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Tropeço contra a Suíça ameaça, pela 1ª vez, clima de segurança da Era Tite

Tite acompanha o jogo entre Brasil e Suíça pela fase de grupos da Copa 2018 - REUTERS/Jason Cairnduff
Tite acompanha o jogo entre Brasil e Suíça pela fase de grupos da Copa 2018
Imagem: REUTERS/Jason Cairnduff

Danilo Lavieri, Dassler Marques, Pedro Ivo Almeida, Pedro Lopes e Ricardo Perrone

Do UOL, em Rostov-on-Don e São Paulo

17/06/2018 22h00

A seleção brasileira de Tite chegou à Copa do Mundo quase incontestável, longe das críticas do exigente torcedor. Na reta final de preparação em 2018, por exemplo, foram quatro vitórias em amistosos, com nove gols marcados e nenhum sofrido. O empate por 1 a 1 diante da Suíça, neste domingo, pode marcar a primeira ameaça ao clima de paz, segurança e tranquilidade que tomou conta da equipe no ciclo de trabalho do treinador até então.

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A última vez que o Brasil entrou em campo e saiu sem a vitória foi em novembro do ano passado, em amistoso contra a Inglaterra que terminou 0 a 0. Em 2018, foram vitórias contundentes contra Áustria, Croácia e Rússia, além do 1 a 0 diante da Alemanha, uma pá de terra no fantasma do 7 a 1. A estreia ensinou, porém, que só se apaga uma tragédia em Copa do Mundo com outra Copa do Mundo.

No caminho para a Rússia, os percalços foram o corte do titular absoluto Daniel Alves e a fratura no pé direito que afastou Neymar durante a preparação. Nada que parecesse capaz de tirar o Brasil do rumo. Só que os três pontos não vieram e a atuação deixou a desejar. Neymar pareceu ainda fora do ritmo ideal, o ataque perdeu chances e parou no gol de Coutinho e a defesa voltou a vacilar na bola aérea. Que tudo tenha passado pela não utilização do VAR é só um ingrediente a mais nessa mistura. 

O maior termômetro da ameaça à paz da era Tite está no esforço dos jogadores em espantá-la do discurso. Depois da partida, o tom foi de pés no chão, tranquilidade, olhar em frente e confiança em garantir bons resultados nos próximos dois confrontos, diante de Costa Rica e Sérvia.

“Temos que pensar primeiro no próximo passo, não adianta pensar em classificar em primeiro ou segundo. Tem de jogar bem contra a Costa Rica. Isso é passado pelo Tite, conversado com o Tite, talvez seja um dos grandes pontos fortes dele, saber trabalhar a cabeça do atleta, para estarmos fortes mentalmente”, disse Renato Augusto, que entrou no segundo tempo.

“De repente poderíamos ter mais calma na hora de finalizar, eu mesmo tive uma oportunidade no segundo tempo e poderia ter chutado melhor. Muitas coisas vão dizer agora, nós temos é que nos preparar para os próximos dois jogos e manter a cabeça boa”, acrescentou Coutinho.

Brasil e outros favoritos se complicam na tabela

Embora ainda dependa só de si para garantir vaga no mata-mata, o tropeço coloca o Brasil sob pressão. Se voltar a vacilar contra Costa Rica ou Sérvia, Tite e companhia podem flertar com tragédias que até a bola rolar estavam completamente fora do planejamento. A seleção, vale lembrar, não passava a estreia sem vitória desde 1978, e sempre se destacou de suas principais concorrentes pelo fato de nunca ter caído em uma primeira fase de Copa no atual formato com 32 países.

Em defesa de Tite, nenhum favorito tem tido vida fácil na Rússia. A França sofreu para superar a Austrália, a atual campeã Alemanha caiu diante do México, a Argentina não passou de um empate com a Islândia, e a Espanha ficou no 3 a 3 com Portugal de Cristiano Ronaldo. Todos, de alguma forma, convivem com a mesma pressão de Tite. 

“Triste com o resultado mas consciência tranquila, fizemos um bom jogo, mas não foi suficiente para sair com a vitória. Vamos descansar e buscar os três pontos no próximo jogo. Copa não tem jogo fácil, a gente sabia que ia ser difícil, truncado. A Suíça fez um grande jogo também, tem que dar os parabéns”, disse Miranda. “Cara, estreia sempre é mais complicado, tenso assim, todo mundo um pouco nervoso, ansiedade para querer ganhar. A gente conseguiu jogar de forma mais organizada, mas para o próximo jogo acho que pode melhorar”, acrescentou Fernandinho.

Dentre os mais tranquilos na saída do estádio, Gabriel Jesus e Casemiro fizeram maior questão de afastar o tropeço da ideia de um início com o pé esquerdo ou de fim do clima de tranquilidade do trabalho desenvolvido na seleção.

“Calma, tem que ter calma. Claro que todo mundo espera ver o Brasil vencer, mas tem que analisar o jogo. Eles chegaram uma vez e fizeram o gol. Diria que tivemos bastante oportunidade, todo mundo trabalhou bem mas infelizmente aconteceu o que aconteceu”, disse o volante. “Tivemos uma conversa de saber que não fizemos um mau jogo, infelizmente não vencemos. Não era o que a gente queria, mas acontece. Ninguém ganha nem perde uma Copa ou outro campeonato no primeiro jogo”.

Peças-chave do time em xeque

A questão do desempenho, no entanto, também promete dor de cabeça para a seleção. Gabriel Jesus, apesar da calma diante dos microfones, fez mais um jogo abaixo da crítica e vê crescer a sombra de Firmino. Paulinho, por outro lado, viu o próprio Tite admitir que "não era o dia" dele, com Renato Augusto mudando a seleção para melhor no segundo tempo. De olho em um necessário crescimento, Tite pode até colocar em xeque a sua escalação. 

O segundo jogo do Brasil no Mundial acontece na próxima sexta-feira, diante da Costa Rica, em São Petersburgo. Vencer os costarriquenhos, então, é fundamental para que o clima de paz volte a reinar.