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"Firmino é tão importante quanto Salah", diz maior artilheiro do Liverpool

Caio Carrieri/Colaboração para o UOL
Imagem: Caio Carrieri/Colaboração para o UOL

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Liverpool (ING)

26/05/2018 04h00

Em mais de 125 anos de Liverpool Football Club, Mohamed Salah só fica atrás de um jogador em quantidade de gols marcados em uma temporada: Ian Rush, o maior artilheiro da história do clube que deixou a sua marca 346 vezes em duas passagens que somam 660 partidas entre as décadas de 80 e 90.

Em 1983/84, os Reds conquistaram a Tríplice Coroa, incluindo o título do torneio equivalente à atual Liga dos Campeões. A consagração saiu nos pênaltis diante da Roma, na capital italiana, após empate em 1 a 1 no tempo normal. O atacante galês foi o goleador do time em todas as competições – 47 gols.

Com apenas três bolas na rede a menos, Salah é o ídolo do momento e a principal esperança ofensiva na final europeia deste sábado, contra o Real Madrid, no estádio Olímpico de Kiev, às 15h45 de Brasília. No entanto, nesta entrevista ao UOL Esporte, concedida em Liverpool uma semana antes da decisão na Ucrânia, Rush faz questão de colocar Roberto Firmino, atual dono da camisa 9, no mesmo patamar do egípcio em termos de importância para o time. A dedicação com e sem a bola é o principal fator citado pela lenda do Liverpool.

Aos 56 anos, ele ainda detalha, com brilhos nos olhos azuis, a idolatria por Pelé.

Semelhanças do time atual com o campeão de 1984
Do que eu mais gosto neste time e que também tínhamos na minha época é o espírito coletivo. O Real Madrid tem melhores jogadores nas qualidades individuais, mas o que Jürgen Klopp criou no vestiário é incrível. O ambiente entre comissão técnica, jogadores e torcida é espetacular. E em 1984 aconteceu algo semelhante e agora pode fazer mais uma vez a diferença.

Com quem do time atual gostaria de formar parceria 
Joguei com (Kenny) Daglish, o melhor de todos, mas entendo as comparações, é algo natural. É só olharmos para o que Mo Salah está fazendo. É absolutamente extraordinário, ainda mais por ser a primeira temporada dele no clube. Luis Suárez e Fernando Torres viveram algo parecido, mas Salah já fez mais. Não só pelos gols, mas pela capacidade criativa também. Se alguém está melhor posicionado, ele passa a bola, sem problemas. E quando aguenta lhe dá assistência, ele corre direto para agradecer. É muita humildade.

Aos 19 anos, ficou fora do jogo do título de 1981 contra o Real, em Paris
Joguei a semifinal contra o Bayern de Munique e viajei com a delegação para a final. Na época eram 16 jogadores por partida, e Bob Paisley relacionou 18. No almoço do dia do jogo, fui avisado que estava fora. Fiquei no banco, mas sem uniforme. Óvio que o Real Madrid é um dos maiores clubes do mundo, e naquela época já tinham uma importância muito grande. Fazer parte daquele grupo campeão foi muito especial.

Ian Rush pelo Liverpool nos anos 90 - Clive Mason/ALLSPORT - Clive Mason/ALLSPORT
Imagem: Clive Mason/ALLSPORT
 O posto de maior artilheiro do clube
Dá muito orgulho alcançar algumas marcas, mas os recordes existem para serem quebrados. Se alguém consegue atingir algo, isso significa que o trabalho foi muito bem feito. Só que talvez eu possa dizer que durante toda a minha vida ninguém marcou tantos gols pelo Liverpool quanto eu. É indescritível atingir isso por um clube tão maravilhoso quanto o Liverpool. E isso aconteceu não só pela lealdade dos velhos tempos, já que defendi o clube por 15 anos. Ter ficado livre de lesões graves foi fundamental. Contei com a sorte.

Quatro gols de Salah na final quebrariam recorde
Se ele conseguir isso, serei o primeiro a parabenizá-lo, contanto que o Liverpool seja campeão (risos). Seria um acontecimento muito especial. Quando fiz 47 gols em um ano, eu entrava em campo sentindo que iria marcar e acredito que Mo esteja vivendo o mesmo.

Admiração por Firmino
Um jogador fantástico, tão importante quanto Salah. O esforço que ele faz para o time é impressionante. A paixão que a torcida tem por ele não é à toa. Quando Coutinho saiu, pensei que Firmino poderia cogitar um caminho semelhante, mas desde então ele tem se dedicado ainda mais. Ainda tem a habilidade característica do brasileiro. O trio de ataque com Salah, Mané e Firmino pode fazer gols em qualquer um. E quando os dois veem a maneira com que o Firmino se empenha, eles sabem que precisam fazer no mínimo igual.

Firmino banco de Gabriel Jesus na seleção
Gabriel é muito habilidoso e vejo a seleção brasileira parecida com o estilo do Real Madrid. Talvez Firmino não precise se dedicar tanto pelo Brasil, porque a qualidade é enorme em todas as posições. Por causa de todo esse talento, vejo o Brasil como um dos favoritos para a Copa. Existe o plano A, o B e o C em condições muito parecidas, assim como a Alemanha.

Compreensão com Coutinho
Fiquei chateado quando ele saiu, mas entendi a decisão. O sonho de qualquer brasileiro é atuar pelo Barcelona ou Real Madrid. Não dá para execrá-lo por isso, porque ele foi fantástico no Liverpool. Se alguém coloca na cabeça um objetivo, tem de segui-lo, e era o sonho dele defender o Barcelona. Em contrapartida, o Liverpool ainda recebeu muito dinheiro e se manteve forte dentro de campo. Se algum dia ele jogar contra o Liverpool, aposto que será muito bem recebido pela torcida.

Idolatria por Pelé
Lembro bem da Copa de 1970. Gostava muito do Jairzinho também, porque ele fez gol em todos jogos da campanha do título. Mas o Pelé tinha algo especial. Sabia cabecear, driblar o goleiro, fazia tudo o que queria. Era mágico. Eu fingia ser o Pelé no quintal de casa nos anos 70. Existe a comparação com o Maradona, contra quem eu joguei. Era outro grande nome, mas o Pelé sempre foi mais completo.

Contato de fã com Rei
Tive o privilégio de encontrá-lo algumas vezes em eventos pelo mundo. Inicialmente fiquei com receio de chegar perto, mas depois apertei a mão dele, tirei foto e pedi um autógrafo. Guardarei comigo para sempre até o resto da vida.

Derrota para o Flamengo por 3 a 0 no Mundial de 1981
Não joguei porque estava machucado, mas para falar a verdade, não levamos a sério. Talvez o Flamengo tenha treinado quatro ou cinco dias para aquele jogo. O nosso elenco só viajou e jogou. Bob Paisley, o nosso treinador, estava mais interessado em voltar o quanto antes do Japão para nos concentrarmos na liga nacional. Essas partidas ganharam mais importância nos últimos tempos, mas não era relevante para o Liverpool na época.