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Copa 2018

Brasileiro que fez foto mais simbólica da Copa quis mostrar união de povos

Sadio Mané, do Senegal, é erguido do campo pelo polonês Thiago Cionek - Rodrigo Villalba
Sadio Mané, do Senegal, é erguido do campo pelo polonês Thiago Cionek Imagem: Rodrigo Villalba

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

24/06/2018 12h41

A foto que está sendo apontada como a mais simbólica da Copa da Rússia até aqui saiu dos dedos e da criatividade de um brasileiro, que tem dez anos de carreira e está em seu segundo Mundial. A imagem mostra o braço do senegalês Sadio Mané se encontrando com o do brasileiro naturalizado polonês Thiago Cionek em um forte aperto de mão.

A foto, feita na estreia das duas seleções na Rússia, é de autoria do repórter fotográfico Rodrigo Villalba e fruto de uma ideia que surgiu logo na entrada dos jogadores em campo.

“Depois de trabalhar no jogo do Brasil, que é uma pauleira, fui fazer esse Polônia x Senegal mais relaxado”, afirmou o fotógrafo em conversa por telefone, de Moscou, na mesma cidade onde a foto surgiu. “Logo me chamou atenção essa diferença gritante no tom da pele, os poloneses muito brancos e os senegaleses muito negros. Pensei que só a Copa do Mundo pode unir esses dois povos tão distantes, com culturas, línguas e costumes tão diferentes.”

Rodrigo Villalba - Leandro Ferreira/Arquivo pessoal - Leandro Ferreira/Arquivo pessoal
Imagem: Leandro Ferreira/Arquivo pessoal

Munido de uma Nikon D5 e uma lente de 400mm, equipamento considerado básico para jogos de futebol, Villalba passou a esperar um momento que simbolizasse a história de união dos povos que ele gostaria de contar.

“Consegui uma foto bem parecida, mas o jogador do Senegal estava com uma segunda pele e não dava para ver o braço”, conta o fotógrafo. Em outro momento, quando o atacante Mané caiu no gramado, e Cionek estendeu o braço para erguê-lo, Villalba apontou sua lente e esperou.

“O Mané hesitou em erguer o braço”, lembra Villalba. “Mas quando ele finalmente tocou a mão do polonês, eu fiz a foto. Na hora percebi que tinha uma grande imagem.”

Depois do jogo, ele fez o corte que conferiu à cena uma dramaticidade diferente. Viu que o ângulo do encontro dos braços e o enquadramento eram tecnicamente perfeitos. A foto foi publicada em seu perfil no Instagram, mas começou a ganhar repercussão quando as redes sociais da federação senegalesa republicaram a imagem. A Fifa fez o mesmo, o que garantiu centenas de milhares de curtidas – embora, a princípio a Fifa não tenha dado os créditos ao autor.

Colegas começaram a procurar Villalba, parabenizando-o pelo trabalho. “Já pode voltar para o Brasil, você fez a foto da Copa”, diziam eles.

Natural de Campinas, no interior de São Paulo, o fotógrafo disse se sentir orgulhoso por representar sua região e sua classe profissional. Ele está na Rússia como correspondente do site “Futebol Interior”, de sua cidade natal. “Fiquei mais feliz quando meus colegas viram que era possível vir aqui na Copa, estar do lado dos melhores profissionais do mundo e fazer um trabalho de nível top também. Nós não devemos nada a ninguém.”

Com experiência de uma década no jornalismo esportivo, o fotógrafo de 41 anos começou cobrindo partidas da Série C e D, trabalhou no Guarani (de onde saiu após levar um calote), em finais de Campeonato Paulista e Libertadores e em lutas de MMA. Em sua primeira Copa, em 2014 no Brasil, conseguiu fotografar a taça levantada pela Alemanha no Maracanã.

Copa - Rodrigo Villalba/MemoryPress - Rodrigo Villalba/MemoryPress
Imagem: Rodrigo Villalba/MemoryPress

“Ali foi um sonho realizado. Mas essa foto de agora representa melhor o meu trabalho, a ideia que eu tive e a tradução dela em uma imagem”, analisa Villalba.

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