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Você acha que Pierre é guerreiro? Veja como ele superou um drama familiar

Pietra e Moema, filha e mulher do jogador Pierre, do Atlético-MG - Arquivo pessoal/Pierre
Pietra e Moema, filha e mulher do jogador Pierre, do Atlético-MG Imagem: Arquivo pessoal/Pierre

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

23/01/2014 06h00

Pierre voltou aos treinos na segunda-feira, dia 20. Hora de recomeçar, para o volante do Atlético-MG, com metas ambiciosas: ganhar o Mineiro, a Copa do Brasil, o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial, é lógico. “Aprendemos com os erros. Foi muito frustrante perder para o Raja e não poder enfrentar o Bayern. Mas já passou e, se tivermos outra  chance, vamos aproveitar.”

Recomeçar é constante na carreira de Pierre, jogador que tem no posicionamento tático, na disposição, no fôlego e no suor armas mais importantes do que a técnica apurada. Foi assim no Ituano, no Palmeiras, onde foi ídolo da torcida e desprezado por Felipão, e é assim na vida. Em casa, na frágil Pietra, ele tem exemplo e luta e incentivo para não esmorecer nunca. Para recomeçar.

Há cinco anos, Pierre e Moema esperavam por gêmeos- Pierre Jr. e Pietra – que chegaram ao mundo de forma apressada, graças ao prematuro rompimento da bolsa. O garoto viveu 14 horas. A menina nasceu com 520 gramas e passou os cinco primeiros meses de vida na UTI do hospital.

Quando Pietra já tinha um ano, Pierre e Moema perceberam que ela tinha dificuldades de locomoção, não engatinhava como crianças da mesma idade. “Levamos ao médico e a notícia triste é que ela tinha sofrido sequelas por causa de falta de oxigenação do cérebro”, conta o jogador.

A recomendação foi de muita fisioterapia e nenhuma ansiedade sobre o tempo de recuperação. “Então, a gente começou a trabalhar. Ficamos muito unidos e eu passei a admirar ainda mais a minha mulher. Ela é uma guerreira”.

Pietra faz uma hora de fisioterapia três dias por semana. Faz ainda equoterapia – fisioterapia com utilização de cavalo – também por três dias e durante uma hora. “O equoterapia ajuda muito a ter equilíbrio no quadril”, conta Pierre.

Os exercícios não param. Ainda há terapia ocupacional e, de noite, aulas de inglês. E a escola, é lógico. “Ela é uma aluna especial. Além da professora, tem uma profissional que se chama mediadora, sempre ao lado dela, para ajudar na locomoção”.

Não é todo dia que Pietra está disposta a tamanha maratona. Faz manha, diz que não quer ir, mas depois de uma conversa com pai e mãe, aceita deixar a casa e ir em busca de recuperação. Na escola, é aguardada por todos. “Ela socializa com todo mundo, os coleguinhas fazem uma festa enorme quando ela chega. É uma criança muito querida por todos", diz o pai, orgulhoso.

Mas não é só isso. É muito mais, conta Pierre. “Três vezes por ano ela faz uma espécie de intensivão de fisioterapia. Durante um mês, ela faz quatro horas por dia de exercícios. Não é fácil nem para adulto, imagina para crianças. Mas os resultados aparecem”.

No ano passado, Pietra, com auxílio do andador, deu seus primeiros passos. A reação de Pierre foi de chorar. Muito. “Acho que foi um balde. Foi o dia mais emocionante para mim”. 

O pão-duro chorou. Pelo menos, é assim que Moema qualifica o marido. Ele, ri, discorda e diz que é “seguro”. Pelo futuro da família e de Pietra. “Tenho boas condições financeiras e tenho um plano de saúde caro. E, mesmo assim, ele não cobre todas as despesas de Pietra. Então, eu tomo muito cuidado com meus investimentos. Não faço loucuras e nem gasto muito. Tenho imóveis e uma transportadora em São Paulo”.

Lucas Pierre Santos Oliveira tem 32 anos e 199 jogos pelo Palmeiras. Outros 125 pelo Atlético-MG. E muita preocupação com o físico. “Eu me cuido muito, quero estar sempre em alto nível para poder jogar em clubes de ponta. É minha profissão, não é?". Mesmo assim, saiu do Palmeiras de forma inesperada. “Sempre fui titular, mas com o Scolari eu ficava fora até do banco de reservas. Então, o Galo me quis por três meses. Vim, me esforcei e eles me ofereceram um contrato de três anos. O Palmeiras me liberou em troca do Daniel Carvalho. Acho que foi uma troca boa para os quatro envolvidos. Estou tocando a vida aqui, bem feliz”.

Como Daniel Carvalho, com problemas de peso, abandonou o futebol, a torcida do Palmeiras não concorda com a tese de que os quatro lados foram beneficiados. Pierre não comenta. Diz que já esqueceu a frustração recente de não enfrentar o Bayern, imagina o resto. Mas uma simples pergunta mostra como tudo estava planejado para o jogo que não houve.

Pierre, você lamenta não ter podido enfrentar o Ribery, terceiro melhor do mundo? "Seria ótimo, mas minha função não era marcar o Ribery, não. Essa dureza ia ficar com o Marcos Rocha. Para mim, caberia o Muller, o Goetze ou o filho do Mazinho, que acabou jogando. Mas já passou, vamos pensar no futuro, vamos lutar por nova oportunidade de chegar lá."

Em nome de Pietra. E de Rebeca, a filha mais nova.