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Renato Mauricio Prado

Renato Maurício Prado: Categoria do goleiro ao ponta-esquerda

Alexandre Vidal/Flamengo
Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

26/08/2019 04h00

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Quando eu era garoto e ia ao Maracanã com meu pai, cansei-me de vê-lo se exasperar com a mediocridade do Flamengo, nos meados da década de 60, início da de 70. Enquanto isso, o Botafogo desfilava em campo um dos maiores esquadrões da história do nosso futebol (Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César Caju - bicampeão carioca e da Taça Guanabara, então competições distintas, e base da seleção brasileira (juntamente com o Santos de Pelé) que viria a conquistar o tri no México, em 1970. Era o Bi-Bi, como o chamava carinhosamente sua torcida.

Nesses tempos sombrios para os rubro-negros, papai só livrava a cara de um jogador: o atacante argentino Narciso Doval, de fato muito bom de bola e ídolo do clube.

"Meu filho, nos meus tempos, o Flamengo tinha onze Dovais em campo. Agora, é essa desgraça de Fio, Buião, Caldeira, Néviton etc!", lamentava-se, evocando os tempos áureos de Zizinho, Biguá, Bria e Jaime, Valido e tantos outros craques que ajudaram a fazer a história gloriosa da Gávea.

Quis o destino que, anos depois, já como jornalista, eu tivesse a ventura de cobrir, como repórter setorista, um Flamengo ainda melhor do que aquele que o "velho" sonhava com onze Dovais. Refiro-me, obviamente, a Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. A melhor e mais vitoriosa equipe que já envergou o "manto sagrado" (como os torcedores chamam a sua camisa).

"'Velho', esse é um time superior àquele seu de 'onze Dovais'", tive a alegria de lhe dizer, por telefone, lá do outro lado do mundo, após a conquista do título mundial, em 1981, goleando o Liverpool, em Tóquio.

Cheguei a essas reminiscências, depois de ver o golaço de Arrascaeta, de bicicleta, fechando a vitória sobre o Ceará, que levou o Flamengo à liderança do Campeonato Brasileiro. Não, não fiquei louco, nem estou querendo comparar o onze atual àquele fenômeno liderado por Zico.

Mas, uma coisa me parece inegável. Afinal, depois de muito tempo, o rubro-negro volta a ter um time titular formado por onze ótimos jogadores - coisa raríssima no nosso futebol. Senão vejamos: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio (um senhor zagueiro), Pablo Mari e Filipe Luís; Arão (como evoluiu, com Jorge Jesus!), Gerson, Éverton Ribeiro e Arrascaeta; Gabigol e Bruno Henrique. Todos muito bons de bola.

Querem um único paralelo, pós a era de ouro de Zico? O Flamengo campeão da Copa União em 1987: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico (já em final de carreira); Renato Gaúcho; Bebeto e Zinho. Esse também era espetacular - e acho até superior ao time atual.

Mas essa equipe de agora, bem dirigida por Jorge Jesus começa a demonstrar que também pode ir longe. É muito talento junto, principalmente, do meio-campo para frente. Como marcar, durante 90 minutos, um ataque que se aproxima com Gerson, Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Gabigol e Bruno Henrique? Convenhamos, é para levar à loucura, qualquer zaga. Isso não é garantia absoluta de conquistas, seja do Brasileiro, seja da Libertadores. Mas que o potencial do Flamengo de hoje é gigantesco e, mais cedo ou mais tarde, se mantido, dará ótimos resultados, não dá para duvidar.

Absurdo

Atitudes como a que Neymar e Cuellar estão tendo em relação aos seus clubes (que os pagam muito bem e em dia) são inaceitáveis num regime profissional sério. Tanto os dirigentes do Paris Saint Germain quanto os do Flamengo deveriam simplesmente recusar qualquer negociação e obriga-los a cumprir seus contratos. Multando-os pesadamente caso não queiram entrar em campo.

Esse papo absurdo de que "quando o jogador quer sair, não tem jeito" é que leva o futebol ser a esculhambação que é, com os empresários (sim, porque na maioria dos casos, são eles que incentivam as transferências, para embolsarem suas comissões) fazendo o que bem entendem com seus jogadores, em detrimento do interesse dos clubes.

Seria ótimo se clubes como o PSG e o Flamengo, que têm estabilidade financeira, dessem o exemplo e colocassem Neymar e Cuellar em seus devidos lugares.