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Jejum contra ingleses desafia Neymar em Barcelona x Manchester City

Com roupa militar e hashtag #Guerra, Neymar mostra importância da semana no Barça - Reprodução / Instagram
Com roupa militar e hashtag #Guerra, Neymar mostra importância da semana no Barça Imagem: Reprodução / Instagram

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona (Espanha)

18/03/2015 06h00

Neymar publicou uma foto emblemática na rede social Instagram na última terça-feira (17). O atacante do Barcelona usa roupas com estampas militares na imagem e bate continência à frente do símbolo do clube catalão. Na legenda, a hashtag #Guerra serve como medida do quanto os próximos dias serão relevantes para ele. A agenda inclui um clássico contra o Real Madrid, no domingo (22), que valerá a liderança do Campeonato Espanhol. Antes, porém, o brasileiro terá o Manchester City e um jejum pela frente às 16h45 (horário de Brasília) desta quarta-feira (18), em duelo que definirá o classificado para as quartas de final da Liga dos Campeões da Uefa.

O Manchester City é o único time inglês que Neymar já enfrentou com a camisa do Barcelona. Foram três partidas, todas pelas oitavas de final da Liga dos Campeões da Uefa (dois duelos na edição 2013/2014 e o jogo de ida deste ano). E até aqui, o camisa 11 ainda não balançou as redes contra os britânicos.

Mais do que isso, Neymar foi figura apagada em todos os jogos contra o City. Ele só chegou perto disso na ida das oitavas de final da temporada passada, quando entrou no segundo tempo – o atacante voltava de lesão no tornozelo e não tinha condições físicas de ser titular. Em 16 minutos em campo, o camisa 11 não conseguiu nenhuma finalização perigosa. Contudo, deu um passe para Daniel Alves definir uma vitória por 2 a 0.

Na volta, em Barcelona, Neymar foi titular e esteve em campo por 80 minutos. Finalizou apenas uma vez, participou pouco das ações ofensivas da equipe catalã e não teve qualquer relevância para o triunfo por 2 a 1.

O roteiro praticamente se repetiu no primeiro jogo das oitavas de final deste ano. Neymar foi titular, mas parou na marcação do lateral direito argentino Zabaleta, que nunca foi conhecido pelas virtudes defensivas. Não deu um chute sequer na direção do gol, foi substituído no segundo tempo e chamou mais atenção pela reação: vaiado e chamado de “cai-cai” em toda a partida, o camisa 11 não se conteve e discutiu com um torcedor logo após a alteração.

“É algo estranho. Não diria que é uma constatação, mas de fato o Neymar é um jogador leve, não gosta de contato e sofre com o osposto disso, que é o futebol inglês”, opinou Nick Collins, repórter inglês da emissora “Sky Sports”.

“Seguramente, o Neymar já sabe como atuar no futebol espanhol e consegue se esquivar com maior facilidade do contato. Na Inglaterra, ele ainda não pegou o jeito. Contra os ingleses, o choque mano a mano é realmente mais usual”, concordou Josep Soldado, jornalista da TV espanhola “La Sexta”.

As vaias na Inglaterra, aliás, fazem parte da vida de Neymar. Apesar de ter apenas 23 anos, o atacante já possui uma extensa coleção de problemas com o público britânico.

Esse cenário de animosidade começou a ficar claro numa vitória da seleção brasileira por 2 a 0 sobre a Escócia, no Emirates Stadium, no dia 27 de março de 2011. Neymar ficou no chão depois de uma falta sofrida no primeiro tempo e foi vaiado em praticamente todos os lances posteriores. Fez os dois gols da equipe canarinho (um deles num pênalti que o próprio atacante sofreu).

Com a seleção brasileira, Neymar disputou dez jogos na Inglaterra. O histórico esportivo do atacante no país é positivo (sete vitórias, um empate e duas derrotas), mas isso não foi suficiente para conquistar o público. Em diferentes graus de intensidade, as vaias acompanharam toda a trajetória do jogador em terras britânicas.

Nesta terça-feira, Neymar não terá de encarar apupos da maioria – o jogo de volta será realizado no Camp Nou, em Barcelona, e certamente terá um contingente maior de torcedores catalães. Ainda assim, o brasileiro terá de lidar com a pressão para finalmente brilhar contra a equipe inglesa. “É importante contar com ele para jogos desse porte. Não é possível que um atleta tenha 100% em todas as partidas da temporada, mas não o vejo em um momento ruim”, avaliou Luis Enrique, técnico do time espanhol.

Messi também já teve problemas contra times ingleses
O problema que Neymar vive atualmente lembra algo que já foi enfrentado por Messi. No começo da carreira, o argentino teve de conviver com críticas porque não conseguia brilhar contra equipes inglesas.

Messi disputou dez jogos contra ingleses na Liga dos Campeões da Uefa até fazer um gol. Ele só rompeu o jejum na decisão da temporada 2008/2009, de cabeça, numa vitória do Barcelona por 2 a 0 sobre o Manchester United.

A partir disso, o Messi que enfrenta os ingleses virou o Messi que o mundo já conhecia de outras partidas. O argentino, até então questionado por não brilhar contra os britânicos, fez oito gols nos dez jogos seguintes contra rivais oriundos do país. Dois deles foram na ida das oitavas de final deste ano (podiam ter sido três, mas ele desperdiçou um pênalti).

“Em 2009, antes da decisão da Liga dos Campeões, tínhamos sobre o Messi a mesma discussão que há hoje sobre o Neymar. Havia uma lista grande de jogos, e em todos ele estava sem gols. Lembro que veio toda a mídia inglesa ouriçada, e eles usavam isso como uma constatação de que ele não jogaria. E o que aconteceu? Pequeno daquele jeito, ele fez um gol de cabeça”, recordou o jornalista Graham Hunter, repórter escocês da “BBC”.

Nesta quarta-feira, Messi pode se isolar como o maior artilheiro da história da Liga dos Campeões. Ele e Cristiano Ronaldo têm 75 gols no torneio, mas o português já disputou a partida de volta das oitavas de final.