Topo

Copa 2018

Condenado por fraude, torcedor sofre sanção em Brasília após vídeo machista

Sandy Andrade, funcionário público, cantou música chula para repórter russa - Reprodução
Sandy Andrade, funcionário público, cantou música chula para repórter russa Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

22/06/2018 16h51

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) reconheceu um de seus assessores de comunicação em um vídeo no qual um grupo de brasileiros se dirige à câmera de uma repórter russa e canta um funk com palavras chulas. Sandy Assis Andrade, que está de férias na Rússia, sofreu uma reprimenda do órgão e teme que agora possa perder seu emprego.

Na imagem, gravada pela jornalista russa Barbara Garneza, correspondente do “portal IG” em Moscou, os brasileiros olham para a câmera dela e cantam o funk “Na maciota”, cuja letra diz: “Chupa x... Na maciota. Chupar x... é uma coisa linda. Meter a língua na sua vagina. Só não gosta quem não fez ainda.”

Em seguida, a jornalista entrevista um dos membros do grupo, que se identifica como Fred, de São Paulo. Ao final da entrevista, Fred tenta beijar a jornalista na boca. Ela vira o rosto e então o torcedor beija sua bochecha. No momento do assédio, o assessor do Cofen estava ao lado da repórter e do torcedor.

Sandy Andrade - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Sandy Andrade é funcionário público há 21 anos em Brasília
Imagem: Arquivo pessoal

Ao ser reconhecido no vídeo, Sandy Andrade, que tem 41 anos, passou a receber mensagens com ofensas e ameaças. O assédio a estrangeiras tem sido um dos principais assuntos extracampo neste Mundial, desde que vieram à tona vídeos de torcedores induzindo mulheres a repetir palavras ofensivas que elas não entendem.

Em contato com a reportagem por telefone, o assessor disse que “estava no lugar errado e na hora errada”, reconheceu que suas palavras foram impróprias, mas afirmou que a reação está sendo “desproporcional”. “É hipocrisia. Esse funk existe no Brasil e é cantado inclusive por mulheres. Não tem cabimento julgar e condenar uma pessoa por estar perto de um grupo e cantar uma música que o Estado brasileiro permite que exista”, disse ele, que acrescentou: “Com essa repercussão, minha vida está um inferno.”

Em entrevista ao “IG”, a jornalista Barbara Garneza disse que se sentiu mal com a abordagem dos brasileiros. “O sentimento não foi nada bom, foi triste. Eles pareciam ser divertidos, mas na verdade não foi nada legal. Você não espera algo assim, você espera coisa boa, e então acontece isso", afirmou a russa, que entende e fala português, mas não é completamente fluente.

“Não aprovo esse comportamento [de beijar a repórter]”, disse Sandy Andrade. “Conheci o Fred naquele dia, não tenho contato com ele. Minha família é toda composta por mulheres, eu jamais arrancaria um beijo à força e ainda mais numa situação dessa que a mulher está trabalhando.”

Para tentar provar que o vídeo não mostra assédio de sua parte, o assessor enviou a reportagem duas outras gravações, que supostamente mostram a mesma cena sob outro ângulo. Uma delas mostra os torcedores cantando “Na maciota”, mas não a entrevista depois da qual um deles tenta beijar a jornalista.

A reportagem solicitou ao "IG" autorização para publicar o vídeo original, mas não a obteve.

O assessor disse que o Conselho Federal de Enfermagem abriu um processo administrativo que pode resultar em sua exoneração. Procurado, o Cofen não confirmou a existência do processo, mas disse que repudia a atitude “discriminatória” de seu funcionário, que oficialmente é "agente mecanógrafo", mas está lotado na assessoria de comunicação.

“O Conselho Federal de Enfermagem esclarece que abomina e repudia qualquer tipo de discriminação e desrespeito. Quanto ao envolvimento do empregado público Sandy Assis de Andrade, agente mecanógrafo do Cofen, informamos que o mesmo encontra-se de férias. Providências cabíveis serão adotadas para apuração da conduta.”

No começo da semana, a companhia aérea Latam demitiu um funcionário que gravou um vídeo induzindo estrangeiras a dizer frases ofensivas.

Assessor já foi condenado por contratação fraudulenta

Em 2010, Sandy Andrade foi condenado pelo TCU por passar por uma contratação fraudulenta, na época em que chefiava o departamento de informática do Cofen. Passando por cima da lei de licitações, o departamento havia contratado uma empresa de informática de propriedade de Waleska Viana Bezerra, que segundo a denúncia, era esposa de Sandy.

O funcionário negou ser casado com Waleska, mas os auditores do TCU descobriram que ela morava no mesmo endereço que ele, o que ofendia o princípio da “impessoalidade e moralidade” do serviço público, segundo o acórdão de 2010. Sem aceitar as justificativas do acusado, o ministro relator André Luis de Carvalho decidiu multar Sandy em R$ 10 mil.

O assessor admitiu o erro, mas não conferiu gravidade à ação. “O contrato era de R$ 8 mil. Paguei a multa integralmente e não quis recorrer”, afirmou ele ao UOL Esporte. “Ela não era minha esposa, mas usava meu endereço porque tinha chegado de outra cidade.”

“Eu sou a pessoa mais do bem do mundo. Se você pesquisar meu histórico vai ver que eu não tenho do que me esconder. Estou sofrendo uma represália muito exagerada”, lamentou o funcionário.

A jornalista Barbara Gerneza disse que não estava autorizada a dar entrevista ao UOL Esporte

Copa 2018