Marrocos e Irã duelam na Copa 45 dias após romperem relações diplomáticas
Nesta sexta-feira (15) o futebol se transforma, mais uma vez, em um duelo que extrapola as dimensões do gramado. As seleções de Marrocos e Irã se enfrentam 45 dias após o rompimento diplomático entre os países. Pontuado por uma inimizade que dura 40 anos, o convívio delicado das nações emerge no jogo do grupo B da Copa do Mundo.
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O governo do Marrocos anunciou o rompimento de relações no último dia 1º de maio, acusando o Irã de armar e financiar combatentes da chamada Frente Polisário. A organização defende a independência do Saara Ocidental, cujo território é controlado pelos marroquinos. De acordo com a acusação, ao menos um diplomata iraniano teria atuado como "facilitador" entre a Frente Polisário e o movimento xiita libanês Hezbollah.
De acordo com Jorge Mortean, mestre em Estudos Regionais do Oriente Médio, não dá para descartar uma possível influência iraniana. “O Marrocos é um reino. Neste jogo geopolítico de influências, acredito mesmo que o Irã tenha tido algum tipo de influência na Frente Polisário, mas o que o Marrocos exerce no Saara Ocidental é execrável”, afirma.
De qualquer forma, o entendimento entre os países só foi bom até os Anos 70, enquanto o rei marroquino Hassan II nutria amizade com o Xá Mohammad Reza Pahlevi. Depois do último ser deposto pela Revolução Iraniana em 1979, a relação dos países degringolou. Tanto que Marrocos apoiou Saddam Hussein na Guerra Irã-Iraque, e o governo iraniano – já como república – aproximou-se de um rival regional dos marroquinos: a Argélia.
Interrompido o contato há quarenta anos, os países só voltariam a conversar em 2009, mas já sem o mesmo entendimento. Pesa na relação o sectarismo dos países muçulmanos: enquanto o Marrocos é uma potência do mundo sunita, o Irã é xiita.
Em campo, Marrocos e Irã estreiam na Copa do Mundo a partir das 12h (de Brasília) desta sexta, em São Petersburgo. O grupo B ainda conta com Espanha e Portugal, que se enfrentam às 15 horas.
Massacre no Saara Ocidental
A realidade na região é difícil. O Saara Ocidental foi uma colônia da Espanha até 1975, quando o regime de Francisco Franco caiu e por consequência deixou de explorar o território no oeste da África. O país chegou a declarar independência mas, no contexto de Guerra Fria, só foi levado a sério por países vinculados à União Soviética. Rapidamente o Marrocos invadiu o território e passou a ocupá-lo, sem qualquer tipo de resistência local.
Região de valiosas reservas de fosfato, o Saara Ocidental influi em até 25% no PIB do Marrocos. Além disso, estudos recentes indicam a possibilidade de haver também reservas de petróleo por lá, o que o Marrocos não tem atualmente. A exploração econômica torna improvável a independência, além do fato de o Saara Ocidental representar metade do território marroquino.
Em 2015, o Tribunal Geral da União Europeia julgou a exploração da região “não benéfica a seus habitantes”. Meses depois, a missão de paz que a ONU mantinha no Saara Ocidental foi expulsa pelo governo marroquino após o secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, viajar a campos de concentração dos saarauis e referir-se ao território como "um país ocupado".
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