Itaquerão faz aniversário de 90 dias sem contrato com Odebrecht e sem dinheiro do BNDES
Roberto Pereira de Souza Em São Paulo
Esta terça-feira, dia 30 de agosto, é aniversário do Itaquerão: a obra completa 90 dias, mas ainda não tem contrato assinado entre a construtora Odebrecht e o Corinthians. Nas últimas três semanas, as equipes de negociação aceleraram os encontros na tentativa de eliminar conflitos até esta quarta-feira, como prevê o cronograma. Sem contrato com o clube, a Odebrecht não pode sequer pedir o empréstimo-padrão junto ao BNDES.
Como sangue novo às negociações, o ex-presidente Lula foi escalado para comandar uma espécie de churrasco-piquete, na porta do estádio, no próximo sábado. O churrasco pode ter a força de um piquete em um momento de dificuldade para assinatura de contrato. O presidente do clube, Andrés Sanchez, está tendo uma uma queda de braço para assinar quatro contratos administrativos para financiar e construir o estádio: um documento criará a SPE (sociedade para fins específicos), outro criará o fundo de investimento (de gestão financeira), o terceiro será só com a construtora e o último com o BNDES.
Para evitar confusões em um sábado festivo, pessoas ligadas a Odebrecht se apressaram em explicar de onde partiu o convite a Lula: “ o convite ao ex-presidente Lula partiu do Corinthians e não da construtora. É aniversário do clube (na quinta-feira) e o churrasco será feito na parte externa, não no canteiro de obras, que é um lugar com sérias restrições ao uso de bebidas alcoólicas, por motivo de segurança”.
Há duas semanas, um executivo financeiro que acompanha as negociações entre a construtora e o Corinthians disse que “tinha a expectativa de remover os últimos obstáculos entre as partes para que o contrato fosse assinado até o último dia de agosto. Está quase tudo certo”, disse o financista, na condição de anonimato.
Restam apenas dois dias para o mês de agosto chegar ao fim e o dinheiro do BNDES ainda não chegou. A obra da nova arena corintiana, no bairro de Itaquera, Zona Leste da capital paulista, custará ao clube R$ 820 milhões e terá capacidade fixa de 45 mil lugares. Outros 20 mil lugares removíveis serão patrocinados pelo Governo do Estado a um custo aproximado de R$ 70 milhões e isso deixaria o estádio em condição de abrir a Copa-2014.
O financiamento do BNDES deverá colocar R$ 400 milhões no caixa da empresa SPE, formada pela Odebrecht e o clube para gerenciar todo o processo financeiro. Mas o prazo para pedir esse dinheiro ao BNDES expira em 31 de dezembro.
A outra parcela restante de R$ 420 milhões será injetada no negócio com a venda de título públicos, emitidos pela prefeitura de São Paulo. Esses papéis serão vendidos no mercado e os compradores poderão ficar parcialmente isentos do pagamento do Imposto sobre Serviços (ISS) e do IPTU (Imposto Territorial Urbano).
A parte que deve estar dificultando as negociações entre Odebrecht e Corinthians pode ser resumida em três módulos principais: 1) o clube será sócio minoritário da arena até 2026, quando será feito o pagamento da última parcela do financiamento de 12 anos. 2) o clube terá de pagar cerca de R$ 340 milhões em juros, para retirar R$ 400 milhões do BNDES. 3) a gestão da nova arena será feita preferencialmente pelo banco repassador do dinheiro (porque o BNDES só empresta diretamente a estados e municípios) e pela Odebrecht; o Corinthians seria o terceiro no comando.
Os negociadores esperam fazer a receita do clube saltar dos R$ 180 milhões para a casa dos R$ 300 milhões/ano. Outra fonte geradora de receitas é a venda do nome do estádio para uma empresa privada.
Cálculos de mercado sugerem que arenas como Itaquerão e Mineirão podem faturar até R$ 30 milhões/ano com os direitos sobre o nome do patrocinador fixado no estádio.
Mesmo com dinheiro só da construtora em seu aniversário de 90 dias, o Itaquerão avança: 426 estacas foram instaladas a 18 metros de profundidade, onde serão erguidos os edifícios Leste e Oeste. A cada 5 estacas, é construída uma caixa de concreto, como se fosse a cabeça de uma coluna. Essas cabeças formam a estrutura principal de sustentação do estádio.
No total, cerca de 3 mil estacas serão fundadas no terreno, até março ou abril de 2012. No auge da obra, a Odebrecht espera contratar até 2 mil operários. Em 90 dias de trabalho, 400 homens ocupam suas posições entre remoção de terra, concretagem, operação de tratores, caminhões e serviço administrativo.