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Copa 2018

Laços da Croácia com Ucrânia deixam anfitriã Rússia em saia-justa na final

Vida, Rakitic e Mandzukic comemoram a vitória sobre a Inglaterra na semifinal da Copa  - Dan Mullan/Getty Images
Vida, Rakitic e Mandzukic comemoram a vitória sobre a Inglaterra na semifinal da Copa Imagem: Dan Mullan/Getty Images

Danilo Lavieri, Dassler Marques, Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Moscou (Rússia)

13/07/2018 04h00

Na tarde seguinte à vitória sobre a Inglaterra na semifinal da Copa, um torcedor da Croácia com a camisa de seu país caminha por uma praça de Moscou para celebrar a presença histórica na decisão quando é abordado por um fã russo. "Vida [zagueiro] é fascista, [então] você é fascista", bradou o anfitrião, para a revolta do croata. "Eu lutei contra o fascismo em casa", retrucou, em cena presenciada pela reportagem do UOL Esporte. 

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O momento de tensão entre os dois torcedores dá o tom da saia-justa que cerca a primeira final de Mundial com um representante do Leste Europeu desde a Tchecoslováquia, em 1962. As manifestações do observador técnico croata Ognjen Vukojevic e do zagueiro Domagoj Vida, vaiado por torcedores russos no Luzhniki Stadium na última quarta-feira (11) por um posicionamento pró-Ucrânia, geraram uma tensão entre as partes. 

"Os croatas não têm relações grandes com ucranianos ou russos. Os jogadores [da Croácia] que apoiaram a Ucrânia em um vídeo o fizeram por sua opinião pessoal, já que atuaram por anos na Ucrânia e têm amigos ucranianos. As pessoas geralmente são mais próximas à Ucrânia porque sentem que eles são afetados por um grande vizinho, como a Croácia nos anos 1990", explicou o colunista croata Vedran Buble, do site "Index". 

A menção de Buble é feita sobre uma certa afinidade indireta. Os croatas precisaram lutar por sua independência da Iugoslávia, país ao qual a Croácia pertencia até o começo dos anos 1990. Da mesma forma, décadas depois, a Ucrânia trava sua disputa pela Crimeia contra os russos. Uma olhada para a história, porém, mostra que essa relação é ainda mais complicada.

Na Segunda Guerra Mundial, Croácia e Ucrânia ficaram do lado da Alemanha, portanto contra a Rússia. Nos dias atuais, russos e croatas estão em lados opostos mais uma vez: na crise com os ucranianos, a Rússia tem a Sérvia como um de seus principais apoiadores, o que só amplia a distância entre os finalistas e os anfitriões da Copa 2018. 

Apesar desse contexto, a relação Croácia-Rússia só ganhou proporções maiores graças ao ato pró-Ucrânia do zagueiro Vida, o que aqueceu as histórias do passado e do presente. 

"Quando o croata Vida disse 'fama para a Ucrânia', muitas pessoas na Rússia ficaram furiosas. Primeiro porque disse logo após a vitória sobre a Rússia. Segundo, porque na Rússia as pessoas pensam que 'fama à Ucrânia, glória aos heróis' foi usado para os ucranianos que estavam lutando para os nazistas contra a União Soviética na Segunda Guerra", explica o jornalista russo Egor Kuznetsov, da Match TV e do site Sportbox, que completa em seguida.

"Porém, na Ucrânia, as pessoas veem esse slogan como um novo símbolo das mudanças da sociedade da Ucrânia em curso para a Europa. De qualquer forma, isso é política e não há necessidade de dizer slogans para uma câmera. Na Rússia, as pessoas pensam que Vida não entende o que estava dizendo porque são detalhes de difícil compreensão para um estrangeiro a respeito de Rússia e Ucrânia. Para ele, era somente diversão", disse.

O também jornalista russo Grigory Telingater, do site Championat e da Espn Brasil, afirma que as rivalidades entre croatas e russos ficam no futebol. A mensagem de Vida, para ele e também para Egor, foi mais desastrada que intencional. 

"Vida foi vaiado pelos russos na partida, e a torcida da Croácia precisou cantar para apoiá-lo, mas conheço russos que não veem lógica torcer contra a Croácia. Sabemos que não foi uma mensagem política para o mundo, foi para amigos e ele pediu desculpas. Existe um pouco de diferença, não no nível político, entre os povos, mas no mundo do futebol isso quebra um pouco as relações", comparou Grigory. 

Egor acredita até que o pedido de desculpas feito a um meio de comunicação russo, no dia seguinte à vitória sobre os ingleses, possa ter reduzido a antipatia criada para a Croácia. "Os torcedores não vão mais vaiar Vida. Eu tenho certeza que os russos vão apoiar a Croácia contra a França, porque é um time lutador, mentalmente forte e de caráter. E também são azarões. Sendo neutro, é mais interessante de simpatizar por um time que não é favorito", opina. 

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