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Xerife dos sonhos: Mascherano bate em campo e é gentleman fora dele

João Henrique Marques e Vanderlei Lima

Do UOL, em Barcelona e em São Paulo

02/06/2015 10h45

Relacionar a personalidade de um jogador em sua vida pessoal com o perfil apresentado em campo pode ser um erro. Principalmente, se o atleta em questão for Javier Mascherano. Se o que faz dentro das quatro linhas fosse ditar como é fora, o argentino dos gritos, caras e bocas, carrinhos e marcação seria associado como um sujeito carrancudo, duro e, possivelmente até mal educado.

Mas o zagueiro do Barcelona está bem longe desse rótulo e tem como uma de suas marcas o contraste de personalidades dentro e fora de campo. O “chefinho”, apelido dado por seu espírito de liderança, é um verdadeiro gentleman fora das quatro linhas. É admirado não só pelos companheiros de time. Fica o tempo que for dando autógrafos e tirando foto com os fãs. Quando ganha ou quando perde, dá a cara a tapa e responde a todos os questionamentos da imprensa. 

Somado ao bom relacionamento com o elenco, ele carrega predicados ideais para um capitão. É explosivo quando quer isolar a bola e ganhar a qualquer custo uma dividida. Mas, quando é para chamar a atenção e dar duras, “Masch” faz com respeito, mesmo que precise de um tom um pouco mais alto. Jamais inibiu um companheiro. Pelo contrário, é sempre respeitado quando orienta. E também por sua postura que chega a ser inspiração para muitos.

“Primeiro a chegar e último a sair. Isso é um bom resumo do Mascherano. A intensidade que aplica nos treinos é brutal, e explica muito o sucesso que tem no clube”, avaliou Xavi, uma das maiores bandeiras da história do clube.
 
Mascherano não carrega a braçadeira oficial (o capitão é Iniesta). Mas não precisa. Quando o treinador Luis Enrique precisa passar um recado ao time nos jogos, o argentino é sempre o primeiro a ser procurado.
 
“Há jogadores que têm um peso importante para a equipe ainda que não levem a faixa de capitão. Mascherano é um desses. Tem uma capacidade de autocrítica e de melhora bestial. Nos adiciona muito em todos os sentidos”, disse o treinador Luis Enrique.
 
Já o argentino adota a humildade quando se autoavalia. “Meu comportamento é o mesmo de todos. Não me sinto líder. Primeiro, que em uma equipe há diferentes líderes, cada um de sua maneira. Desde que cheguei aqui (2010) me fizeram sentir importante. Não pretendo ser mais do que posso, e sim, sempre focando em manter a motivação e dar o melhor ao time”, disse Mascherano nesta terça-feira.
 
Se não tem a braçadeira no Barcelona, a da seleção argentina foi por muito tempo sua. E moralmente, embora o capitão oficial seja Messi, é Mascherano quem ainda exerce a função em campo. É o primeiro a chamar a responsabilidade e puxar os “Hermanos” pra cima. Chegou a causar inveja em muitos torcedores brasileiros na Copa 2014. Enquanto o capitão da seleção canarinho, Thiago Silva, chorava e demonstrava instabilidade emocional, o argentino liderava os arquirrivais com seus gritos e discursos motivacionais.
 
Companheiros antigos e atuais dizem que a dedicação é o grande trunfo do jogador, o que o faz ser respeitado. Todos citam, por exemplo, o empenho do argentino nos treinos e trato respeitoso.
 
“É um cara sempre disposto que gostava muito de treinar. Ele também não entendia tanto o português, mas se esforçou bastante até conseguir se comunicar conosco. Então o que ficou pra mim foi a forma descomunal de dedicação”, disse o volante Rosinei, companheiro de Mascherano no Corinthians em 2005.
 
“Certa vez num treinamento teve até um princípio de confusão envolvendo o Marcelinho Carioca. O o Mascherano deu uma entrada mais dura no Marcelinho e o pessoal achou um pouco estranho, mas é justamente pela maneira dele treinar de maneira forte, então isso é uma coisa que me chama muita atenção, ele também não poupa no treino”, avaliou o zagueiro Betão, também ex-companheiro de Corinthians.
 
Além de querido pelo grupo, Mascherano também tem grande moral com a diretoria do Barcelona. Não à toa teve no ano passado o contrato renovado até 2018 e já tem aumento salarial agendado para a próxima temporada, após um pedido pessoal de compensação de impostos.
 
A boa relação com o compatriota Messi o ajuda a ter grande status no clube. As mulheres dos jogadores são amigas e passeios familiares constantemente são feitos pelos dois. 
 
Outro que também carrega grande apreço por Mascherano é Neymar. Tanto que o brasileiro, como capitão do Brasil, votou no volante como o terceiro melhor jogador do mundo em 2014, somente atrás de Messi e Cristiano Ronaldo.
 
“A Copa do Mundo que ele fez foi fantástica. E a maneira como treina e nos ajuda em campo no Barcelona também me deixou impressionado. Ele é um dos melhores jogadores que já vi do meu lado”, justificou Neymar.