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Dirigente escalado para reerguer a Roma é amigo de Maradona e fã do Brasil

Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi, diretor esportivo da Roma - AP Photo/Andrew Medichini
Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi, diretor esportivo da Roma Imagem: AP Photo/Andrew Medichini

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 04h00

Como jogador, a maior conquista de Monchi foi ganhar de presente um relógio do amigo Diego Maradona quando atuaram juntos pelo Sevilla, no início dos anos 1990. O craque argentino fazia piada com o Rolex falsificado que o goleiro costumava ostentar, e lhe deu um produto original, mas de marca concorrente, que usa até hoje. Com 80 jogos disputados em nove temporadas, ele se aposentou aos 30 anos, quase anônimo, mas ajudando o clube espanhol que o revelou a voltar à primeira divisão nacional.

Foi fora de campo, no entanto, que Ramón Rodríguez Verdejo, espanhol nascido em Cádiz há 49 anos, ganhou notoriedade no futebol europeu, por capitanear uma radical mudança de patamar do Sevilla, baseada em títulos e faro certeiro para jogadores. Do prestigiado jornal inglês "Guardian", ele recebeu um aposto de respeito: o Mago das Contratações. Despertou-se, então, o interesse da Roma, que sob a chancela do novo diretor esportivo já se classificou às semifinais da Liga dos Campeões, nesta terça-feira (10), após uma virada heroica diante do Barcelona.

A revolução no Sevilla

Em 2000, rebaixado novamente à Série B e endividado, o Sevilla convocou o ex-goleiro para se reorganizar como instituição. Como diretor, Monchi transformou o clube em referência no mercado de transferências, apostando em jogadores jovens, promissores e baratos para os padrões praticados no continente, descobertos graças a uma rede de olheiros montada ao redor do mundo. O outro pilar da revolução foram as categorias de base, também reestruturadas.

Fluente em quatro idiomas (espanhol, francês, inglês e italiano), o ex-goleiro assiste a dez partidas de futebol por semana, pelo menos, sempre de olho em futuras aquisições. Mais de 20 estatísticos compõem a equipe de observação de Monchi, e atualizam com dados uma lista com 250 nomes de potenciais jogadores.

Fã do futebol brasileiro, Monchi veio ao país para observar jogadores que virariam ídolos do Sevilla - como o lateral-direito Daniel Alves, o volante Renato, o meia Julio Baptista e o atacante Luis Fabiano. Em 17 anos de trabalho, o Sevilla conquistou nove títulos, com direito a levantar cinco vezes a Liga Europa.

No período, foram 151 jogadores contratados, com boa parte deles gerando um lucro estimado de 200 milhões de euros (R$ 834 milhões na cotação atual) aos cofres da instituição. Entre eles, nomes como o meia croata Ivan Rakitic, hoje titular do Barcelona, e o atacante colombiano Carlos Bacca, atualmente no Villarreal. A trajetória do dirigente virou até livro, "O Método Monchi", escrito pelo jornalista espanhol Daniel Pinilla.

Sevilla Liga Europa - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
O Sevilla de Monchi com o troféu da Liga Europa em 2016
Imagem: Paul Ellis/AFP

Novo desafio na Roma

Na capital italiana, o desafio se repete. Monchi encontrou a Roma com finanças deficitárias e sob risco de ser punido pela política de fair play financeiro da Uefa. A situação econômica o forçou a vender o principal destaque do elenco: o atacante egípcio Salah, contratado pelo Liverpool por 42 milhões de euros (R$ 175,1 milhões), que acabou se transformando na maior barganha da janela de transferências pela grande fase vivida pelo clube inglês - são 39 gols marcados nesta temporada.

"Salah foi vendido antes de o efeito Neymar revolucionar o mercado [contratado pelo PSG por 222 milhões de euros]. Tínhamos a necessidade de negociá-lo antes de 30 de junho. Qualquer um que entenda um pouco desse negócio sabe como é ter uma espada apontada para o pescoço. Então, levando em conta essas duas condições, acho que fizemos uma venda bem grande", explicou o espanhol, em entrevista concedida a jornalistas europeus em março, na Itália.

O valor recebido por Salah, no entanto, equivaleu a quase metade do que a Roma gastou para se reforçar nesta temporada. O principal investimento no mercado da bola segue a "fórmula Sevilla": o lateral-direito holandês Rick Karsdorp, de 22 anos, revelação do Feyenoord, que custou 14 milhões de euros (R$ 58,3 milhões).

No primeiro ano da gestão Monchi, a Roma desembolsou 93,3 milhões de euros (cerca de R$ 389 milhões) em reforços, mas recebeu, com negociações e jogadores cedidos por empréstimo, por volta de 149,7 milhões de euros (R$ 624,2 milhões). O superávit é de 56,4 milhões de euros (R$ 235,1 milhões).

"O Monchi tem visão diferenciada. Ele consegue fazer ótimas contratações com poucos recursos. Ele vê potencial em jogadores que possuem qualidade, mas muitas vezes estão desacreditados em outros clubes. O jogador chega sem criar muita expectativa, e depois de um tempo dá retorno dentro de campo e numa possível venda. Ele cansou de fazer isso pelo Sevilla e tenho certeza de que fará também pela Roma", disse ao UOL Esporte o atacante Luís Fabiano, que defendeu o Sevilla entre 2005 e 2011, e escolhido pelo então diretor, a pedido do jornal "Marca", como uma das 11 melhores contratações de sua passagem pelo clube.

Após eliminar o Barcelona na Liga dos Campeões, a lembrança ao histórico do diretor esportivo foi recorrente nas redes sociais, com muitos atribuindo a metodologia vencedora de trabalho de Monchi como um dos trunfos da Roma nos mata-matas. "A chave foi o futebol. Não foi questão de acreditar. A Roma foi superior no futebol. No nível tático, físico e técnico, fomos superiores ao Barcelona", decretou Monchi após o jogo desta terça, repassando o mérito aos jogadores.

E ainda sobrou tempo, diante de tanta comoção pela vitória italiana, para evocar o passado e emanar bons pensamentos ao Sevilla, que visitará o Bayern de Munique nesta quarta-feira (11) e precisará de um triunfo por dois gols de diferença para também chegar às semifinais da Champions. "É questão de acreditar. Toda a sorte do mundo", escreveu o dirigente no Twitter.