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Aprende, Neuer! Conheça o goleirão romeno que pegou 4 pênaltis do Barça

Helmut Duckadam, goleiro do Steaua que defendeu quatro pênaltis do Barcelona - Steaua Bucareste/Divulgação
Helmut Duckadam, goleiro do Steaua que defendeu quatro pênaltis do Barcelona Imagem: Steaua Bucareste/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

12/05/2015 06h00

Nesta terça, às 15h45, o Bayern precisa atacar para virar a semifinal depois de ter levado 3 a 0 na ida. Não levar gols, porém, é fundamental. Para fazer isso, Manuel Neuer poderia tomar uma aula com Helmut Duckadam, um romeno cercado de mistério que parou o Barcelona em 1986, pegando quatro pênaltis na final da Liga dos Campeões, que na época nem tinha esse nome.

Eram tempos bem diferentes no Velho Continente (e um tanto quanto confusos, diga-se). A antiga Copa da Europa era o maior torneio, mas só havia disputa em mata-mata. Com alguma sorte no sorteio, o Steaua Bucareste escapou dos gigantes e foi à final passando por Vejle (Dinamarca), Honved (Hungria), Kuusysi (Finlândia) e Anderlecht (Bélgica).

Para se ter ideia, os romenos escaparam de Bayern, Juventus e Porto, algumas das maiores forças do futebol na época. Na decisão, ao menos, teriam de bater o Barcelona, que na época ainda buscava seu primeiro título continental. A final foi um 0 a 0 sofrido de dois times nada brilhantes, que decidiram o continente nos pênaltis.

Helmut Duckadam, então, brilhou usando uma lógica relativamente simples. E ele mesmo conta o passo a passo:

“Eu sempre tive o sonho de chegar a uma final e ser decisivo. Em Sevilha [palco da partida] eu tinha essa chance. Era tudo comigo. Alexanko foi bater o primeiro pênalti. Eu escolhi pular para a direita, ele chutou ali e consegui salvar”, disse ele sobre a primeira defesa.

“O segundo foi menos simples. Eu tentei pensar como Pedraza. Ele pensaria que como eu peguei o primeiro na direita eu pularia para a esquerda. Então ele bateu na direita e eu consegui pegar de novo”, acrescentou Duckadam sobre a segunda.

“O terceiro, de Pichi Alonso, foi mais simples. Qualquer goleiro estaria tentado a pular para a esquerda depois de pegar dois pênaltis na direita. Ele chutou na direita, eu pulei ali e consegui pegar de novo”, disse o romeno.

“Com o quarto pênalti eu tinha um problema. Eu estava pensando seriamente o que Marcos faria. Se ele copiaria os outros três ou chutaria para a esquerda. Eu decidi mudar e pulei para a esquerda. Ele também e eu peguei”, concluiu Duckadam.

As explicações são de uma rara entrevista do personagem, dada ao site da Uefa. Em minutos, Duckadam virou uma lenda em campo e um mistério fora dele. Quem via o romeno pulando em êxtase depois de transformar o Steaua em campeão europeu não imaginava o que aconteceria meses depois.

Decadência abrupta
Helmut Duckadam tinha levado o Steaua a um feito absolutamente inédito (leia mais sobre a história do clube aqui). Fez uma equipe romena conquistar o continente com uma atuação de cinema e voltou para casa amado pela torcida. Nos três anos seguintes, ele simplesmente sumiu do futebol com uma lesão misteriosa. Sua carreira acabaria oficialmente em 1991, depois de dois anos se arrastando em campo pelo modesto Vagonul Arad, onde mal entrou em campo.

Na época, Duckadam recusou-se a explicar o que ocorreu, o que suscitou uma série de especulações. As mais recorrentes envolviam a ditadura de Nicolae Ceausescu, que comandou a Romênia de 1965 a 1989 sob a influência da União Soviética.

Duckadam teria sido, de acordo com o imaginário popular, uma das vítimas mais famosas do regime. As versões variam em torno do modo da agressão e o motivo, mas todas passam por um suposto entrevero com os filhos de Ceausescu, que na época comandavam o futebol romeno. O goleiro teria causado inveja nos herdeiros e se recusado a doar a eles um carro que ganhou de presente. Por isso, teria levado um tiro no braço que impediu a continuidade da sua carreira.

Anos depois, na mesma entrevista à Uefa, Duckadam conta uma história bem diferente. O ex-goleiro, que na década passada seria presidente do Steaua Bucareste, diz que sentiu uma dormência no braço direito nos meses seguintes à conquista, quando estava de férias com a família no Mar Negro.

A dormência era um sintoma de uma trombose, que o levou a ser submetido a uma operação de emergência em Bucareste. Os médicos disseram ao goleiro que mais tempo teria lhe custado o braço, mas que a carreira como jogador já estava comprometida. Duckadam, então, entendeu que um formigamento que havia sentido antes da final contra o Barcelona já era um indício do problema.

“Eu fui sortudo ali por poder jogar a final. Eu tinha sentido um desconforto no meu braço, mas eu não sabia o que estava errado. Os testes depois mostraram que tinha um coágulo no local e que minha carreira estava acabada. Se eu tivesse reclamado para os médicos antes da final, eu provavelmente não teria jogado”, disse Duckadam à Uefa.