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Sósia de Ronaldinho larga baladas e vira guru de finalista no Paraná

Celsinho tenta recuperar sua carreira no Londrina e virou até guro dos mais jovens - Pedro A. Rampazzo / Robson Vilela/Divulgação
Celsinho tenta recuperar sua carreira no Londrina e virou até guro dos mais jovens Imagem: Pedro A. Rampazzo / Robson Vilela/Divulgação

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

11/04/2014 06h02

O garoto humilde que sonhava em virar jogador de futebol vê sua vida mudar repentinamente. Recém-saído das categorias de base de um clube grande, recebe uma proposta milionária e irrecusável para jogar na Europa. No velho continente, não resiste às tentações que o dinheiro e a fama proporcionam e acaba jogando no lixo uma carreira tão promissora.

A história comum a jogadores de futebol que tiveram uma ascensão rápida se encaixa perfeitamente para Celsinho. Considerado sósia de Ronaldinho Gaúcho, ele surgiu como uma grande estrela na Portuguesa em meados dos anos 2000. Mas depois se afundou em baladas, noites mal dormidas e em um consumismo descontrolado.

Depois de viver o auge e o ostracismo, hoje, aos 25 anos, o jogador não se envergonha de sua história. Ao contrário. Faz questão de esclarecer todo o seu passado e mostrar que amadureceu. Usa sua experiência para aconselhar os mais jovens e se tornou uma espécie de guru dos colegas no Londrina.

“Eu assumo os meus erros. Encarei, aprendi e não me envergonho. Comecei a ver que eu era um instrumento que poderia ajudar as pessoas. No grupo, sou um dos atletas que mais escutam os problemas. Acrescento, dou opiniões. Eles me pedem muito. Nós temos um acompanhamento psicológico, mas eu falo em todo momento que eu tenho a oportunidade, nas reuniões, nos momentos de motivação, superação. Eu não tive uma pessoa que fizesse isso por mim”, conta.

Casado e com o filho Felipe Gabriel de sete anos, Celsinho diz que está mudado. Se tornou um dos líderes do Londrina e está focado na final do Campeonato Paranaense no próximo domingo. O time tenta o título depois de um empate por 2 a 2 com o Maringá no primeiro jogo. Ele é peça importante depois de fazer dois gols contra o adversário nesta temporada.

“Já tem gente falando que sou amuleto. Tomara que continue assim, mas acabou só o primeiro tempo. Vamos jogar a segunda partida fora, está muito aberto, muito equilibrado. O título é muito importante porque o clube é muito carente. Não estamos jogando só por nós, estamos jogando por milhares”.

O atleta sonha com o título não só pelo Londrina, mas também para reconstruir seus objetivos pessoais depois de desperdiçar muito tempo. Ele surgiu na Portuguesa como uma grande promessa e teve que conviver com as comparações a Ronaldinho Gaúcho.

“Não achava ruim pelo fato de ser comparado ao meu maior ídolo, mas não conseguiram separar a fisionomia do profissional. Eu pedia ‘não esperem o futebol do Ronaldinho’. Mas infelizmente não tinha como controlar o pensamento das pessoas. Era uma responsabilidade muito grande”, disse.

Ainda com 17 anos, em 2006, foi envolvido em uma transação milionária e irrecusável para o Lokomotiv, da Rússia. Ele considera um erro deixar o país tão jovem. 

“Hoje vejo que errei. Fui embora muito cedo, perdi muitas coisas boas que poderia aprender jogando no Brasil. Acabei perdendo um pouco do brilhantismo que o futebol brasileiro tem. Mas na época não teve jeito nem de pensar. Recebi uma proposta de um clube fantástico por um rio de dinheiro que eu não imaginava ganhar nunca, e eu tinha a preocupação de tirar a minha família de uma situação ruim”.

Do Lokomotiv, Celsinho se transferiu para o Sporting de Portugal no ano seguinte. E foi nessa época em que ele acabou se perdendo. Ao lado de sua esposa Carolina, que na época era ainda namorada, ele quis aproveitar a adolescência que havia perdido por conta dos compromissos com o futebol. E não conseguiu resistir à noite europeia. 

“Eu ia para a balada quatro, cinco vezes por semana. Era uma coisa absurda, para quem tinha que acordar cedo, eu não acredito que eu conseguia fazer aquilo. Era tudo novo pra para mim, queria curtir, sair, conhecer as coisas”, disse.

“Nunca faltei a um treino, mas é claro que a intensidade, a força e a maneira de treinar eram bem diferentes do que se eu tivesse dormido, repousado e descansado bem. Ainda mais na Rússia que é um país que o futebol exige muito da força”.

Mas o gosto pela vida noturna não foi o maior problema. Celsinho se afundou em um consumismo exagerado e chegou a ter quatro carros ao mesmo tempo nas marcas Audi, Mercedes, Cadillac, além de uma Toyota Hilux.

“Eu era jovem, precisava daquilo, mas pequei por dar mais valor às coisas extracampo e materiais e deixar de lado a minha profissão. Me deslumbrei. Eu comprava carros, relógios, roupas, eletrônicos, coisas que não havia necessidade. Queria esbanjar, tinha mania de comprar. Era uma coisa absurda”, disse.

A ficha do meia-atacante do Londrina só começou a cair depois do nascimento do filho em 2007. Nessa época, ele já não gozava do mesmo prestígio e foi emprestado ao Estrela da Amadora, de Portugal. Tempos depois, teve propostas para voltar ao Brasil - o Botafogo era o maior interessado, mas não estava em boa forma física e ainda demoraria a ser recuperar. Celsinho voltou para a Portuguesa em 2010 e, desde então, não conseguiu voltar aos tempos áureos.

Agora, ele corre contra o tempo e acredita que o título estadual é o primeiro passo. O futebol europeu não é mais um sonho, mas Celsinho ainda luta para defender um grande time e ser comparado aos principais atletas do país na atualidade.

“O Neymar não dá mais para chegar, teve um crescimento e uma evolução muito rápida. O Ganso também é de extrema importância no São Paulo. Mas se eu tivesse a oportunidade de estar em um grande, eu teria condições de estar lá perto. Nada que eu não possa voltar a ser o Celsinho da Portuguesa”.