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Copa 2018

Jornal chama russas de 'putas' por comportamento sexual na Copa

Duas russas passam em frente a pôster da Copa do Mundo - Stu Forster/Getty Images
Duas russas passam em frente a pôster da Copa do Mundo
Imagem: Stu Forster/Getty Images

Luiza Oliveira

Do UOL, em Moscou (Rússia)

03/07/2018 04h00

As mulheres russas já foram vítimas de assédio sexual durante a Copa do Mundo, como os vídeos que viralizaram e percorreram o mundo mostraram. Agora, sofrem com o machismo dos próprios russos, que criticam o comportamento sexual feminino em relação aos estrangeiros durante o Mundial. Um colunista de um dos maiores jornais do país, inclusive, chamou as mulheres russas de putas.

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O texto em questão é do jornalista Platon Besedin para o Moskovskiy Komsomolets, um dos mais tradicionais do país, e foi publicado no último dia 27. O título é "A hora das putas: as russas se envergonham e envergonham o país na Copa", em que Besedin acusa as mulheres de se venderem. 

Reprodução da página do jornal Moskovskiy Komsomolets com o texto do jornalista Platon Besedin que chama as russas de "putas" - Reprodução - Reprodução
A coluna: "A hora das putas: as russas se envergonham e envergonham o país na Copa"
Imagem: Reprodução

"Nas cidades onde têm a Copa do Mundo, muitas russas se comportam como prostitutas na frente dos estrangeiros. As mais espertas colocaram anúncios nos sites de relacionamento. Claro que muitas mulheres procuram estrangeiros por dinheiro, outras procuram o casamento. Mas tem mulheres que estão prontas para dormir com estrangeiros de forma gratuita só porque são estrangeiros. Podemos dizer que dá vergonha. Muitas mulheres nem conhecem o sentimento de vergonha. Muitas mulheres que correm atrás dos estrangeiros não têm vergonha, moral e valores. Nós criamos uma geração de putas prontas para abrir as pernas ao escutar algum sinal de idioma estrangeiro", diz o artigo.

O autor ainda diz que a Copa do Mundo tem sido importante politicamente para quebrar estereótipos da Rússia, mas um deles tem sido reforçado. Justamente o das mulheres que se vendem. Elas seriam consideradas ovelhas negras que contaminam o rebanho.

"Hoje em dia, esse comportamento é cultivado e se vender não é vergonha. Vergonha é trabalhar como enfermeira simples no hospital e ganhar 9 mil rublos. As redes sociais têm muitos vídeos onde meninas jovens e não tão jovens se comportam como prostitutas com responsabilidade social baixa. O caso menos grave é o de um torcedor brasileiro que paga a uma menina num clube da cidade de Rostov por 5 minutos de esfrega-esfrega. Ou por exemplo aquele dos torcedores poloneses fazendo sexo oral em uma menina russa numa banca no centro da cidade, enquanto as pessoas que estão passando gritam 'que nojento' e outros riam. O mais horroroso nesse vídeo é o fato que a russa também está bebendo Coca-Cola e vodca".

Besedin lembra o escândalo provocado por uma famosa rede de fast-food que fez um post nas redes sociais oferecendo às russas três milhões de rublos (R$ 180.000,00) e um número ilimitado de sanduíches às mulheres que ficarem grávidas dos jogadores da Copa. Ele afirma que o post gerou repercussão e foi apagado, mas reflete o verdadeiro comportamento das mulheres do país, que querem apenas arranjar um casamento com um estrangeiro.

Por fim, afirma que tudo é culpa do sistema de valores em que essa geração tem sido criada e que o problema é a tentativa de querer imitar o Ocidente em tudo. Ele ainda critica os homens russos por serem "fracos e irresponsáveis ao mesmo tempo."

Ele tenta indicar caminhos para “solucionar o problema” e usa expressões ofensivas. "Você vai dizer que existem alternativas. Eu tenho certeza que sim. Mas quem vai nos mostrar esses caminhos? Precisamos não apenas para a Copa, mas em geral. As putas estão em todos os lugares como baratas mortas que só consomem, comem e cagam. Pensando apenas em suas necessidades. O teto, o ponto mais alto dos sonhos dessas mulheres, é ter um apartamento em seu nome e todas as contas pagas por um homem branco e nobre ".

O artigo se espalhou pelas redes sociais e teve quase meio milhão de visualizações. Ele gerou a revolta de milhares de mulheres que denunciaram o autor por machismo e o preconceito. Um grupo escreveu uma petição exigindo um pedido de desculpas à publicação e reforçando que mulheres são livres para terem o comportamento sexual que quiserem.

Diante da repercussão, Besedin escreveu uma continuação da coluna no dia seguinte. De acordo com ele, as russas interpretaram suas palavras de maneira equivocada. Ele disse que não se referiu a casos específicos e nem ao número de mulheres que se envolvem com estrangeiros, mas ao modelo atual de comportamento que é imposto ao público pela sociedade e pela mídia.

“Eu vi muitos comentários de mulheres indignadas no meu artigo "A geração das putas". Ele supostamente degrada sua dignidade. Não, meu artigo não degrada sua dignidade, mas a imagem de uma mulher como uma prostituta, que é cultivada em nossa sociedade: de revistas de moda a talk shows populares. Pareça uma prostituta, seja sexy - venda-se para o sucesso”, escreveu ele.

“Vocês insultaram a minha frase: "Nós criamos uma geração de prostitutas". Estou pronto para repeti-la novamente. Porque sim, é assim que elas foram criadas. A geração não está na idade, mas na perspectiva do mundo. Não é desde jovem que ensinamos às meninas o que chamamos timidamente de sexualidade? Nós ensinamos as garotas a parecerem sexy e dançarem sexualmente, porque elas precisarão disso na vida. As mães e os pais ensinam isso. Nós trouxemos uma geração de garotas que consideram o objetivo principal - o número máximo de inscritos no Instagram”, publicou no novo artigo.  

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