Corintiano que entregou cogumelos e teve medo do futebol volta a Bragança

O Corinthians visita o Bragantino neste domingo com equipe base reserva, mas ao menos um provável titular. Poupado na última quinta-feira, Felipe deve jogar e reviver os primeiros capítulos de uma inusitada trajetória no futebol profissional. 

Os torcedores corintianos não sabem, mas as viagens de Marcelo Veiga pelo interior paulista renderam três campeões do mundo em 2012. Treinador do Bragantino durante anos, ele achou Paulinho, Romarinho e também Felipe enquanto buscava reforços para seu time nas divisões inferiores de São Paulo. 

O nome do zagueiro, em especial, havia sido pinçado por ele em partidas do União Mogi, de Mogi das Cruzes, pela quarta e última divisão paulista. Veiga, hoje comandante do Guarani, complementou sua análise com um DVD e resolveu apostar em Felipe. Em pouco mais de uma temporada, ele já chegaria ao Corinthians em que, finalmente, conquistou seu espaço em 2015. 

"Ele chegou muito cru", explica Veiga, já que Felipe não havia trabalhado em divisões de base. "Nós jogávamos com linha de três e ele jogava na caça dos atacantes, porque era muito rápido, muito técnico. Eu apertava para que ele desse chutão e ele queria sair jogando. Zagueiro é para destruir. Mas ele sempre muito receptivo, trabalhador e leal", analisa. 

Quem também acreditou em Felipe quando tudo parecia ainda mais improvável foi Semerito Souza, hoje presidente do União Mogi, de Mogi das Cruzes, mas que geria o futebol do clube em 2009. Ele se lembra com detalhes que quando procurava um zagueiro para fechar o time sub-20 que iria disputar o Campeonato Paulista e encontrou sua solução. 

Conhecido na pequena cidade, Felipe só jogava na várzea. Já havia tentado o futebol e estava desiludido. Semerito conta que encontrou o defensor em um torneio industrial, já sem perspectivas. Na ocasião, aos 19 anos, ele trabalhava como entregador de cogumelos no mercado municipal a serviço da loja dos sogros. A missão incluía acordar às 3h40 da manhã para levar champignon, hiritake e similares até as casas de clientes. Até que Semerito mudou a vida de Felipe. 

"Vi uma partida dele pelo time da Valtra, uma fábrica de tratores de Mogi. Gostei do jogo dele, mas a gente sabia que ele ia ter dificuldade porque faltavam alguns fundamentos básicos. Me lembro que o Felipe hesitou um pouco do convite. Eu pedi a vários colegas dele para fazer uma pressão, uma lavagem cerebral. Era a oportunidade de mostrar o talento aos demais clubes", conta.