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Isolado, Morumbi vê lucro aumentar e importância diminuir nos últimos anos

Torcida do São Paulo faz a festa no estádio, que não acolhe mais os rivais - Almeida Rocha/Folha Imagem
Torcida do São Paulo faz a festa no estádio, que não acolhe mais os rivais Imagem: Almeida Rocha/Folha Imagem

Fernando Faro

Em São Paulo

17/06/2011 07h00

APOSTA PARA O FUTURO CONFORTÁVEL

Menina dos olhos da diretoria, os camarotes tiraram o estádio do vermelho. Atualmente são 72 camarotes ativos que pagam até R$ 1 milhão por ano ao Tricolor, que ainda goza de uma fila de espera por um espaço

Acostumado a ser a casa dos grandes clássicos e das decisões envolvendo equipes de São Paulo, o Morumbi vive hoje uma situação inusitada: mesmo sendo o maior estádio da cidade, o campo do São Paulo passou a ser preterido pelos rivais do Tricolor, que preferem arrecadar menos dinheiro a atuar no local. O velho protagonista de momentos históricos do futebol foi colocado para escanteio.

Fragilizado na Federação Paulista de Futebol e na CBF, o São Paulo perdeu apoio também entre os clubes co-irmãos, que isolaram o Tricolor e se aproximaram de Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero. O resultado é que o Morumbi deixou de receber clássicos e decisões que não tenham o São Paulo como mandante.

Apesar de ter sido deixado de lado por corintianos, palmeirenses e santistas, a diretoria minimiza o fato e volta a bater na tecla de que o clube está do lado da ética e da verdade.

"Isolado seria se tivéssemos uma posição ostensiva ao não cumprimento de regulamentos e medidas. A postura do São Paulo sempre foi se pautar pelos padrões da ética", afirmou o vice de futebol João Paulo de Jesus Lopes.

Não é o que mostram os fatos. Desde que rompeu com a Federação Paulista e a CBF em 2008 por causa da denúncia de que a diretoria mandara ingressos do show da cantora Madonna no Morumbi ao árbitro Wagner Tardelli, que apitaria a partida decisiva contra o Goiás pelo Brasileirão (que acabou valendo o hexacampeonato nacional), o clube começou a ser rifado nos bastidores.

Quem deixa de jogar no Morumbi abre mão de ganhar muito dinheiro

José Roberto Mansur

Depois foi a vez do clube comprar briga com o Corinthians após destinar apenas 10% da carga de ingressos para o rival no Paulistão de 2009. Andrés Sanchez jurou nunca mais atuar como mandante no estádio e a aproximação do mandatário com a CBF acabou arrastando Santos e Palmeiras.

A aposta era que a ausência dos grandes sangraria as finanças são-paulinas, o que acabou não acontecendo porque o clube conseguiu viabilizar o Morumbi como palco de megashows como Beyoncé, Paul McCarney, U2, Coldplay entre outros.

"Isso (ausência dos rivais mandando jogos no Morumbi) preocupa mais quem é de fora. Alguns falam que precisamos dos outros para nos mantermos no azul, mas somos altamente superavitários graças aos camarotes e aos shows que recebemos", desdenha Jesus Lopes.

CLUBE REBATE RECLAMAÇÕES DE PREÇO ALTO E APOSTA NA BILHETERIA

Uma das alegações dos clubes para não alugar o estádio é que o valor do aluguel é muito alto. “Isso é uma bobagem, nós adequamos à proposta a cada circunstância”, explica Mansur. “Se é um jogo de grande bilheteria, diminuímos o custo fixo e aumentamos no variável. Se é uma partida com estádio vazio, aumentamos o fixo e cortamos bem o variável”, explica. Para shows, o valor de aluguel do estádio é de R$ 1 milhão.

Os números comprovam que o dirigente tem razão. Mesmo sem receber jogos dos rivais, o último balanço do clube aponta um superávit de mais de R$23 milhões em 2010, valor superior ao dos dois últimos anos (11 milhões em 2008 e 22 milhões em 2009) e a expectativa é de resultado ainda melhor neste ano.

Mesmo com parte da diretoria ironizando os adversários, existe quem gostaria de ver jogos de outras equipes no estádio.

"O Morumbi foi concebido para ser o estádio da cidade e sempre o foi até pouco tempo atrás. Do ponto de vista financeiro a presença dos outros clubes pode não ser mais tão importante, mas institucionalmente seria muito bom. É uma pena que alguns dirigentes prefiram deixar de faturar muito mais - e é importante que se diga isso - para atender a pressões desse ou aquele dirigente", comentou o assessor da presidência José Francisco Mansur, responsável pelo estádio.

Enquanto assiste à troca de tiros entre São Paulo e seus adversários, a antiga casa das decisões vê seu papel de protagonista ser diminuído a cada manobra de bastidores. E por mais rentável que seja, nada pior para um estádio do que não abrigar jogos que façam jus à sua história.