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Salah encara dilema para final da Champions: jejuar ou driblar o ramadã?

Religioso, Salah celebra gol do Liverpool nas semis da Champions, contra a Roma - Reuters
Religioso, Salah celebra gol do Liverpool nas semis da Champions, contra a Roma Imagem: Reuters

Arthur Sandes e Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

20/05/2018 04h00

Mohamed Salah é a maior esperança do Liverpool para a decisão da Liga dos Campeões contra o Real Madrid, dia 26 de maio. Torcedores do clube inglês esperam que o egípcio se entregue de corpo e alma para essa final. Mas Mo Salah enfrenta um dilema: será possível extrair o máximo de si com o corpo em jejum?

O astro do Liverpool segue os preceitos do Ramadã. Neste período (de 15 de maio a 14 de junho), existe o costume de fazer o jejum do nascer do sol até o pôr do sol.

A final entre Liverpool x Real Madrid acontecerá às 21h45 do horário local de Kiev (15h45 do horário de Brasília). A previsão é que o pôr do sol em Kiev ocorra às 20h53. Ou seja: Salah passará sem comer durante a manhã e a tarde, além de boa parte da noite.

Do pôr do sol ao apito do árbitro, o atacante terá pouco mais de 50 minutos para se alimentar após longas horas de jejum.

O Liverpool não revela como procederá com a alimentação de Salah e outros dois jogadores ligados a religião muçulmana: Emre Can e Sadio Mané. Salah também evita comentar o tema e já declarou em outras ocasiões que já está acostumado a suportar longo jejum. Do outro lado da final, Benzema também é islâmico.

Religiosos dizem que Salah não poder deixar de jejuar

“Somente quem está doente ou para grávidas que correm algum risco são permitidos deixar de jejuar. Isso não é o caso dele [Salah]. Se ele fizer isso [se alimentar durante o dia], a recompensa [de Deus] não será a mesma”, explicou ao UOL Esporte a Mesquita Brasil, que retransmitiu a resposta dada pelo seu líder, o egípcio Mohammed Barakat.

Coordenador do Centro de Divulgação do Islam para a América Latina, Kamal Chahin Mohamed explica a importância do ramadã.

“O jejum aproxima a gente de Deus pois sacrifica nosso tempo, estômago, e esses dias são como um sacrifício em nome de Deus. Não é um jejum por não ter a comida, mas um sacrifício. É uma prova de servidão. Isso fisicamente, mas espiritualmente também não falamos palavrão, não fazemos fofoca, não é permitido xingar, tudo tem de ser na linha de Deus.”

Salah e Mané (na foto) e Emre Can, do Liverpool, seguem religião muçulmana - Reuters - Reuters
Salah e Mané (na foto) e Emre Can, do Liverpool, seguem religião muçulmana
Imagem: Reuters

“Atletas negociam 'pagar jejum' em outros dias”, diz fisiologista que trabalhou na Arábia

O mundo futebolístico é mais flexível neste assunto. Quem afirma é o fisiologista do Corinthians, Antonio Carlos Fedato, que trabalhou na Arábia de 2007 a 2009.

O profissional relata que dentro de elencos de times árabes é comum nomearem um “capitão”. Essa figura fica responsável por estabelecer contrapartidas em caso de não cumprimento do jejum em dia de jogo importante.

“Na Arábia, alguns deixam de fazer jejum em dia de jogo após conversar com o capitão. Eles se alimentam, e ‘pagam’ dois dias a mais de jejum em outros dias”, conta Fedato, que trabalhou na seleção da Arábia Saudita.

O ex-fisiologista da seleção árabe diz que, no caso de Salah, que poderá comer menos de uma hora do jogo, o melhor a fazer é comer leve.

“Depois que você ingere alimentos, a digestão demora 4 horas no corpo. No caso de um atleta que se alimentar 50 minutos antes de um jogo, não é recomendável que ele coma nada pesado. É preferível que o Salah faça alimentação leve após o pôr do sol, optando por carboidrato, cuja absorção é rápida”.

“Lá, é normal depois do pôr do sol as pessoas comerem um prato gigante. Muitos optam por dormir a tarde para acordar somente depois do sol”.

Distância superior a 84km não daria exceção a Salah, diz líder religioso

No ramadã, existe a possibilidade de evitar o jejum para quem estiver a 84km de distância. No caso de Salah, ele estará em distância muito maior. O jogo ocorrerá na Ucrânia. Mas a regra precisa seguir determinadas condições, informa o líder da Mesquita Brasil.

“De fato, pessoas que faziam longas e árduas viagens tinham a permissão de não cumprir o jejum. Eram pessoas que viajavam de camelo, sob sol intenso, e sofriam desidratação. Mas não é o caso dele [Salah], que viajou de avião e não enfrentou dificuldades na viagem. Portanto, também não é permitido”, comunicou Mohammed Barakat.