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Juventus-SP quer homenagear Chico Buarque 52 anos após dispensá-lo em peneira

Na montagem, Chico veste a camisa do Juventus e empunha o troféu Moleque Travesso - Montagem: FolhaPress/Divulgação
Na montagem, Chico veste a camisa do Juventus e empunha o troféu Moleque Travesso Imagem: Montagem: FolhaPress/Divulgação

Mauricio Duarte

Em São Paulo

20/06/2011 07h00

Em 1959, um rapaz franzino de 15 anos apareceu no tradicional estádio da Rua Javari, do Juventus da Mooca, com um sonho comum a muitos outros garotos de sua idade: ser jogador de futebol. A ideia era começar em um clube menor e um dia, quem sabe, chegar ao amado Fluminense. O trajeto desde o Pacaembu, onde morava, até a Mooca foi longo, mas a confiança em seu taco compensava a demora. Mesmo assim, acabou reprovado na peneira e seria mais um entre os milhares de jovens que não conseguem sucesso no esporte não fosse por um detalhe: o rapaz se tornou um dos maiores compositores da história da música popular brasileira. Estamos falando de Chico Buarque.

Agora, 52 anos após o ocorrido, a diretoria do clube da Mooca adiantou com exclusividade ao UOL Esporte que pretende fazer uma homenagem ao cantor como “compensação” por ter encerrado sua precoce carreira no futebol. O Juventus pretende entregar a Chico o troféu “Moleque Travesso”, honraria concedida a ex-craques do time, ex-treinadores e personalidades que deixaram sua marca na história grená.

“Queremos lembrar que ele teve uma passagem aqui, tentou ser um atleta. Ficamos com essa recordação. É uma pessoa que deixou uma marca no clube, pelo fato de ter vindo até aqui, se preocupado com o Juventus. Como ele já vestiu nossa camisa, pensamos em uma homenagem”, diz Antonio Ruiz Gonsalez, presidente do clube.

MOLEQUE TRAVESSO

O troféu Moleque Travesso, que o Juventus quer oferecer a Chico Buarque, já foi recebido por algumas personalidades que marcaram a história do tradicional clube da Mooca. Entre eles, estão os irmãos e ex-jogadores Brida e Brecha, o ex-atacante Ataliba, o ex-treinador Basílio (foto) e até o jornalista Luciano Faccioli, figura assídua nas arquibancadas do estádio Conde Rodolfo Crespi, a famosa Rua Javari. O nome do prêmio é uma referência ao apelido ganhado pelo time que costumava “aprontar” contra os grandes de São Paulo.

A versão do clube é de que Chico não passou no teste por ser muito franzino. De acordo com Gonsalez, ele sabia jogar, mas não tinha porte de jogador. Além disso, havia uma concorrência muito forte pois, na época, as categorias de base do Juventus eram muito procuradas por candidatos a craque. No entanto, o cantor conta que não foi recusado, apenas vencido pelo cansaço depois de muito esperar sua chance de entrar em campo.

“Calúnia! Não fui barrado, só me retirei de leve, depois de longa espera, com fome e com medo da barra pesada”, revela, com bom humor, Chico Buarque ao UOL Esporte. Sobre a homenagem que o clube pretende fazer, o artista não comentou. Avesso a badalações, ele não costuma se empolgar muito com prêmios. Porém, quando se trata de futebol é diferente, como afirma Wagner Homem, amigo pessoal do compositor e autor do livro “Chico Buarque- Histórias de Canções” (Ed. Leya).

“Ele não vai muito a eventos de música. Ultimamente, tem ido a alguns de literatura, mas de futebol ele gosta muito. Acho que ele aceitaria, é uma homenagem bem legal”, diz, lembrando que certa vez Chico estava em turnê no Rio Grande do Sul e recebeu o título de cidadão porto-alegrense, mas recusou-se a participar da cerimônia e pediu que o título lhe fosse entregue na quadra de futebol em que ele iria jogar na cidade gaúcha.

Porém, isso não é problema para o Juventus. O clube está disposto a enviar o troféu a Chico caso ele não possa participar da cerimônia no clube, já que está descansando em Paris após terminar a gravação de seu novo CD, que será lançado em julho. Para o presidente grená, a homenagem pode sensibilizar o músico a ponto de, quem sabe, incluir o time em uma de suas canções. “A gente só quer homenageá-lo, para ele lembrar do Juventus com carinho. Quem sabe ele ainda faz uma música do Juventus”, sonha.

De acordo com o presidente do Juventus, não ficou arrependimento por ter perdido a chance de ter Chico em seu plantel, pois “na época era o certo a ser feito”. Porém, uma outra saída poderia ter sido encontrada. “Infelizmente, ele não foi aproveitado na época. Provavelmente ele fez mais sucesso como músico do que faria como jogador. Mas nada o impediria de cantar e jogar ao mesmo tempo. Na atual situação, a história é uma lembrança boa”, brinca.

CHICO BUARQUE E CARLOS ALBERTO PARREIRA

Certa vez, um encontro entre o astro e o então técnico do Fluminense Carlos Alberto Parreira rendeu uma boa história. “Uma vez o Parreira estava no show do Chico. Foi naquela época em que ele era técnico do Fluminense e o time estava na terceira divisão. Depois do show, ele foi ao camarim falar com o Chico. Depois, o Chico me confessou, brincando, que achou que ia ser chamado para jogar no Flu, mas o Parreira só queria dizer que tinha gostado do show”, conta Wagner.

Chico Buarque, contudo, tem seu próprio futebol em alta conta. Para ele, uma comparação com o ídolo Pagão, craque do Santos e São Paulo na década de 60, não é descabida. E ai de quem ousar dizer o contrário. “Você pode até falar que ele canta mal, que ele compõe mal, mas não que ele joga mal. É capaz de ele ficar sem falar com você”, afirma Wagner Homem.

Para o bem da música, Chico não se tornou um jogador profissional. No entanto, mesmo aos 67 anos - completados no último domingo -, joga futebol três vezes por semana, religiosamente. Quando está em turnê, dá um jeito de armar partidas por onde passa com o seu folclórico time, o Politeama. Ele é fascinado pelo esporte desde criança, quando esperava o portão do Pacaembu ser aberto no segundo tempo para poder entrar de graça e ver as partidas.