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Paciência e "mágica" são as armas do 2º brasileiro mais badalado da Europa

P. Coutinho após o golaço contra o City; meia está em alta depois de anos de espera - Reuters / Carl Recine
P. Coutinho após o golaço contra o City; meia está em alta depois de anos de espera Imagem: Reuters / Carl Recine

Do UOL, em São Paulo

05/03/2015 06h00

Philippe Coutinho decidiu três jogos do Liverpool com golaços, um deles contra o Manchester City. Deu duas assistências e participou de outras tantas jogadas de gol de um time que se recupera a olhos vistos na Inglaterra. Ganhou um contrato novo e elogios de todas as partes. Hoje, não tem nenhum brasileiro que se aproxime tanto de Neymar quanto o ex-vascaíno, que para chegar lá precisou aliar paciência à sua “mágica”.

Coutinho tem só 22 anos. No último fim de semana, participou do primeiro gol e marcou o segundo, em um lindo chute, na importante vitória contra o Manchester City. Dois dias depois, a tradicional revista FourFourTwo analisou a carreira do meia brasileira, destacando a precocidade dele.

Roberto Baggio, aos 22, tinha cerca de cem partidas no currículo, boa parte delas em clubes menores. Nedved, na mesma idade, só tinha seis gols na carreira. Coutinho tem mais de 200 partidas espalhadas em passagens por Vasco, Inter de Milão, Espanyol e Liverpool – em três das maiores ligas da Europa, portanto. As comparações dos ingleses exaltam a paciência que ajudou o brasileiro até aqui.

A trajetória
Jovem prodígio, ele assinou com a Inter de Milão quando tinha 16 anos. Ficou no Vasco até completar 18, sem mostrar à torcida ser a joia que aparentava. Uma vez na Itália, demorou a adaptar-se a um time em reformulação e sofreu com a falta de confiança. Emprestado ao Espanyol, começou a desabrochar e despertou o interesse do Liverpool, que pagou cerca de 8 milhões de libras por ele no começo de 2013.

Quando era de se imaginar que ele demorasse a se adaptar, Coutinho brilhou. Se entrosou com Luis Suárez e ajudou a colocar o Liverpool para disputar um título inglês pela primeira vez em muitos anos. Foi chamado de “pequeno mágico” por Gerrard e caiu nas graças da torcida, que levou bandeiras brasileiras a Anfield. Havia a esperança de que ele assumisse o papel de estrela quando o uruguaio foi vendido. Mais uma vez, ele exigiu paciência.

No começo da atual temporada, Philippe Coutinho lembrou a todos de que ainda está em formação. Prejudicado pela falta de entrosamento com os companheiros, caiu muito de produção e ressaltou falhas que sempre estiveram em seu jogo. A maior delas era a finalização.

“Tem muitas coisas em que posso melhorar. Eu estou trabalhando para melhorar meu chute a gol porque entendo que faz parte do meu papel. Eu espero fazer melhor do que isso. Sempre que possível eu fico depois dos treinos trabalhando minha finalização”, disse Philippe Coutinho no começo do ano.

Só que meia temporada já havia se passado. Uma falha de marcação em um jogo contra o Manchester United fez Jaime Carragher, ídolo do Liverpool e hoje comentarista de TV, chamá-lo de “preguiçoso e fraco”. Curiosamente, uma visão diferente da que têm aqueles que o acompanham no dia a dia.

“Philippe é um jogador brasileiro e, como acontece com a maioria dos brasileiros, ele tem uma mágica especial em seus pés. À parte a mágica que ele tem, ele também tem um alto índice de trabalho que nos faz duvidar se ele é um típico brasileiro ou um jogador europeu”, disse Mauricio Pochettino, que treinou Coutinho no Espanyol e hoje comanda o Tottenham, à SkySports.

Coutinho credita o esforço às lições que aprendeu na Europa. Na Itália, foi ensinado desde cedo que precisa participar mais do jogo. Nada a ver com a visão do 10 clássico, que resolve jogos andando. O “Pequeno Mágico” corre, marca, dribla e está aprendendo a chutar. Mas se ele faz tudo isso, por que foi tão mal no último semestre a ponto de ser criticado tão duramente por Carragher?

A reação em 2015
Em primeiro lugar, a idade. Coutinho ainda está desenvolvendo todas as habilidades. Em segundo, o esquema do Liverpool. Brendan Rodgers mudou o sistema para deixar o brasileiro livre na esquerda de um trio de ataque. O novo posicionamento e uma boa fase colocaram o meia em outro patamar.

“Ele se juntou a nós por 8 milhões de libras. É assustador pensar o quanto que ele pode valer hoje. É um prazer vê-lo atuar e agora ele começou a fazer gols. Ele é um garoto que tem muito pela frente. Ele tem 22 e as pessoas esquecem que ele chegou aqui com 19. Ele é um jogador sensacional”, disse Brendan Rodgers, técnico de Coutinho.

Parceiro de Neymar desde os tempos de base da seleção, ele ouviu o amigo dizer que ele pode ser o melhor da Liga Inglesa em breve. Outros companheiros de time, técnicos, rivais e jornalistas vão pelo mesmo caminho. Seu próximo passo pode ser a seleção brasileira.

Coutinho foi chamado por Mano Menezes quando ainda era só uma promessa, mas não mostrou o suficiente para se firmar. No ano passado, voltou a ser convocado com Dunga, mas ainda tem menos espaço que Oscar e Willian, bem mais rodados.

No começo de 2015, porém, ninguém está jogando como ele. Nesta quinta, ele deve ser lembrado de novo para os amistosos contra França e Chile, no fim do mês. É bom que se lembre, no entanto, que para que a mágica funcione é preciso ter paciência.