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Salah consolida protagonismo inédito na Liga dos Campeões na era CR7-Messi

Salah: dois gols e duas assistências contra a Roma - REUTERS/Phil Noble
Salah: dois gols e duas assistências contra a Roma Imagem: REUTERS/Phil Noble

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

25/04/2018 04h00

Nas últimas dez temporadas, período em que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi dominaram (e ainda dominam) o futebol europeu, demonstrar qualidades para quebrar essa hegemonia virou um atrevimento, uma ousadia. Jogadores de renome, como Iniesta, Xavi Hernandéz e Neymar, não passaram ilesos aos papéis de coadjuvantes quando comparados à dupla que monopoliza os prêmios de melhor do mundo e a artilharia da Liga dos Campeões desde 2008.

Coube ao Liverpool, uma das gratas surpresas deste ano, apresentar um concorrente de peso: Mohamed Salah, autor de dois gols e duas assistências na vitória dos ingleses por 5 a 2 sobre a Roma, nesta terça-feira (24). Vivendo temporada magistral, o atacante egípcio já exibe números melhores do que outros "rivais" da dupla CR7-Messi na Champions League e se credencia a romper, cedo ou tarde, uma era no continente europeu.

Com pelo menos mais um jogo a disputar, Salah tem dez gols nesta Liga dos Campeões, empatado com Messi (já eliminado) e cinco atrás de Ronaldo (que jogará nesta quarta, contra o Bayern). No comparativo com os que ficaram em terceiro lugar na eleição da Fifa para o melhor jogador do mundo desde 2008, apenas o brasileiro Neymar, em 2015, com a camisa do Barcelona, registrou artilharia compatível, com os mesmos dez gols.

Quando se juntam as assistências ao confronto dos números, Salah é soberano. São quatro passes, combinando participação em 14 gols do Liverpool nesta Liga dos Campeões, uma a mais do que obteve Neymar em sua última temporada pelo Barça (2016-17).

Exclui-se dessas comparações apenas o período 2013-14, em que o terceiro melhor do mundo na eleição da Fifa foi o goleiro alemão Manuel Neuer. Já em 2009-2010, Xavi e Iniesta entram na lista, pois foi a única temporada desde 2008 em que Ronaldo não ficou no top 3 da Bola de Ouro. Confira a lista:

Gols + assistências na Liga dos Campeões na era CR7-Messi:

2018 - Mohamed Salah (Liverpool): 14 (10+4)
2017 - Neymar (Barcelona): 13 (4+9)
2016 - Griezmann (Atlético de Madrid): 8 (7+1)
2015 - Neymar (Barcelona): 10 (10+0)
2013 - Ribery (Bayern de Munique): 5 (1+4)
2012 - Iniesta (Barcelona): 4 (3+1)
2011 - Xavi (Barcelona): 5 (2+3)
2010 - Iniesta (Barcelona): 1 (0+1)
2010 - Xavi (Barcelona): 4 (1+3)
2009 - Xavi (Barcelona): 9 (2+7)
2008 - Fernando Torres (Liverpool): 6 (6+0)

Domínio além das estatísticas

Salah - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Nesta temporada, o camisa 11 do Liverpool acumula 43 gols em 47 jogos. Isso significa que Salah balança redes adversárias a cada 87 minutos de bola rolando, além de ter 43,7% de participação direta nos gols da equipe, abaixo de Messi pelo Barcelona (44,8%), mas acima de Cristiano Ronaldo pelo Real Madrid (38,6%). 

Com o brasileiro Roberto Firmino e o senegalês Sadio Mané, o egípcio forma um trio ofensivo responsável por 88 dos 128 gols do Liverpool, ou quase 69% dos tentos na temporada.

Eleito no último domingo pela associação de jogadores da Inglaterra o melhor jogador da Premier League, Salah é o atual artilheiro do Campeonato Inglês, com 31 gols, cinco à frente de outro jogador badalado na Europa, o atacante britânico Harry Kane, do Tottenham. 

Mais do que números exuberantes, o jogador de 25 anos encanta em campo. Mostra vigor físico e repertório de gols e jogadas que Messi, aos 30, e CR7, com 33, já não exibem com tanta frequência.

Champions é a vitrine

Salah 2 - Andrew Yates/Reuters - Andrew Yates/Reuters
Imagem: Andrew Yates/Reuters

O ano de 2018 tem Copa do Mundo, por isso surge a pergunta: Mohamed Salah será capaz de romper a soberania de Cristiano Ronaldo e Messi como o melhor do mundo? Superá-los ainda é difícil, mas a trajetória na Liga dos Campeões o coloca com grandes chances de integrar o top 3 da Fifa, ainda mais se o Liverpool chegar à final - ou ao título.

E é justamente a Copa da Rússia que vira empecilho nas pretensões do atacante para se consagrar na elite mundial. Apesar de ter conduzido o Egito a uma vaga no Mundial depois de 28 anos, o torneio de seleções costuma ter muito peso na escolha dos melhores de uma temporada. Os critérios de votação para o prêmio da Fifa também privilegiam os jogadores mais populares globalmente, ou em clubes com maior projeção internacional atualmente. 

Com Salah, a seleção egípcia deverá ser "exército de um homem só", mesmo não integrando um grupo complicado, com Rússia, Arábia Saudita e Uruguai. Sonhar com as oitavas de final não é absurdo, mas esperar algo além seria improvável.

Ou seja: se quiser chegar ao topo da cadeia alimentar, Salah precisa desequilibrar na Liga dos Campeões, algo que, pelo o que tem mostrado nesta temporada, é apenas uma questão de tempo.