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Gobbi ataca Palmeiras, ironiza e diz que torcida única tem motivo econômico

Do UOL, em São Paulo

06/02/2015 18h40

Mário Gobbi, presidente do Corinthians, pronunciou-se sobre a polêmica da torcida única no dérbi e atacou quase todos os envolvidos na questão. A artilharia do cartola, a um dia de deixar o cargo, voltou-se para Paulo Nobre, presidente do clube rival. Em sua fala, o mandatário alvinegro atacou e ironizou o Palmeiras, dizendo que o pedido por um Allianz Parque só com torcedores alviverdes tem uma explicação financeira por trás.

"Nas argumentações ele [Paulo Nobre] deixou escapar e eu entendi o por quê da regra. Infelizmente, o estádio dele não foi feita pra receber torcida do visitante. E que para ele por no estádio dele a torcida do visitante, ele perde 12 mil cadeiras. Me disse que esse é um prejuízo com o qual ele não pode arcar. Disse eu a ele que o barato pode sair muito caro", disse Mário Gobbi, que reiterou a postura de que o Corinthians não entrará em campo com torcida única, ao menos no que depender dele.

"Eu estou saindo de presidente, mas quanto ao Mário Gobbi, se não vier a carga de 1,8 mil ingressos, está terminado. O presidente do Corinthians hoje é Mário Gobbi e hoje a posição é essa. Pergunte ao novo presidente", disse o cartola, lembrando que neste sábado o clube elege seu novo mandatário entre Roberto de Andrade, candidato da situação, e Roque Citadini, da oposição.

Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista do cartola:

Telefonemas na quarta-feira
"Pouco antes do jogo do Once Caldas eu recebi uma recomendação enviada pela Federação Paulista, oriunda do MP, segundo a qual o jogo Palmeiras e Corinthians, e nenhum jogo a mais, deveria ter só o público mandante, e que a torcida do Corinthians não teria acesso ao espetáculo. Eu imediatament liguei para o Reinaldo Carneiro Bastos, vice presidente da federação, e ponderei a ele que o que eles estavam tentando fazer, que é coibir a violência, poderia ter um efeito contrário, o de exacerbar a violência. Se o intuito era implantar o jogo de torcida única, isso deveria ser feito de modo diferente. Não é faltando três dias para o clássico, na calada da noite, sorrateiramente, nos bastudores, que se ia mudar um regra centenária.

Nós deveríamos reunir todos os clubes, dirigentes, a cbf, a conmebol até... E aí sim tormar uma decisão. Redigir uma portaria, uma norma, uma lei dizendo o que a maioria dos clubes querem. Aí, que dessem um tempo para que a nova norma fosse assimilada pelo torcedor, pelos meios de comunicação, pelos jogadores. E aí sim passasse à execução da regra. O dr. Reinaldo disse que ia pensar e que no dia seguinte me falaria.

Desliguei e liguei para o Paulo Nobre. Falei que não era daquela forma que se fazia. Se o intuito dele era coibir a violência, ele poderia estar exacerbando. Poderia estar instigando uma rivalidade que hoje é serena. Disse que está transformando Corinthians e Palmeiras em Corinthians e São Paulo: 'Tudo que acalmamos em Corinthians e São Paulo você está fazendo em Corinthians e Palmeiras, porque o problema com o São Paulo começou com ingresso

Nas argumentações ele [Paulo Nobre] deixou escapar e eu entendi o por quê da regra. Infelizmente, o estádio dele não foi feita pra receber torcida do visitante. E que para ele por no estádio dele a torcida do visitante, ele perde 12 mil cadeiras. Me disse que esse é um prejuízo com o qual ele não pode arcar. Disse eu a ele que o barato pode sair muito caro

O erro do Ministério Público
O Ministério Público não é autoridade competente para emitir ordem de "aquela torcida entra, aquela torcida não entra". Ele pode fazer o que fez, recomendar. E uma recomendação a mãe dá para o filho, o amigo dá para outro amigo... Mas o pior de tudo que está na recomendação, dos juristas que assinam ela, esses sábios, é que a recomendação fala em sanção. Fala que se desobecer vai responder por crime de desobediência. Eu acho que quem escreveu isso deve voltar paro Largo São Francisco e estudar o que é crime de desobediência, que é de desobediência de ordem, não de recomendação.

A decisão da FPF
O que está por tras é que o estádio do Palmeiras não comporta visitante. O Paulo Nobre não quer o prejuízo de 12 mil cadeiras sem vender, porque a PM requer o espaço dessas 12 mil cadeiras para isolar o visitante. No começo da noite [de quinta], o presidente da federação, dr. Reinaldo, disse que o MP fez um adendo diante de uma petição minha. Disse que a regra de torcida única vale para esse jogo e para o próximo jogo entre Corinthians e Palmeiras.

Sim, cara pálida, mas não vale para São Paulo e Santos? São Paulo e Palmeiras? Palmeiras e Santos? Como 'facciamo' na Libertadores, dia 18 [clássico entre São Paulo e Corinthians]? Me respondam. Vai ter torcida única, cota de ingressos? O que vai sair dessas cabeças geniais que cuidam do futebol brasileiro?

Então o presidente da federação, que não tem de acatar recomendação de ninguém, deveria ter tido a coragem, e disse a ele isso, de baixar norma e dizer que essa regra vale para todo o Paulista. Ponto. Ninguém ia discutir mais nada. Mas ele não fez. Porque ele não quer problema com São Paulo, Santos, MP e Justiça. Não quer problema com o Palmeiras, que tem 12 mil cadeiras lá. Nós estamos diante desse quadro.

Corinthians e a Gaviões
Quero responder ao dr. Paulo Castilho [procurador do MP]. Ele disse que o Corinthians é refém da Gaviões da Fiel. Eu acho que ele se olhou no espelho, porque quem tem competencia e dever de fiscalizar torcida organizada e autorizar é o MP, e não dirigente de clube. Refém é ele, não nós. Por que ele não fecha as torcidas organizadas se ele acha que tem bandido?

Eu não sou refém de ninguém, Nesses três anos, fiz aquilo que minha consciência mandou fazer, nem por isso deixei de dialogar. Mas o fato de dialogar não quer dizer que somos amigos. Eu recebi durante três anos 5 mil pessoas.

Decepção com Palmeiras e caso Kardec
Fiquei muito triste com o Paulo Nobre. Tive na minha mão o Alan Kardec, mas não o fiz pela lealdade que tive com ele, como no caso do Dudu, em que ele foi muito ético comigo.

Nós fomos tratados como moleques, pelo Palmeiras e pela federação. Só há uma forma de retratação, é dar os ingressos que são de direito do Corinthians. Tivemos uma reuniao do G4 e eu disse que o Corinthians não entra nesse G4 de jeito nenhum. Como eu vou sentar se o time grande X trabalha no Congresso para que o Corinthians tenha a mesma cota de TV que outros times que têm a torcida pequenininha? Isonomia é tratar iguais de forma desigual. Eu digo a vocês, amanhã eu deixo a presidência e não há parceiros, é cada um para sí e Deus para todos. Que se dane o povo, a torcida, a sociedade.