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Em quatro anos, Pogba bateu recorde, virou decepção e ressurgiu na Rússia

Paul Pogba, da França, comemora classificação - Alexander Hassenstein/Getty Images
Paul Pogba, da França, comemora classificação Imagem: Alexander Hassenstein/Getty Images

Marcel Rizzo

Do UOL, em Moscou (Rússia)

12/07/2018 04h00

A volta por cima de Paul Pogba no futebol está quase completa. Entre a Copa do Mundo de 2014 e o Mundial de 2018, o volante subiu, desceu, foi preterido, se envolveu em polêmicas, mas alcançou a redenção. Agora, pode ser campeão mundial à frente de um dos times mais talentosos que a França já formou.

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Escolhido a revelação do Mundial de 2014, no Brasil, Pogba pintava como o grande candidato a empilhar os troféus de melhor do mundo na sequência da dupla Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Um volante técnico ao extremo, o francês brilhava na Juventus em campo, mas fora dele começou a se envolver em polêmicas que prejudicaram seu futebol.

Em quatro anos, chegou ao ponto de ninguém mais o querer. O italiano Carlo Ancelloti, por exemplo, disse há dois anos que em dois clubes que dirigiu, o Real Madrid e o Bayern de Munique, o nome de Pogba entrou em pauta em algum momento, mas qualquer tratativa era barrada. "É um ótimo jogador, mas não tinha o perfil que precisava no momento", disse.

Qual esse perfil? O de provocador. Pogba gosta disso. Na Euro 2016, por exemplo, após a França fazer o segundo gol em partida contra a Albânia, fez um sinal de banana para os torcedores, em época que o fair play é tratado por federações como a Fifa e a Uefa como tema essencial para o futebol.

Na Inglaterra, já no Manchester United, disse certa vez que torcia para que todos os principais jogadores do Manchester City se machucassem, já que se enfrentariam na rodada seguinte. A frase irritou o técnico Pep Guardiola, do City, que num primeiro momento achou que Pogba se expressara mal, que não podia desejar o mal a colegas de profissão. "E espero que ele não se machuque e jogue", concluiu Guardiola.

No United, sua relação com o técnico José Mourinho é de altos e baixos. Mas muito mais de baixos. Duas pessoas de forte personalidade, Mourinho e Pogba vivem a negar desavenças, mas já trocaram farpas via imprensa. O francês já parou o banco, assim como já foi ovacionado pelo técnico.

Com apenas 25 anos, todos esses problemas fizeram Pogba deixar de ser candidato a melhor do mundo para ser visto como jogador problema. A derrota da França na final da Euro-2016 fez com que sua geração fosse decretada como derrotada. E suas atitudes extracampo passaram a ofuscar o que fazia dentro dele. E o meio-campista passou a ser chamado de displicente.

Curiosamente, isso não afetou sua marca, que é bem trabalhada pela Adidas, empresa de material esportivo com quem tem contrato. Apesar da carreira entrar num compasso de espera, é a foto de Pogba que aparece com destaque nas lojas da empresa espalhadas por shoppings russos.

No Galeria, um dos shoppings mais movimentados de São Petersburgo, cidade em que a França garantiu vaga na final da Copa-2018 batendo a Bélgica por 1 a 0, quatro horas antes da partida de terça (10), havia apenas uma camisa da França à venda. Extragrande, exposta em um manequim na vitrine. Antes, você comprava a camisa na promoção por 7 mil rublos, equivalente a R$ 440, e poderia colocar o número e o nome que quisesse nas costas. Para essa última, não: a da vitrine, a azul, já estava com o 6 impresso e Pogba escrito. "É o que mais sai, então já está preparado", disse o vendedor.

"Podem me criticar quanto quiserem pelo que faço fora de campo, mas não pelo que faço em campo. Futebol é o meu amor número 1, amo jogar futebol. E dentro de campo não tenho que ser criticado. Lá dentro, não. Quando saio de campo, volto à vida real", disse o jogador depois da vitória sobre a Bélgica.

Seu futuro profissional é uma incógnita, e suas transferências sempre geraram polêmicas. Nascido em Lagny-sur-Marne, região periférica da França, começou a jogar bola em escolinhas de bairros até chegar ao Le Havre, hoje na segunda divisão. Em 2009, quando tinha 16 anos, o Manchester United o "roubou" dos franceses, alegando que não havia um contrato assinado.

O Le Havre tentou acionar a Fifa, sem sucesso. Depois, chegou a um acordo com os ingleses, com valores nunca divulgados. Mas como diz o ditado "aqui se fez, aqui se paga". E o United perdeu o volante três anos depois, quando ele assinou um pré-contrato com a Juventus, não querendo renovar para ficar em Manchester. Na época, o manager Alex Ferguson chamou Pogba de traidor.

Só que, quatro anos depois, em 2016, o traidor voltou à Inglaterra a peso de ouro: 120 milhões de euros, R$ 540 milhões, na maior transação da história até então. Ainda mais para um jogador de meio de campo. A queda de produção do jogador depois disso frustrou o Manchester United, que não sabia mais o que fazer com ele. Agora, com as boas atuações na Rússia, talvez o caso de amor dure mais alguns anos.

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