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Gobbi vence disputa, dá entrevista histórica e deixa o Corinthians cantando

Mário Gobbi, presidente do Corinthians, concede entrevista coletiva exaltado no CT do clube - Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Mário Gobbi, presidente do Corinthians, concede entrevista coletiva exaltado no CT do clube Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

Do UOL, em São Paulo

07/02/2015 06h00

Mário Gobbi deixará a presidência do Corinthians neste sábado marcado por conquistas, manchado pela crise financeira e com problemas de saúde. Seu canto do cisne, porém, foi notável. No penúltimo dia no cargo, o cartola encarou a Federação Paulista, atacou os rivais, desabafou e se despediu em grande estilo, garantindo a torcida alvinegra no clássico de domingo contra o Palmeiras, no Allianz Parque.

A vitória é simbólica. Durante a semana, o Ministério público defendeu que o dérbi fosse realizado com torcida única. O Palmeiras gostou da ideia e a FPF (Federação Paulista de Futebol) anuiu. O Corinthians, maior prejudicado da história, foi o único a se posicionar contra a ideia. Também por isso, a sexta-feira de Mário Gobbi começou no dia anterior.

A notícia da decisão da FPF surpreendeu o cartola, que acreditava no bom senso dos outros envolvidos na jogada. Na noite de quinta, reunido com o departamento jurídico, Gobbi comandou a reação judicial do Corinthians. Os advogados alvinegros entraram com um processo às 4h e protocolaram tudo na sexta pela manhã. À tarde, a Justiça jogou a decisão para as mãos da federação, tirando qualquer possibilidade de sanção do MP.

Diante de sinais de que a federação manteria a torcida única, o Corinthians emitiu uma nota oficial ameaçando não entrar no estádio. Gobbi, que estava no Parque São Jorge, rumou para o CT Joaquim Grava para sua última entrevista coletiva como presidente. Ciente de que ficará fora do dia a dia depois da eleição deste sábado, ele atacou todo mundo.

Gobbi se disse traído por Paulo Nobre, ironizou o Palmeiras e anunciou o fim das relações diplomáticas com o arquirrival por entender que tudo foi uma manobra orquestrada. Preocupado com o prejuízo que teria caso tivesse de abrir mão de 12 mil ingressos para receber torcedores visitantes, o cartola alviverde teria articulado tudo para não ter prejuízo.

Como é de seu feitio, o presidente perdeu a calma algumas vezes. Chamou o São Paulo de time da Vila Sônia, exagerou ao dizer que o Corinthians tem a maior torcida do Brasil e chamou de "gênios" os responsáveis pela canetada que deixaria o Allianz Parque sem visitantes. Não satisfeito, questionou diretamente o presidente da FPF.

"Ele deveria ter tido a coragem, e disse a ele isso, de baixar uma norma e dizer que essa regra vale para todo o Paulista. Ponto. Ninguém ia discutir mais nada. Mas ele não fez. Porque ele não quer problema com São Paulo, Santos, MP e Justiça. Não quer problema com o Palmeiras, que tem 12 mil cadeiras [voz irônica]", disse Gobbi.

Quem esteve ao lado dele ao longo da tarde acredita de verdade que ele cogitou dar WO no domingo. Na sua entrevista, o próprio Gobbi explicou que pediu aconselhamento ao departamento jurídico, que avaliou os riscos da decisão. Não foi a primeira vez. Em 2012 e 2013, por motivos diferentes, passou pela cabeça do cartola abandonar a Libertadores e o Paulista, respectivamente.

Só dessa vez, porém, Gobbi subiu o tom da ameaça. A relação com a proximidade do fim do mandato é natural. De saída, o cartola se permitiu ir além do convencional. Em uma hora de um quase monólogo com jornalistas, ao vivo em pelo menos dois canais de TV, o presidente questionou o preparo de seus interlocutores, disse que não se pode confiar em nenhum dirigentes e cantou. Como costuma fazer, cantou bastante.

"Eu não sou besta pra tirar onda de herói, sou vacinado, eu sou cowboy, cowboy fora da lei. Durango Kid só existe no gibi, e quem quiser que fique aqui, entrar pra história é com vocês. Raulzito", cantarolou Gobbi, pausadamente, quando um repórter lhe perguntou se ele estaria disposto a pagar o prejuízo do Palmeiras com a presença dos visitantes, estimado em R$ 1 milhão.

A alegria tinha motivos. Durante a entrevista, o Corinthians recebeu a informação de que a pressão política fez efeito. Depois de anunciar que manteria a decisão da torcida única, a FPF teve de recuar e decidiu vender ingressos para o público alvinegro. No último ato, Gobbi conseguiu uma vitória e tanto.