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Iago Maidana agradece Ceni e espera voltar: só meu nome sujou no caso Aidar

Iago Maidana antes do treino do São Bernardo - José Eduardo Martins/UOL
Iago Maidana antes do treino do São Bernardo Imagem: José Eduardo Martins/UOL

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

29/03/2017 04h00

Mesmo sem disputar uma única partida pelo profissional do São Paulo, Iago Maidana escreveu seu nome na história do clube. A polêmica contratação do jogador culminou na renúncia do então presidente tricolor, Carlos Miguel Aidar, em outubro de 2015. Dentro de campo, o zagueiro espera escrever um novo livro com a equipe do Morumbi. Nesta quarta-feira, às 21h45, no Estádio 1º Maio, em São Bernardo, o beque tem a oportunidade de começar um capítulo dessa história ao defender o São Bernardo contra o São Paulo.

"Com certeza [fiquei marcado]. Nunca é bom para um atleta se envolver em polêmica. Ainda mais porque eu não tive nada a ver com isso [negociação]. Foi só o meu nome que foi sujo. Mas procuro dar a volta por cima, buscando fazer o meu melhor para poder voltar lá, me firmar lá e fazer a história que quero no São Paulo", afirmou Iago Maidana, em entrevista ao UOL Esporte.

Para sonhar com esse possível retorno ao Tricolor, o jogador, de 21 anos, pode contar com um apoio de peso. Quando ainda era goleiro, o técnico Rogério Ceni foi quem mais ajudou o zagueiro.

"Tive muito apoio do Rogério Ceni. Quando cheguei, ele era jogador ainda. Estava do nosso lado. Logo quando eu entrei no CT, ele foi o primeiro cara a falar comigo para eu esquecer dessa história e continuar trabalhando. Tanto que até hoje eu me lembro de uma entrevista coletiva em que ele me elogiou, pela minha pessoa e pelo meu trabalho. Isso é uma coisa boa para mim, porque acredito que possa ter uma conversa com ele agora, ou futuramente, para poder integrar o elenco", disse Iago, que faz mais elogios ao comandante tricolor.

"A gente conversava diariamente. Ele via a minha preocupação logo quando eu cheguei, que eu não estava satisfeito com a situação. Então, ele veio e conversou comigo. Foi o cara que mais ajudou. Se ele já era ídolo, virou ainda mais meu ídolo. Fiquei muito mais grato e admirei mais ele por essa atitude de vir conversar comigo", completou Iago.

O zagueiro tem vínculo com o São Bernardo até o fim do Campeonato Paulista. Depois, está livre para voltar ao Morumbi. O jogador está no time do ABC paulista desde novembro de 2016 e teve poucas oportunidades de mostrar serviço.

"Tenho contrato com o São Paulo por mais dois anos. Acredito que eu volte para lá, depois daqui. Se eles não forem me usar, devem tentar outra coisa, um outro empréstimo. Mas estou focado aqui. Se voltar para lá, vou dar o meu melhor para ficar lá", garantiu Iago.

Apesar do contrato e de ter carinho pelo São Paulo, o zagueiro encara com naturalidade a partida desta quarta-feira. O São Bernardo luta para sair da zona da degola e o São Paulo busca a liderança.

"Não é [estranho enfrentar o São Paulo]. Eu sempre defendo o que clube que estou. Hoje, eu defendo o São Bernardo. Se eu entrar na partida, vou dar o meu melhor. Não importa que seja o meu clube. Já aconteceu de eu enfrentar clubes que são do coração ou eu admirava. Vai ser tranquilo e acredito que vai ser um bom jogo", garantiu o jogador.

No São Bernardo, Iago disputou apenas uma partida neste Paulistão. Na ocasião, no empate por 0 a 0 com a Ferroviária, ele atuou improvisado no ataque. "Quando era mais novo, jogava de centroavante. Depois, virei zagueiro. No São Paulo, em algumas ocasiões, o treinador me colocou de atacante quando o time estava perdendo ou empatando e precisava ganhar. Então, eu não me senti mal por ter entrado ali. Quis entrar para ajudar. Se precisar outra vez, estamos aí", avisou Iago.

Mesmo com pouca chance de mostrar serviço, ele recebe os elogios do treinador do São Bernardo, o português Sérgio Vieira. "Ele é um jogador com características interessantes, por isso nós os escolhemos. É um jogador com perfil de zagueiro de time grande, alto e tem bom nível técnico. Mas, fundamentalmente, é um jogador extremamente forte mentalmente, porque foi um atleta que desde o primeiro dia me falou que o principal objetivo dele era evoluir com essa experiência. Independentemente de jogar ou não, o foco dele é a evolução técnica e mental", contou Sérgio.

Amizade

Longe do São Paulo desde o ano passado, Iago ainda mantém contato com os jogadores do Tricolor. Luiz Araújo e Lucão são alguns dos são-paulinos que trocam mensagens com o zagueiro.

"São meus amigos, acima de tudo. Mas é claro que dentro de campo é outra história. Não tem essa de amiguinho. Mas mantenho contato com vários jogadores", disse Iago, que, até mesmo por conta dessa relação, passou informações para os colegas de São Bernardo.

"Conheço a maioria de lá, sei exatamente como cada um joga e trabalha. Então, vou procurar ajudar o treinador e os meus colegas. Vou fazer de tudo para ajudar a livrar o São Bernardo dessa situação", completou o zagueiro, confiante na fuga do rebaixamento.

São Paulo forte

Iago aposta na força do elenco do São Paulo nesta temporada. O jogador acredita que o bom desempenho do Tricolor se deva também ao trabalho do técnico Rogério Ceni.

"Gostei bastante quando ele assumiu, é um cara que estudou para estar lá. Ele merece muito, o São Paulo é bastante qualificado. Mas isso no jogo não quer dizer nada, vamos com tudo para buscar a vitória", disse o jogador, que depois da partida espera conversar com o treinador tricolor.

"Quando eu sai de lá, ele não tinha assumido ainda. Então, eu não conversei com ele. Acredito que vá ter um contato com ele, talvez, no jogo de amanhã (quarta-feira). Agora, é fazer o meu melhor para que ele consiga ver o meu trabalho", disse Iago.

Polêmica

O beque chegou ao São Paulo em setembro de 2015. Na ocasião, a negociação ficou marcada por polêmicas. O defensor estava no Criciúma e fora contratado pela empresa Itaquerão Soccer por R$ 800 mil.

Depois, o atleta foi inscrito por dois dias no Monte Cristo, da terceira divisão do estadual goiano, e teve 60% de seus direitos econômicos vendidos ao São Paulo por R$ 2 milhões.

"Fiquei chateado porque vim de uma seleção, quando cheguei ao São Paulo achei que teria oportunidade, sabia do meu potencial. Claro, acabou me chateando. Mas isso agora não vem ao caso e agora é passar por cima", disse o zagueiro.

Como a participação de investidores nos direitos econômicos de atletas é proibida, o caso foi investigado pela Confederação Brasileira de Futebol e pela procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

"Não tive participação direta. Foram pessoas que a gente confiou, que agora a gente não tem mais contato, e nos colocaram alguma coisa. Eu aceitei o São Paulo porque é um clube grande. E eu queria jogar em um clube grande. Então, aceitei na hora. Não tive mais detalhes da negociação", garantiu Iago, que mudou de empresário depois do caso.

"Hoje em dia não tenho mais aquele grupo que fez tudo isso. Estou com a Think Ball, que é uma empresa que me agradou bastante. A gente está firme para alcançar outros objetivos", disse o jogador.

Pressionado por essa e outras polêmicas, Aidar deixou o cargo em outubro. Já o atleta seguiu no clube com vínculo até 11 de setembro de 2018. "Agora, não vem mais ao caso [a negociação]. Fico mal de falar sobre isso, porque fui vítima, Agora, é seguir trabalho e dar a volta por cima", finalizou Iago.