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Dois anos após 2ª divisão em Goiás, atacante vira arma secreta contra Real

Michael Sohn/AP Photo
Imagem: Michael Sohn/AP Photo

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

07/04/2016 06h00

Dieter Hecking, técnico do Wolfsburg, lançou uma cartada inesperada contra o Real Madrid nesta quarta-feira (6). O atacante brasileiro Bruno Henrique, contratado junto ao Goiás na última janela de transferência, jamais havia começado uma partida no futebol alemão desde sua chegada no final de janeiro, mas mostrou personalidade ao ser colocado na fogueira e estrear como titular no clube justamente em uma partida de quartas de final da Liga dos Campeões.

Aberto pela ponta direita, ele infernizou a noite do experiente Marcelo, que levou a pior na maioria dos encontros no mano a mano entre os dois. Veloz e bastante disciplinado, Bruno Henrique desempenhou com excelência as responsabilidades que lhe foram delegadas: dar profundidade pela ala e ajudar seu time na recomposição. Ele foi reconhecido pelo seu treinador após a partida.

"Foi um dos principais jogadores nesta partida. Queríamos surpreender o Real Madrid que a sua escalação e o planejamento funcionou, pois ele jogou muito bem. Não só no ataque, mas também na defesa. Ele foi muito bem contra o Marcelo", disse Hecking.

O atacante coroou a atuação com uma assistência a Arnold para o segundo gol da vitória por 2 a 0, além de ter chegado perto de balançar as redes ele mesmo.

A apresentação de Bruno Henrique surpreendeu aos próprios brasileiros, que o conheciam de apenas uma temporada de destaque no Goiás, no mesmo ano em que o clube esmeraldino acabou rebaixado à Série B. No entanto, as características exibidas por ele nesta semana não são novidade para o ex-goleiro Harlei, responsável por trazer o jogador para Goiânia.

Quando estava prestes a assumir a diretoria de futebol do Goiás, Harlei observava jogadores emprestados pelo clube ao Itumbiara, na segunda divisão do Campeonato Goiano. O objetivo era ver como os três atletas cedidos pelo esmeraldino estavam se desenvolvendo, mas foi Bruno Henrique que lhe chamou a atenção. “Era um atleta desconhecido e eu via muito potencial nele”, contou.

Bruno era, de fato, pouco conhecido dos grandes clubes brasileiros. Além de uma breve passagem pelo Cruzeiro, onde iniciou a carreira e ficou apenas em 2012, o jogador tem no Uberlândia o clube em que passou mais tempo como profissional. De lá foi emprestado ao Itumbiara, onde seu talento foi reconhecido. 

Uma vez empossado, Harlei pediu autorização para trazer Bruno Henrique ao Goiás, que o adquiriu aos 24 anos com a preferência de compra de 60% dos direitos. “No Goiano ele já mostrou uma qualidade muito chamativa e fizemos a opção de comprá-lo. Embora tenhamos sido rebaixados, ele foi um dos grandes destaques do time. Todas as pessoas que vinham ver o Erik acabavam gostando dele [Bruno]”, lembrou.

Olheiros de clubes europeus ficaram impressionados com o velocista de 1,84 m, tirando a atenção de Erik, revelação do Campeonato Brasileiro de 2014 e hoje jogador do Palmeiras. Antes do Wolfsburg chegar com a proposta que resultou na venda de Bruno Henrique, times brasileiros como o Internacional tentaram sua contratação, sem sucesso.

“O Bruno é um jogador da seguinte característica: fez pouco trabalho de base, então ele tem muita dificuldade na finalização, situação que demos muita ênfase. Ele é muito veloz, muito bom de bola aérea, tem uma impulsão vertical espantosa. Um jogador extremamente profissional, praticamente não machuca, é muito competitivo, um rapaz de índole ímpar”, elogiou Harlei, que fez questão de exaltar o senso de grupo e a responsabilidade do atacante.

Foram oito gols com a camiseta do Goiás em 2015, que resultaram na transferência de R$ 20 milhões ao Wolfsburg – o clube goiano tinha desembolsado apenas R$ 200 mil para trazê-lo. Vendido aos 25 anos, ele deixou o Brasil sem o status de promessa, mas maduro para atuar nas competições europeias, despontando justamente no confronto com o gigante Real Madrid. Salto enorme para quem, há menos de dois anos, tentava fazer a vida na segunda divisão de um campeonato estadual.