Brasileiros criam "organizadas da seleção" e lançam onda de músicas da Copa
Na última quinta, na chegada da seleção brasileira em São Petersburgo para o jogo contra a Costa Rica, nesta sexta, às 9h, Neymar e companhia se encantaram com uma música que exaltava os feitos do "país do futebol".
"Ééé... 58 foi Pelé/ em meia dois foi o Mané/ em sete zero o esquadrão/ primeiro a ser tri-campeão/ Ôôôô... 94 Romáriôôô/ 2002 Fenomenôôô/ primeiro tetracampeão/ único penta é Brasilzão”.
O canto, que reproduz uma música já cantada por torcedores de clubes nos estádios brasileiros, foi criado por Luiz Carvalho, presidente da Movimento Verde e Amarelo (MVA), uma torcida organizada criada unicamente para apoiar a seleção brasileira.
"A música fui eu mesmo que compus, ela foi feita em 2013, para a Copa de 2014, e acabou bombando só agora. Assim como a “Mil Gols”, que fui eu que fez também, a gente fez para a Copa de 2010 e bombou em 2014", disse ele, em entrevista para o UOL Esporte.
Luiz Carvalho é representante de uma onda curiosa envolvendo a seleção. Tradicionalmente distante do que se vê no dia a dia dos clubes, a torcida do Brasil em estádios vem se organizando para dar outra cara para as arquibancadas verde-amarelas. Grupos como o MVA ou a Torcida Canarinho, composto por fanáticos pela seleção que viajam para acompanhar Neymar e companhia no exterior, tentam sair do clichê do "Brasileiro com muito orgulho e muito amor".
"A gente está aqui na Rússia desde o dia 12, estamos em 60 integrantes do Movimento Verde e Amarelo e a gente veio com a expectativa de fazer a maior festa possível. A gente sabe de toda dificuldade da torcida, dentro do estádio principalmente, mas nosso objetivo é mudar pelo menos um pouco desse cenário, dar nossa parcela de contribuição", falou.
O administrador de empresas Daniel Victor Leon, de 38 anos, quase não tinha mais voz na segunda-feira (18), após o empate entre Brasil e Suíça por 1 a 1. Presidente da Torcida Canarinho, Leon acompanha a seleção desde 2005, quando fundou a torcida, segundo ele, para trazer um clima de arquibancada para os jogos.
“A ideia era levar a alma da arquibancada para os jogos da seleção e apoiar os atletas. Levar a energia que às vezes precisa vir de fora do campo”, disse.
Já são três Copas do Mundo atrás da seleção, além de Copas América, Copas das Confederações, Eliminatórias e Olimpíadas. Em 2016, Daniel chegou a reservar apartamentos para membros da Torcida Canarinho, Movimento Verde e Amarelo e Núcleo BR para que todos fossem juntos como uma torcida só aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Na última rodada das Eliminatórias Sul-Americanas, Brasil e Chile se enfrentaram no Allianz Parque, a CBF chegou a entrar em contato com as torcidas para organizar uma festa antes, durante e depois da partida. Para isso, foi cedida uma cota de ingressos e liberada a entrada de instrumentos dentro do estádio.
“A gente ficou tentando bastante a liberação de instrumentos. Conseguimos levar uma bateria e fazer uma torcida diferente do que se vê em jogos do Brasil”, contou Raphael Lipiner, membro da MVA. Desde então, ambas as torcidas tentaram uma parceria com a CBF. Algumas reuniões foram marcadas com o secretário-geral da organização, Walter Feldman, mas nunca houve um acordo.
“Eu já fui até lá, sentei com o Feldman, já fiz tudo que se pode imaginar. Mas eles nunca quiseram, a intenção é que não tivesse (torcida). Há uns dois anos parecia que ia mudar, mas nada mudou. Falamos com o marketing, mas nunca rolou”, explicou Daniel Leon.
Sem o apoio, os torcedores precisam se virar para custear a viagem. As despesas com passagens, hospedagem, ingressos e outros gastos não saem por menos de R$ 15 mil por pessoa. Para Leon, o jeito é buscar o dinheiro em bancos ou usar o cartão de crédito. “Fomos parcelando, joga no cartão ou pede um adiantamento no banco. A gente se endivida e vai. Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca”, brinca.
Mesmo com o alto custo envolvido para ir assistir a Copa do Mundo, o número de torcedores não é pequeno. A Torcida Canarinho e o Movimento Verde e Amarelo se uniram e estimam que cerca de 200 pessoas estarão nos estádios para acompanhar a seleção brasileira.
Normalmente proibidos, instrumentos e faixas estão sendo liberados para serem usados dentro do estádio. Segundo Raphael Lipiner, foram feitas cerca de 30 bandeiras estampadas com jogadores que marcaram época com a Amarelinha para esse Mundial. Todas elas são medidas na porta do estádio e devem ter até 2 m x 1,5 m para serem liberadas na revista.
O Mundial de 2014 ficou marcado, além do 7 a 1, pela distância entre time e arquibancada. Fora o hino nacional e o tradicional “sou brasileiro com muito orgulho”, o apoio vindo dos torcedores foi frio. Luiz Carvalho acredita que houve um aumento no interesse de torcedores em melhorar o clima das arquibancadas em jogos da seleção.
"Acho que ficou muito claro em 2014 que a nossa torcida é horrorosa, mas de certa forma isso não gerou muita pauta. Não se falou muito desse problema e o que poderia ser feito para mudar. E com o surgimento da música e a evidência que o movimento existe e que pensa na torcida e que quer melhorá-la, essa pauta foi colocada na mesa", explica.
Um bom número de torcedores estava presente em frente ao hotel em que o time de Tite ficará hospedado em São Petersburgo para recepcionar o ônibus que trazia os atletas. A festa chamou a atenção de alguns jogadores, como Neymar, que chegaram a agradecer em suas redes sociais.
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