Topo

Guerrero foi agredido por torcedores. Saiba detalhes da invasão ao CT

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

02/02/2014 06h00

Um grupo de mais de cem torcedores revoltados invadiu o CT Joaquim Grava e fez o Corinthians viver um dia de pânico neste sábado. Durante mais de três horas, o elenco ficou trancafiado no vestiário com acesso restrito a comida e bebida. Guerrero demorou a entrar na sala com os companheiros e chegou a ser agredido pelos vândalos. Depois de horas de muita pressão e violência, funcionários, jogadores e dirigentes do clube saíram com a sensação de que nunca tinham visto algo parecido com o ocorrido do último sábado. 

A opinião foi repetida por todas as pessoas ouvidas pela reportagem. O elenco, grande alvo do protesto, escapou por pouco de um contato direto com os vândalos. Quando o grupo entrou no CT, pulando muros e cortando as cercas, quase todos os jogadores ainda estavam no vestiário.

As exceções eram os goleiros, que iniciavam o trabalho no último campo do local, que fica próximo ao hotel. Foi para lá que Walter, Danilo Fernandes e Julio Cesar correram quando avistaram os primeiros torcedores. A movimentação fez os vândalos acharem que os jogadores estavam nos quartos.

Irritados e munidos de pedaços de pau, bambus e até facas, eles foram ao hotel, ameaçaram a recepcionista a chegaram a entrar em alguns quartos. Quando viram que tudo estava vazio, eles partiram para o outro prédio, onde ficam as salas da comissão técnica, a academia e o vestiário, que já abrigava os jogadores, cientes da invasão.

Para evitar o conflito, os atletas fizeram uma barricada na porta com os armários. Mano Menezes e o diretor Ronaldo Ximenes ficaram na sala do treinador, onde conversavam quando a confusão começou. Quase todos os potenciais alvos estavam protegidos. A exceção foi Paolo Guerrero, que ainda não tinha entrado no vestiário e encontrou alguns vândalos.

O peruano, que nem estava na mira dos torcedores, foi hostilizado e chegou a ser agredido. Quando os seguranças e policiais livraram o atacante, ele correu para se juntar aos colegas, que conversavam com as pessoas pela porta fechada.

"O Guerrero foi esganado. O jogador que marcou o gol mais importante da história do Corinthians", explicou o presidente do clube, Mario Gobbi à rádio Bandeirantes, horas depois da publicação da reportagem do UOL Esporte. "Não merecíamos isso, foi um retrocesso. A amnésia toma conta do ser humano", completou ele.

O elenco permaneceu no local por mais de três horas, sem acesso a comida ou bebida. Quando a confusão abrandou, funcionários do clube chegaram a passar garrafas de água e isotônicos escondidos para dentro da sala.

Do lado de fora, a confusão só começou a se dissipar quando Ronaldo Ximenes saiu para tentar estabelecer um diálogo. Para isso, pediu que os torcedores montassem uma espécie de comissão. Mesmo em menor número, eles insistiam em falar com o elenco, o que era negado pelo diretor. Foi então que Mano deixou sua sala e foi de encontro ao grupo.

“O Mano se dispôs voluntariamente a recebê-los. Ele até identificou alguns deles de um protesto que ele sofreu em 2008. Contou detalhes de como foi. Falou: ‘Lembram o que eu falei naquela época? Que íamos trabalhar. Agora é a mesma coisa, vocês precisam me deixar trabalhar’. Com isso, eles se sentiram atendidos e se retiraram”, disse Ximenes. 

O saldo, porém, foi duro. Três funcionários tiveram seus celulares roubados, vidros, portas e até a fachada do CT foram depredados e um segurança e uma faxineira do clube ficaram feridos. Joaquim Grava, consultor médico do clube, se assustou, teve uma crise hipertensa e chegou a sofrer um corte no tornozelo ao cair. Em entrevista ao ESPN.com.br, ele relatou um pouco do choque.

O baque psicológico talvez tenha sido ainda pior. A reação inicial dos jogadores foi pedir o adiamento da partida contra a Ponte Preta, deste domingo. A direção do Corinthians, que já tinha pensado na hipótese, consultou o seu próprio departamento jurídico para saber as consequências. Mário Gobbi, presidente do clube, entrou em contato com a FPF (Federação Paulista de Futebol) para fazer uma consulta informal.

No papo com Marco Polo del Nero e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente e vice da entidade, respectivamente, ouviu que compromissos com a TV e os patrocinadores não permitiam a mudança de calendário. O recado foi passado ao elenco. Os jogadores foram liberados da concentração para passarem a noite com as famílias e se apresentarão neste domingo, às 11h, para irem a Campinas.

Segundo o blog do Juca Kfouri, porém, os jogadores ainda não se decidiram sobre o que fazer. Guerrero, especificamente, não estaria disposto a entrar em campo. O Corinthians não deve forçar nenhum atleta a jogar, mas pretende mandar seu time para o gramado de qualquer forma. No entendimento do clube, boicotar a partida traria prejuízos financeiros e políticos. Uma das possíveis consequências é a eliminação da competição, hipótese prevista no regulamento do Paulista.

Se tudo ocorrer da maneira como a direção planeja, no entanto, o elenco estará em Campinas no começo da tarde e em campo às 17h. O confronto contra a Ponte pode ser decisivo para a manutenção, ou não, da crise, já que o time não vence há duas partidas e vem da goleada por 5 a 1 para o Santos.