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Sterling é bode expiatório inglês mesmo que a Inglaterra não precise de um

Raheem Sterling durante o jogo entre Inglaterra e Tunísia - Clive Rose/Getty Images
Raheem Sterling durante o jogo entre Inglaterra e Tunísia Imagem: Clive Rose/Getty Images

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

23/06/2018 21h00

A Inglaterra venceu na estreia da Copa do Mundo e parece disputar o Mundial da Rússia vivendo o melhor clima de seleção em décadas. Mas, mesmo sem precisar de um bode expiatório em um cenário tão positivo, os ingleses já têm o seu: Raheem Sterling.

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Na Copa do Mundo de 2014, ele era o xodó de 19 anos que despontava como futuro astro da equipe eliminada ainda na fase de grupos. Quatro anos depois, evoluiu jogando no Manchester City de Pep Guardiola, mas se tornou alvo da imprensa e da torcida. Para o jogo contra o contra o Panamá, marcada para este domingo (24), no Estádio Nizhny Novgorod, o camisa 10 da seleção tem grandes chances de perder a vaga no time titular para Marcus Rashford, recuperado de lesão. Culpa da falta de pontaria na frente do gol, mas também por problemas extracampo discutidos pela exigente imprensa de seu país.

Quando o Manchester City resolveu pagar R$ 240 milhões ao Liverpool pelo meia de então 20 anos, Sterling tinha acabado de ser eleito por um estudo da Soccerex como o jogador de maior potencial do mundo. Por mais que seu desempenho nos Citizens seja regular e o atleta esteja entre os atletas mais utilizados na equipe de Pep Guardiola, não é possível dizer o mesmo pelos 'Three  Lions'. Nos seus 39 jogos pela seleção, em que estreou quando tinha 17 anos, Sterling fez apenas dois gols pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2016, contra Lituânia e Estônia.

E foi justamente na competição da França que a relação entre o meia e a opinião pública passou a se estremecer. Substituído em todos os jogos em que atuou, Sterling não conseguiu evitar a campanha vexatória da Inglaterra. Após dois empates contra Rússia e Eslováquia e uma vitória apertada contra País de Gales, a seleção foi eliminada nas oitavas de final pela Islândia, e a promessa foi um dos principais alvos também da torcida inglesa.

Em 2017, o jogador chegou a ser criticado por comprar uma mansão de 3 milhões de libras, e suas polemicas em anos anteriores, quando ele ainda estava no Liverpool, passaram a ser rememoradas. Em 2013, Sterling chegou a ser detido em duas ocasiões por agressões contra mulheres, e em ambas foi inocentado por falta de provas. Dois anos depois, o meia voltou novamente às páginas de fofocas após o tabloide The Sun acusá-lo inalar óxido nitroso durante uma festa.

Tatuagem causou pedidos de exclusão

Mas a maior de todas as polêmicas envolvendo o jogador aconteceu pouco antes do início da Copa do Mundo deste ano. No fim de maio, o jogador revelou a tatuagem de um fuzil desenhado em sua perna direita durante treinos da seleção.

O desenho causou tanta polêmica em seu país que organizações contrárias a legalização do porte de armas chegaram a pedir a saída de Sterling da seleção inglesa, além de críticas de órgãos de imprensa. As acusações só cessaram após o atleta, que nasceu na Jamaica e se mudou para a Inglaterra com 5 anos, explicar por que fez a tatuagem. "Quando eu tinha dois anos, o meu pai morreu baleado. Eu prometi para mim mesmo que nunca tocaria em uma arma de fogo na minha vida inteira”, revelou o atacante, que completou: “Eu chuto com o pé direito, então há um significado maior", explicou.

O desempenho discreto apresentado na vitória da Inglaterra por 2 a 1 contra a Tunísia fez com que Sterling novamente fosse criticado pelos seus compatriotas. Substituído por Rashford, o jogador começou a partida criando jogadas ofensivas com Dele Alli e Jesse Lingard, mas caiu de rendimento durante a estreia de sua seleção pelo Mundial.

As especulações por sua saída do time titular aumentaram ainda mais nos últimos dias, após a imprensa britânica divulgar imagem de uma formação tática da mão de Steve Holland, assistente do técnico Gareth Southgate, com Rashford na vaga do meia do Manchester City. Caso Sterling deixe o time titular, Jordan Henderson será o único jogador da equipe atual que esteve entre os 11 iniciais durante a Copa realizada no Brasil. Neste sábado, o volante do Liverpool chegou a defender a manutenção do companheiro entre os titulares.

Apoio dos colegas e foco no futebol

"Eu não acho que deva haver qualquer barulho sobre a performance dele contra a Tunísia. Eu vejo o que ele traz para o time, com sua velocidade, correndo entre as linhas, e acho que ele é um grande jogador. É sempre uma ameaça, trabalha duro. Está acostumado com a pressão e vai saber lidar bem com isso", afirmou Henderson em entrevista coletiva.

Por mais que seu desempenho no Manchester City o coloque como um dos astros ingleses na Copa, Sterling ainda não conseguiu repetir as mesmas atuações e jogadas individuais aberto pelas pontas com a camisa de sua seleção. Além de voltar ao time titular de Southgate, o jogador de 23 anos também precisa recuperar a confiança de outrora da opinião pública. Mesmo assim, o atleta garantiu em entrevista recente ao site The Players Tribune, que seu objetivo está somente em jogar futebol.

"Se você cresceu da mesma maneira que eu cresci, não ouça o que certos tabloides querem lhe contar. Eles só querem roubar sua alegria. Eles só querem te derrubar".

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