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Gays na Rússia curtiram Copa, mas evitam futebol: "é homofóbico e perigoso"

Vitaliy na mesma porta de bar onde foi atacado por torcedores depois de um jogo da Rússia - Felipe Pereira
Vitaliy na mesma porta de bar onde foi atacado por torcedores depois de um jogo da Rússia Imagem: Felipe Pereira

Felipe Pereira

Do UOL, em São Petersburgo

13/07/2018 04h00

Vitaliy Shindikov, 28 anos, é só elogios para a Copa do Mundo. “Um ambiente incrível. Gente de todo o mundo se juntou em São Petersburgo. Nunca aconteceu nada parecido na Rússia”. Mas não quer dizer que foram só momentos felizes. Ele estava fumando na porta de um bar no dia em que a seleção anfitriã ganhou do Egito (19/06) e dois russos tentaram agredi-lo. “Eu me defendi com gás [de pimenta]. Quando vi que estavam olhando estranho, peguei a lata que estava na porta do bar”.

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São situações como esta que fizeram Vitaliy nunca desejar jogar bola. Na educação física, optava por outros esportes sempre que possível. Quando tinha de jogar futebol, mantinha em segredo que era homossexual. “Seria motivo de chacota dos companheiros de time. Um gay não seria bem recebido. Não sofri nenhum mal na escola porque ninguém sabia”.

Para Vitaliy, este é o mesmo motivo que afasta gays das arquibancadas no país. O rapaz brinca que a única bandeira que pode ser aberta nos estádios de São Petersburgo é a do Zenit. Abrir a bandeira com o arco-íris, símbolo LGBT, seria visto como provocação.

Vitaliy diz que a Copa foi o melhor que já aconteceu na Rússia, mas evita o futebol - Felipe Pereira - Felipe Pereira
Imagem: Felipe Pereira

Interior é pior

Yakov  Lifari, 17 anos, trabalhou como voluntário da FIfa em diferentes pontos da cidade e conta que gays de outros países pediram informação e foram bem tratados. Mas explica que era um ambiente de exceção. Ele ressalta que São Petersburgo é conhecida como a cidade mais tolerante da Rússia. Ainda assim, homossexuais são alvo de piadas.

Os autores são pessoas mais velhas, diz Yakov. Ele afirma que no interior a situação é pior e cita a menor cidade-sede do Mundial. “Coisas ruins podem acontecer se você for gay e viver em Saransk. Vão falar palavrões e pode haver violência”. O garoto conta que age de forma menos espontânea quando esta fora da São Petersburgo.

Iliya Rzevky também tem 17 anos e declara que jamais pensou em jogar futebol. Diz que nem gosta do esporte porque não sente que é amistoso. Acrescenta que sabe que na Rússia os praticantes nunca aceitariam um gay dividindo o campo. “É um ambiente homofóbico, perigoso e preconceituoso”.

Mas ele não tem dúvidas de que há jogadores de final de semana e profissionais homossexuais. Explica o raciocínio dizendo que há gays em todas as atividades da sociedade. Ainda assim, não imagina um atleta, profissional ou amador, assumindo a sexualidade. Seria perseguido para sempre. No país da Copa do Mundo, a pessoa que assume ser gay abre mão de jogar futebol.

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