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7 pontos que fizeram até os perdedores exaltarem Corinthians x Palmeiras

Danilo Lavieri e Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

20/04/2015 06h00

"Parabéns ao Palmeiras e ao Oswaldo. Foi um grande jogo, com alternativas táticas, estratégias das duas equipes. A estratégia de se guardar se perdeu quando tomamos o gol. Tivemos o segundo gol, tivemos a oportunidade do terceiro, e aí o jogo se definia. O Palmeiras cresceu com as substituições, colocando jogadores descansados. O Palmeiras foi efetivo quando estava melhor, e numa bola alçada empatou. Foi um clássico que representou a grandeza dessas duas equipes", falou Tite, técnico do derrotado Corinthians, minutos após a disputa de pênaltis que levou o Palmeiras à final do Paulistão depois de um empate por 2 a 2 no tempo normal na Arena Corinthians. 

A análise de Tite se explica em cada detalhe da partida e, principalmente, em cada escolha feita por ele e pelo oponente Oswaldo de Oliveira, treinador que leva o Palmeiras a sua primeira final - contra o Santos, que venceu o São Paulo - de Paulistão desde 2008.
 
"O Corinthians é uma equipe muito difícil de ser batida, fazer dois gols neles é uma tarefa muito difícil. Tivemos dificuldades capitais que mudaram nossa forma de jogar. Pelo aspecto de motivação e moral, é uma vitória muito importante que vai nos ajudar, em um grande jogo, com muitas alternativas táticas", disse o treinador palmeirense. 
 
Tanto Tite como Oswaldo usaram o mesmo termo: "alternativas táticas". E é sobre esse aspecto que o UOL Esporte elenca uma série de detalhes da partida, no confronto tático entre as duas equipe, para tentar explicar aquilos que os dois treinadores viram, citaram e tanto elogiaram. 
 
1. Esquemas espelhados
 
Tite fez o Corinthians prevalecer e aparecer como o grande time do futebol brasileiro neste início de ano utilizando um esquema tático que esteve presente nas grandes equipes da Europa dos últimos anos, como o Real Madrid, de Carlo Ancelotti, e o Bayern de Munique, de Pep Guardiola: o 4-1-4-1. Mas neste domingo o treinador, que já contava com os desfalques de Paolo Guerrero e Emerson Sheik, poupou do time titular os meias Elias e Renato Augusto, pilares do novo esquema tático que implementou com sucesso. 
 
Elias e Renato Augusto têm sido os dois meias centrais do 4-1-4-1, à frente do primeiro volante Ralf e que atuam em função híbrida, principalmente como meias de criação pelo centro do campo, mas também com responsabilidade de recomposição defensiva. Sem eles, no banco, poupados, Tite escalou Bruno Henrique e Danilo. O primeiro é volante, reforça a marcação no meio de campo, mas não tem o mesmo poder ofensivo de chegada de Elias. O segundo, meia de criação e marcador de gols, joga um pouco mais adiantado e não consegue participar tanto da fase defensiva do jogo como Renato Augusto. Bruno Henrique, então, atuou mais perto de Ralf e Danilo jogou no centro do meio ofensivo, entre os meias abertos - Jadson pela direita e Mendoza pela esquerda - e atrás de Vagner Love: o 4-1-4-1 virou um 4-2-3-1. 
 
O resultado foi um espelho ao esquema tático do Palmeiras de Oswaldo de Oliveira, que joga na formação: Arouca e Gabriel como volantes, uma linha de três jogadores com Robinho, Valdivia e Dudu, e Rafael Marques no ataque. 
 
2. Desfalques para superar
 
Com as duas equipes jogando futebol em esquemas táticos e intensidades parecidos, o que poderia fazer a diferença para um dos lados era a qualidade técnica individual de cada jogador. O Palmeiras tinha o desfalque dos zagueiros titulares, Tobio e Vitor Hugo. Perdeu também Zé Roberto, lesionado, que tem atuado como lateral esquerdo. O Corinthians, porém, não tinha Guerrero (se recuperando de dengue) e Sheik (suspenso), jogadores que mais concluem jogadas para o time de Tite. 
 
3. Bola parada de Tite
 
Desde a passagem anterior pelo Corinthians, Tite trabalha exaustivamente cobranças de bolas paradas no CT Joaquim Grava. Em 2011, ano em que conquistou o Brasileirão, o treinador tinha jogada ensaiada até em cobranças de lateral. E Danilo sempre participava, escorando uma bola para dentro da área adversária. No jogo, teve gol assim e com participação do experiente e decisivo meia: Jadson cobrou falta lateral pela direita e a bola encontrou a cabeça do camisa 20, acostumado a brilhar em clássicos. Antes disso, ainda, a bola parada do Palmeiras também funcionou com o zagueiro Victor Ramos aproveitando sobra de bola que ele mesmo cabeceou e marcando o gol que abriu o placar após cobrança de escanteio. 
 
4. Oswaldo à la Tite
 
O duelo tático ficou ainda mais interessante após o intervalo de jogo. O técnico Oswaldo de Oliveira se viu na necessidade de tirar de campo seu único titular da linha de defesa: o lateral direito Lucas, machucado. Perdendo por 2 a 1 após sofrer belo gol de Mendoza, decidiu improvisar o volante Gabriel como lateral, inserir Cleiton Xavier no time e mudar o esquema. Rafael Marques deixou a área e passou a jogar pelo lado direito do campo, com Dudu pela esquerda e Jorge Valdivia e Cleiton Xavier sozinhos no setor ofensivo. Construiu um 4-2-4 sem ninguém na área adversária, sem um atacante como referência, esquema que Tite e o Corinthians usaram para conquistar a Copa Libertadores em 2012. Naquele time, há três anos, o treinador corintiano armou um setor ofensivo com Jorge Henrique pela direita, Emerson Sheik pela esquerda e Alex e Danilo como meias, sem um jogador fixo na área. Jogaram até a finalíssima no Pacaembu com esse esquema tático. 
 
5. Palmeiras ocupa área corintiana
 
O esquema tático sem referências ofensivas escolhido por Oswaldo após o intervalo fez com que a bola ficasse mais no pé do Palmeiras do que durante o primeiro tempo, mas tirou a bola da área do Corinthians. Aos 25 minutos da segunda etapa, o treinador que se via perdendo por 2 a 1 mudou a equipe com duas substituições: o meia Kelvin entrou no lugar de Wellington, na lateral esquerda, e o jovem atacante Gabriel Jesus substituiu Valdivia. E não foi só isso: Robinho passou à meia direita e Rafael Marques ao centro do campo, como segundo atacante, atrás de Gabriel Jesus. Cleiton Xavier, voltando para buscar o jogo, passou a jogar quase como um segundo volante. 
 
De repente, de um minuto para o outro, o Palmeiras passou a ter dois jogadores na área do Corinthians quando não conseguia ter nenhum. Gabriel Jesus e Rafael Marques passaram a empurrar o adversário e a construir o gol de empate. Cinco minutos após as substituições, Dudu encontrou Rafael Marques livre no segundo pau para cabecear e empatar o jogo, comprovando a eficácia das citadas "alternativas táticas". 
 
6. O versátil Rafael Marques
 
O atacante do Palmeiras não é brilhante tecnicamente. Mas é quem proporciona a Oswaldo de Oliveira fazer tantas trocas táticas durante uma partida sem precisar fazer substituições. Neste jogo, na Arena Corinthians, Rafael Marques começou como centroavante, passou à ponta direita, foi segundo atacante e voltou à direita mais tarde. Três posições em 90 minutos, três alternativas táticas. Logo depois do gol de empate, Rafael voltou ao lado direito do campo e Robinho voltou à função de segundo volante, deixando apenas Gabriel Jesus à frente. 
 
7. Corinthians sem atacante
 
Quando o Palmeiras empatou a partida por 2 a 2, Tite já tinha trocado Vagner Love por Elias e jogava com Danilo como jogador mais avançado, sem um atacante de ofício. Ao ver o jogo empatar, o técnico corintiano poderia ter colocado o reserva Luciano, atacante de ofício, no jogo. Mas preferiu trocar Bruno Henrique por Petros e aumentar a ofensividade no meio de campo. A mudança não surtiu tanto efeito e o Corinthians não conseguiu manter a bola na área adversária, quando conseguiu chegar.