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Beto revela mágoa com Antônio Lopes e diz que se cuidava nas noitadas

Beto passou a ser conhecido no futebol brasileiro após passagem pelo Botafogo - Folha Imagem
Beto passou a ser conhecido no futebol brasileiro após passagem pelo Botafogo Imagem: Folha Imagem

Pedro Ponzoni

No Rio de Janeiro

27/07/2011 07h03

Beto pertence ao pequeno hall de jogadores que teve a oportunidade de atuar pelos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. Atleta de muita raça dentro das quatro linhas, ele conseguiu deixar todas as torcidas satisfeitas com seu rendimento. Entretanto, ele nunca escondeu que tem maior identificação com o Flamengo.

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    Mesmo demonstrando a alegria de sempre, Beto disse que foi desrespeitado no Vasco

  • Mesmo atuando ao lado de Romário, Beto não levantou nenhuma taça no Fluminense

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o ex-jogador, que hoje trabalha como intermediário na negociação de atletas brasileiros para o futebol europeu, revelou ter decidido parar de jogar profissionalmente porque se desgastou em sua última passagem pelo Vasco.

Na época, ele entendeu que foi desrespeitado por algumas pessoas do clube. Mesmo sem falar abertamente, Beto ficou chateado principalmente com Antônio Lopes e Tita. Ele entende que tinha condições de jogar, mas chegou a ficar fora até mesmo dos coletivos. Por conta disso, optou por rescindir seu contrato, mesmo com o Campeonato Brasileiro em andamento.

Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: O que começou a fazer após parar de jogar futebol?

Beto: Eu cheguei a ser convidado para fazer parte de um projeto no Operário-MT. Porém, não concordei com algumas coisas e resolvi voltar para o Rio. Quando retornei comecei a trabalhar como parceiro de empresários holandeses. Costumo intermediar as negociações. Eles me consultam sobre atletas disponíveis no mercado e eu faço as indicações.

UOL Esporte: Você acredita que parou no momento certo? Alguns atletas como o Juninho Pernambucano chegaram à sua idade com um vigor invejável.

Beto: Eu parei de jogar porque me desgastei com o futebol. Quando estava no Vasco (2008) sofri com a falta de respeito de algumas pessoas. Eu estava bem fisicamente e, de repente, o Antônio Lopes (técnico) passou a me deixar fora até mesmo dos coletivos. A torcida pedia por mim, mas ele não colocava para jogar. Era complicado sair do Recreio dos Bandeirantes (bairro da zona oeste do Rio) para não treinar. Quando o Tita assumiu o comando, a gente conversou e ele ficou de me dar uma nova oportunidade. Porém, eu já estava sem paciência e pedi para rescindir meu contrato.

UOL Esporte: Você pretende trabalhar novamente em um clube como treinador ou dirigente?

Beto: Não tenho esse desejo. Trabalhar como empresário é mais fácil lidar com as pessoas. O dia a dia de um clube pode ser bom, mas exige muito das pessoas. Prefiro manter essa distância.

UOL Esporte: Quais foram os pontos mais altos da sua carreira?

Beto: Dois momentos na minha carreira me marcaram muito. Minha passagem pelo Botafogo e pelo Flamengo. O Botafogo foi o começo de tudo e eu passei a ser conhecido nacionalmente. No Flamengo, eu vivi o auge da minha carreira porque em cinco anos no clube eu conquistei cinco títulos importantes e não perdi nenhuma final que disputei.

UOL Esporte: Soube que você acertou com o Botafogo em uma negociação inusitada. Conte maiores detalhes.

Beto: Quando eu estava no Dom Bosco, participei de um torneio no estado do Rio de Janeiro e meu time estava na chave do Botafogo. Quando acabou o jogo, um olheiro do Botafogo se interessou em mim. Na época, eu nem retornei para a minha cidade. Como o Dom Bosco precisava de jogadores e material, o Botafogo ofereceu um goleiro e 50 pares de chuteiras para me contratar. O detalhe é que os pares de chuteira foram pagos do meu bolso.

UOL Esporte: O Campeonato Brasileiro de 1995 é um dos principais títulos da sua carreira. O que você guarda de recordação daquele grupo?

Beto: Tudo aconteceu muito rápido na minha carreira. Despontei muito novo e tive a oportunidade de fazer parte daquele grupo. Eu era muito jovem e aqueles jogadores me abraçaram, principalmente os mais velhos como o Gottardo, Wagner e Sérgio Manoel. Naquela época eu perdi a minha mãe (dona Sebastiana) e eles me deram muito apoio. O baque foi muito grande, mas consegui me segurar.

SAIBA MAIS SOBRE BETO

Nome completo: Joubert Araújo Martins
Data e local de nascimento: 7/01/1975, em Cuiabá (MT)
Clubes na carreira: Botafogo, Napoli-ITA, Grêmio, Flamengo, São Paulo, Fluminense, Consadole Sappore-JAP, Vasco, Sanfrecce Hiroshima-JAP, Itumbiara-GO, Brasiliense, Mixto-MT, Confiança-SE e CFZ Imbituba-SC
Principais títulos: Campeonato Carioca (1999, 2000, 2001 e 2003), Copa do Brasil (1997), Copa dos Campeões (2001), Campeonato Brasileiro (1995), Copa Mercosul (1999) e Copa América (1999)
Seleção brasileira: 20 jogos e dois gols

UOL Esporte: Mesmo tendo iniciado sua carreira no Botafogo, você nunca escondeu que era torcedor do Flamengo. Como foi a recepção da torcida do Vasco quando você acertou?

Beto: Quando acertei com o Vasco, precisei participar de uma reunião na sede da Força Jovem (uma das principais torcidas organizadas do clube). Tinham cerca de 30 integrantes e muitos deixaram claro que eram contra a minha contratação. Na hora, eu expliquei para eles que era muito profissional e procuraria honrar a camisa do Vasco. A única coisa que eu pedi era para eles não me agredirem nem depredar o meu carro. Caso contrário, minha reação poderia ser diferente.

UOL Esporte: Qual foi a reação dos torcedores? Eles passaram confiança para você?

Beto: Eles ficaram desconfiados, mas passaram apoio. Na minha apresentação oficial, alguns integrantes estavam na sala e me deram uma camisa da torcida. Eu acabei vestindo e posei para algumas fotos.  Depois disso, nunca mais fui hostilizado por eles. Até hoje alguns vascaínos pedem para eu jogar pelo time deles.

UOL Esporte: Você pertence ao pequeno hall de atletas que jogaram pelos quatros grandes clubes do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco). Qual é o segredo para você ter o respeito de todos os torcedores?

Beto: Sinto muito orgulho e satisfação por ter tido a oportunidade de jogar pelos quatro clubes. É gratificante ter conseguido jogar bem nos clubes. Eu só não conquistei alguma coisa pelo Fluminense. Mesmo assim, porque nos roubaram na semifinal de 2002. Claramente o César foi empurrado pelo Guilherme no primeiro gol (O Corinthians venceu o Fluminense por 3 a 2 no segundo jogo da semifinal do Brasileirão).

UOL Esporte: Você nunca escondeu que gostava de ir para a noite. De alguma forma isso acabou atrapalhando seu rendimento?

Beto: Não, porque eu saía quando podia. Às vezes a gente concentrava dois, três dias seguidos. Qual é o problema do jogador sair na folga dele? Porém, isso nunca me atrapalhou. Caso eu não me cuidasse, me prejudicaria.

UOL Esporte: Você se sente frustrado por não ter conseguido se firmar no futebol europeu e ter tido uma maior sequência na seleção brasileira?

Beto: Quando eu me transferi para o Napoli eu tinha apenas 21 anos. Eu me adaptei bem ao futebol italiano, mas a proposta do Grêmio para eu retornar era muito boa. Na época, o dólar estava “um para um.” Em relação a seleção brasileira, eu fiquei chateado por não ter disputado uma Copa do Mundo. Em 2002, eu estava no auge na minha carreira e poderia ter sido lembrado.