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Eliminação e estrelas sumidas endossam fama de "pequeno" do City na Europa

Do UOL, em São Paulo

19/03/2015 06h00

Gigante em casa e minúsculo fora. A história recente do Manchester City é uma irônica versão para o ditado: “dinheiro não traz felicidade”. Pelo menos quando o assunto é Liga dos Campeões. A derrota por 1 a 0 e eliminação para o Barcelona nesta quarta-feira é mais uma prova de que, desde que se tornou milionário, o clube tem grandes resultados na Inglaterra e inexpressivos fora dela.

Com muito dinheiro para gastar desde 2008, quando o time foi comprado pelo Abu Dhabi United Group, o City conquistou dois campeonatos ingleses (2011/12 e 2013/14), uma Copa da Inglaterra (2010/11), uma Copa da Liga (2013/14) e uma Supercopa (2012). Todos títulos nacionais.

As taças renderam aos Citizens a fama de grande no país, disputando frente a frente com Chelsea, Arsenal, Liverpool e o rival Manchester United. Só que o mesmo não pode ser dito nas competições continentais. O melhor resultado europeu veio em 2009, quando chegou até as quartas de final da Copa da Uefa, atual Liga Europa. Desde então, o time nunca passou das oitavas da Liga dos Campeões. Além disso, amargou duas eliminações vexatórias na fase de grupos.

Qual seria a explicação para os consecutivos fracassos continentais? Peso da camisa? Azar? Não. A explicação pode estar exatamente nas principais estrelas do City, que nunca foram conhecidas pelo desempenho em jogos decisivos. De todo o elenco, apenas cinco (Yaya Touré, Frank Lampard, Jesus Navas, Willy Caballero e Sergio Agüero) dos 31 jogadores sabem o que é ganhar uma competição internacional.

A situação é tão grave que o clube precisou de uma negociação conturbada para ter Frank Lampard por empréstimo junto ao New York City. A ideia era que o ídolo do Chelsea fosse o homem com mais experiência em jogos decisivos ajudasse a manter a calma nos momentos complicados, mas nem isso resolveu.

Estrelas ou “pipoqueiros”?

Visto como um dos melhores meias da Inglaterra, Yaya Touré é um exemplo de jogador que brilha no país britânico e “some” em campeonatos europeus. Desde que foi contratado, o marfinense marcou 54 gols, apenas seis deles feitos na principal competição de clubes. O caso mais gritante aconteceu na temporada passada, com 20 tentos anotados no Inglês e só um na Liga dos Campeões. O mesmo acontece com as assistências. Em cinco anos nos Citizens, são 33 passes para gols, sendo somente uma “fora de casa”.

Outro exemplo é Sergio Agüero. Herói no título nacional de 2011/12, o argentino fez 84 gols desde que foi contratado, 15 no maior torneio do continente.

A situação na carreira dos astros do City se estende para as seleções. Touré e Agüero nunca conseguiram ajudar de forma significativas suas seleções em grandes torneios. Com uma das seleções mais fortes de seu continente, o marfinense só conseguiu o título da Copa das Nações Africanas agora em 2015, após anos de seca e fracassos, incluindo um amargo vice diante de Zâmbia. O argentino também não brilhou na campanha da Argentina na Copa do Mundo de 2014. Sempre valorizado pelos feitos em clubes, o atacante dos Citizens sofre na equipe nacional e tem seu nome entre os contestados pela torcida.

Se o tema é conquista em seleções, o Manchester City é um celeiro de atletas que nunca conquistaram nada além de títulos nacionais: o capitão Vincent Kompany defende a Bélgica, Pablo Zabaleta acompanha Agüero na seca da Argentina, Edin Dzeko na inexpressiva Bósnia e até mesmo o espanhol David Silva não é ícone na Espanha, campeã do mundo em 2010 e atualmente em crise.

Pouca renovação, muitos gastos

Outros motivos que podem ajudar a entender as quedas do City na Europa são a falta de renovação e os gastos exagerados. De acordo com um levantamento feito pelo diário britânico Daily Mail, os Citizens trocaram apenas dois jogadores no time base entre os anos de 2011 e 2015.

Para exemplificar, o jornal mostrou a equipe que entrou em campo contra o Napoli no empate por 1 a 1 em setembro de 2011. Apenas duas alterações aconteceram em relação aos titulares na derrota por 2 a 1 no primeiro duelo contra o Barcelona nesta temporada: Fernando no lugar de Garath Barry e Martin Demichelis substituindo Joleon Lescott. O resto é exatamente igual: Joe Hart, Pablo Zabaleta, Vincent Kompany, David Silva, Yaya Touré, Samir Nasri, Sergio Agüero e Edin Dzeko.

Pior do que não mudar a base, o City gastou nada menos do que R$ 1,5 bilhão em reforços que não figuram entre os 11 titulares do elenco atual nos últimos quatro anos.

A comparação mais simples é com o próprio Barcelona, que alterou seis peças. A equipe principal de 2011 tinha: Victor Valdés, Daniel Alves, Charles Puyol, Eric Abidal, Xavi, Busquets, Iniesta, Villa, Messi e Pedro. Agora em 2015 conta com: Ter Stegen, Daniel Alves, Javier Mascherano, Gerard Piqué, Jordi Alba; Rakitic, Busquets, Iniesta, Luis Suárez, Messi e Neymar.