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Copa 2018

"Falácia", diz repórter do SporTV ao ter link comparado a assédio na Copa

Beatriz Cesarini

Do UOL, em São Paulo

21/06/2018 21h00

Um vídeo em que o repórter Ben-Hur Correia aparece sendo xavecado por um grupo de mulheres enquanto fazia uma transmissão ao vivo, em Las Vegas, para o SporTV, tem circulado nas redes como forma de comparação ao assédio cometido por brasileiros a uma estrangeira, na Copa da Rússia. Em conversa com a reportagem do UOL Esporte, o jornalista condenou a atitude das pessoas que igualaram as duas situações.

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“Vi que a repercussão estava muito grande, então foi a hora que comecei a pensar em fazer algo. Muita gente me marcando nas redes, muita gente veio falar comigo. Alguns amigos vieram falar comigo e disseram para eu fazer um vídeo e dizer que não pensava assim e tal”, disse Ben-Hur.

O repórter publicou um vídeo em seu perfil nas redes sociais para esclarecer a todos que seu pensamento não era equivalente ao das pessoas que compararam a situação de Las Vegas com o caso de assédio na Rússia.

“Esse argumento que estão usando é uma falácia. São situações completamente distintas que estão tentando equiparar. E o que eu quis fazer é mostrar que eu não concordo com essas pessoas. São situações completamente diferentes. É ofensivo o que a moça passou. A minha opinião não é parecida com as pessoas que estão usando meu vídeo para falar que é a mesma coisa. O vídeo [Las Vegas] não deslegitima o fato de eles terem ofendido uma mulher”, destacou Ben-Hur.

O jornalista não ficou satisfeito ao ter sua imagem usada para ‘defender’ a atitude dos homens que aparecem no vídeo assediando e constrangendo mulheres e crianças estrangeiras na Rússia. Para Ben-Hur, todos que estiveram envolvidos precisam ser punidos.

“Os caras erraram, devem ser punidos porque erraram. O vídeo por si só já fala alguma coisa, erraram por incitar ela a falar o que não sabia. Tem quer realmente reprimido, porque não podemos aceitar como normal. Se antes era visto como normal e hoje não, ainda bem! Deve ser uma atitude reprimida, porque realmente não pode ser visto como normal. Não pode ser aceito fazer uma mulher a falar coisas que a auto-depreciam. É falta de coerência”, destacou o repórter.

Após publicar o vídeo para expor seu posicionamento, Ben-Hur recebeu apoio e até conseguiu mudar algumas opiniões. “Muita gente que me mandou mensagem antes, dizendo que as situações eram parecidas, quis conversar mesmo, entendendo meu argumento. Isso é importante, quando a gente começa a conversar e entender um argumento do outro. Então muitos tem apoiado e outros têm me procurado para conversar sobre”.

Entenda a sequência de casos de assédio

assédio - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O primeiro vídeo a viralizar mostrou vários homens brasileiros cantando as palavras "b... rosa" ao redor de uma mulher loira. O primeiro a ser identificado foi o advogado Diego Valença Jatobá.

Posteriormente, foi feita a identificação do engenheiro Luciano Gil, do Piauí, e de Eduardo Nunes, tenente da Polícia Militar de Santa Catarina. A OAB-PE, a PM de SC e a Assembleia Legislativa de Pernambuco, além de coletivos feministas e personalidades públicas, já condenaram a atitude dos brasileiros.

O segundo vídeo que veio à tona expôs dois homens brasileiros que pediam para três mulheres estrangeiras repetirem as palavras "eu quero dar a b... para você". Assim como a primeira moça, elas riram e mostraram não entender o que estavam dizendo.

Desde então, outros vídeos machistas foram divulgados. Nesta quarta-feira, uma nova filmagem mostrou um brasileiro agindo de maneira semelhante ao pedir para uma russa falar "você vai dar para todo mundo de Montes Claros". Em outro vídeo, um brasileiro faz piadas homofóbicas com uma criança russa.

Os casos podem se tornar um problema jurídico no país-sede da Copa do Mundo. A jurista Alyona Popova entrou com uma denúncia após recolher assinaturas em uma petição que recrimina o ato de alguns brasileiros no país.

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