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Copa 2018

Correria, pragmatismo e reserva iluminado fazem Rússia ir do medo ao 8 a 1

Denis Cheryshev comemora gol da Rússia contra o Egito - Richard Heathcote/Getty Images
Denis Cheryshev comemora gol da Rússia contra o Egito Imagem: Richard Heathcote/Getty Images

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

20/06/2018 04h00

Duas vitórias acachapantes, com oito gols marcados e só um sofrido, e a anfitriã Rússia é a sensação deste início de Copa do Mundo. O desempenho impressionante vem na esteira de uma preparação infernal, que teve três derrotas e um empate em quatro amistosos em 2018. Na Copa das Confederações do ano passado, eliminação na primeira fase com duas derrotas. Na Euro 2016, queda com um solitário ponto conquistado. O ressurgimento russo no Mundial conta com muito suor, pragmatismo e uma boa dose de sorte.

Comandada por Stanislav  Cherchesov, um bigodudo mal-encarado com linha direta com Vladimir Putin, a Rússia é uma seleção que não gosta de ter a bola, mesmo diante de adversários que pouco intimidam, como a Árabia Saudita e, em menor escala, o Egito. Uma seleção que passou menos e errou mais do que os dois rivais, mas venceu. O melhor desempenho físico da Copa até agora, a entrada de reservas que atropelaram e se tornaram os destaques do time, bola aérea perigosa e chutes de longe têm sido os pilares da arrancada da equipe da casa, cada vez mais no coração dos torcedores da casa.

Rússia é a seleção que mais corre na Copa até agora

Aleksandr Golovin, da Rússia, em ação contra a Arábia Saudita - Francisco Leong/AFP - Francisco Leong/AFP
Aleksandr Golovin, da Rússia, em ação contra a Arábia Saudita
Imagem: Francisco Leong/AFP

A seleção russa, em conjunto, percorreu 118 km na goleada por 5 a 0 sobre a Árabia Saudita, que correu “apenas” 105 km. É a maior distância percorrida por jogadores somados de um time até agora na Copa do Mundo. A segunda maior marca também é russa, 115 km percorridos na segunda partida, diante do Egito. São os egípcios, aliás, que detém a terceira marca, com 112 km percorridos na estreia diante do Uruguai. Na primeira rodada do Mundial, os russos correram 6km a mais do que qualquer outra seleção.

Boa parte dessa movimentação acontece sem a bola. Ao atropelar os árabes, a Rússia teve apenas 40% de posse de bola e acertou só 78% dos seus passes, contra 86% do rival. Contra o Egito, ficou com a bola 46% do tempo, acertando 76% dos passes contra 81% dos africanos. A vantagem física e a movimentação constante são acessórios das bolas levantadas na área, lançamentos longos e chutes de longe.

O motor russo chama-se Aleksandr Golovin, que lidera o time com 25 km percorridos em duas partidas. O ataque inteiro da seleção anfitriã passa pelos pés do meio campista de 22 anos, que aparece em todos os setores do gramado, é o responsável pelas bolas paradas e por municiar os homens de frente com cruzamentos e lançamentos. Golovin participou de metade dos oito gols: pelo alto, duas assistências na estreia, além de um golaço de falta; na segunda partida, o chute de longe que desviou no zagueiro Fathi e morreu nas redes.

Dos oito gols da seleção russa, três saíram em chutes de longa distância, dois em jogadas aéreas e dois em jogadas individuais dentro da área. Só um tem origem em troca de passes.

Cheryshev contou com a sorte e pediu passagem

Denis Cheryshev e Artem Dzyuba marcaram cinco dos oito gols russos na Copa. O primeiro é um ponta habilidoso, de 1,73 m, o segundo um centroavante trombador de 1,96 m. Ambos, entretanto, tem um traço em comum: chegaram à competição completamente absolutos na reserva. Com um pouco de sorte, tanto deles como da seleção, são os principais destaques nas primeiras duas partidas.

Artem Dzyuba comemora gol da Rússia contra o Egito - Fabrizio Bensch/Reuters - Fabrizio Bensch/Reuters
Artem Dzyuba comemora gol da Rússia contra o Egito
Imagem: Fabrizio Bensch/Reuters

Até a estreia diante da Árabia Saudita, Cheryshev jamais tinha balançado as redes jogando pela Rússia. Voltou a ser convocado em 2018 depois de uma ausência nos dois anos anteriores, mas passou longe de ser titular durante a preparação. Quando Dzagoev deixou o campo machucado aos 20 minutos da estreia, o técnico Cherchesov surpreendeu ao substituir o meia central por um jogador de lado do campo.

Desde então, o ponta vem sendo o principal ponto de desequilíbrio russo. Não foram apenas três gols; dois deles foram em momentos de individualidade, com drible e finalização com categoria para marcar o segundo da Rússia na estreia, e uma pancada impressionante, no ângulo, para fazer o quarto. Na briga pela artilharia do Mundial, Cheryshev teria de passar por uma queda vertiginosa de produção, ou uma lesão, para não ir até o fim da campanha dos donos casa como titular.

Dzyuba foi à Copa para praticamente cumprir tabela. Smolov, o comandante do ataque, veste a camisa 10, marcou 55 gols em 76 partidas nos últimos três anos com a camisa do Krasnodar e foi titular durante toda a preparação. Foi assim que começou o Mundial, dando lugar a Dzyuba na segunda etapa contra os sauditas. De cabeça, sua especialidade, o grandalhão deixou sua marca.

O gol rendeu uma vaga nos onze que iniciaram a partida contra o Egito, e Dzyuba seguiu com outra bola na rede, desta vez com o pé direito, levando a melhor sobre a defesa em dividida e batendo firme, no canto esquerdo do goleiro. Dificilmente sairá do time.

Rússia surpreendeu, mas perguntas seguem sem respostas

A Rússia já surpreendeu a sua própria torcida com as duas primeiras exibições e as chances enormes de classificação, mas restam perguntas sem respostas. O time está realmente um nível acima na preparação física, ou a correria se deve a outros fatores, como empolgação por jogar diante da própria torcida? Armas pragmáticas como bolas aéreas e chutes de longe funcionarão contra times de maior qualidade? Jogadores como Cheryshev e Dzyuba conseguem manter o nível alto de exibições?

As primeiras respostas devem aparecer no próximo dia 25, segunda-feira, quando os anfitriões da Copa fecham a participação na fase de grupos diante do Uruguai.

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