava confiante, mas não foi a opção do professor Felipão. Ele teve a escolha dele, e nós temos de respeitar.

08. jul. 2014 - Willian se ajoelha no gramado ao final da partida em que a Alemanha garantiu vaga na final da Copa, depois de vencer o Brasil por 7 a 1 no Mineirão - REUTERS/David Gray - REUTERS/David Gray
Imagem: REUTERS/David Gray

UOL Esporte: Sentiu-se frustrado por ter sido titular só contra a Holanda, na disputa do terceiro lugar?
Willian:
Não frustrado, mas eu sinto que poderia ter tido mais oportunidades. Entrei no final do jogo contra o México, entrei na prorrogação contra o Chile, no final do jogo contra a Alemanha e depois saí jogando contra a Holanda. Quando nós não estamos jogando, sentimos a falta de ritmo. Ficou nítido contra a Holanda que nos primeiros 20 minutos eu senti um cansaço por estar sem ritmo.

UOL Esporte: E qual o tamanho da decepção de ter perdido um pênalti contra o Chile?
Willian:
Eu estava bem confiante. Quando acabou o segundo tempo da prorrogação, eles começaram a perguntar quem iria bater o pênalti, e eu disse que queria bater, que eles poderiam colocar meu nome. Eu fui tranquilo para a bola. Mas momentos antes de cobrar, eu olho o goleiro, vejo que ele se mexe, mas eu pego mal na bola. Faz parte, muitos jogadores já perderam pênaltis em Copas.

UOL Esporte: Você foi titular em todos os seis jogos da segunda era Dunga. É o seu momento na seleção?
Willian:
É a hora de eu me firmar, como eu venho fazendo. Não me acomodo nunca, jamais penso que sou titular absoluto. A partir do momento que eu pensar assim, vão tomar a minha posição. Sempre vou para a seleção com a vontade como se fosse a minha primeira convocação.

UOL Esporte: O que você vê de melhor na seleção do Dunga em relação à do Felipão?
Willian:
Cada treinador tem o seu jeito de trabalho. Claro que os treinamentos do Dunga são diferentes do Felipão, que sempre gostava de dar coletivo e de vez em quando dava algo diferente. O Dunga faz mais treinos de aproximação, finalização, então ele procura mesclar bastante. Os treinos dele são muito bons. Nós, jogadores, estamos gostando muito.

UOL Esporte: Pela sua rodagem internacional, os treinos do Dunga são mais modernos?
Willian:
A filosofia do Dunga é atual, com treinos modernos, aqueles que o jogador gosta de fazer: posse de bola, joguinho curto, superioridade numérica de atletas. Isso é o que o jogador gosta de fazer.