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"A situação é monstruosa": ataque hacker é ameaça na Copa

Ataques hackers dobraram em abril e podem aumentar ainda mais durante a Copa do Mundo - Pixabay
Ataques hackers dobraram em abril e podem aumentar ainda mais durante a Copa do Mundo Imagem: Pixabay

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/05/2018 04h00

Os hackers russos ficaram mundialmente famosos ao interferirem nas eleições americanas, mas seus interesses vão muito além de bagunçar o pleito alheio. Por exemplo: aparentemente, eles estão entusiasmados com a proximidade da Copa do Mundo.

Uma reportagem do jornal russo “Kommersant” revela que a quantidade de ataques do tipo “DDoS” dobrou em abril em relação a março. “DDoS” é a sigla para “Denial of Service”, ou “ataque de negação de serviço”, capaz de sobrecarregar um servidor ou computador ao ponto de seus sistemas ficarem indisponíveis ao usuário.

A tendência, segundo o “Kommersant”, é que os ataques se tornem ainda mais frequentes quando o torneio começar.  Até porque a Copa é uma ótima isca. Mensagens “spams” com supostas instruções sobre como conseguir um ingresso nos sorteios da FIFA, e golpes do tipo “phishing” com ofertas de ingressos e hospedagem barata, são exemplos de como os malfeitores digitais podem se aproveitar dos torcedores.

“Phishing” é um golpe usado para “pescar” dados de internautas. Você clica em uma mensagem falsa, por exemplo, e acaba permitindo o acesso a nomes de usuário, senhas e dados bancários e de cartões de crédito.

Analistas ouvidos pelo veículo russo falam em “spam em massa” por conta da Copa do Mundo. E cogitam que até o “Fan ID” esteja suscetível ao hackerismo. O “Fan ID” é um documento de identificação pessoal do torcedor desenvolvido pela Rússia especialmente para a competição.

“Os hackers podem comprometer os serviços de identificação para bloquear a entrada no estádio ou complicar o trânsito entre as instalações esportivas” disse um dos especialistas ao “Kommersant”.

À agência de notícias “TASS”, o enviado especial do governo russo para a cooperação internacional em segurança da informação também pintou um cenário complicado. “Mais de 70 milhões de ataques são cometidos apenas contra recursos públicos da Rússia no exterior. A situação agora é monstruosa”, alertou Andrei Krutskikh.

Para Renato Ribeiro, especialista em segurança digital (um “hacker do bem”), realmente quem for à Rússia deve estar atento. “É uma terra sem lei. Vemos organizações criminosas atuando tanto no mundo físico quanto no virtual, e de um modo muito mais ativo que em outros países”, diz ele.

Ribeiro sugere que visitantes naveguem na internet com cautela na Rússia. Mesmo usar o wifi de um estabelecimento público requer cuidados especiais. “Isso vale, por exemplo, para a rede hoteleira, que hospedará boa parte dos estrangeiros e sem dúvida será um prato cheio para os hackers.”

Uma saída para ficar menos vulnerável é contratar um serviço do tipo “VPN” ("Virtual Private Network" ou “Rede Particular Virtual”). Ribeiro explica que utilizá-lo significa conectar à internet de modo bem mais seguro, driblando as vulnerabilidades das redes públicas. 

Há opções pagas e gratuitas de VPN, mas Ribeiro lembra que, se é para ficar seguro, melhor gastar um dinheirinho. “Normalmente é barato. E faz mais sentido. Usar um VPN gratuito pode deixar seus dados à mercê de terceiros do mesmo jeito.”

Apesar das particularidades russas, o “Kommersant” destaca que grandes eventos esportivos normalmente atraem os hackers. O jornal diz que esse fenômeno aconteceu no Rio de Janeiro, onde os ataques hackers teriam começado a crescer quatro meses antes das Olimpíadas, e nas recentes Olimpíadas de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul.

À época, o Comitê Olímpico Internacional confirmou que houve um ataque hacker durante a cerimônia de abertura. O incidente prejudicou a rede wifi do estádio e afetou transmissões de TV.

“Os hackers podem usar grandes competições esportivas como um campo de testes para suas tecnologias. Além disso, um ataque bem-sucedido é uma boa maneira de hackers novatos e experientes ganharem fama”, disse ao “Kommersant” Kirill Anikayev, especialista do centro de gerenciamento de incidentes de segurança da informação da Orange Business Services na Rússia.

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