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Luan se sente incompreendido, admite que erra muito e revela cornetadas da família

Luan se equilibra entre as críticas da torcida e os elogios de Felipão no Palmeiras - AP/Andre Penner
Luan se equilibra entre as críticas da torcida e os elogios de Felipão no Palmeiras Imagem: AP/Andre Penner

Luiza Oliveira

Em São Paulo

09/08/2011 07h03

Artilheiro da equipe no Campeonato Brasileiro e protegido do técnico Luiz Felipe Scolari. Nem esse cartaz livra Luan de vaias e desconfiança da torcida. Contratado por quatro anos após a diretoria desembolsar R$ 7 milhões, o atacante se sente incompreendido, mas reconhece que 'erra um pouquinho a mais que os outros'.

Nome: Luan Michel Louzã
Posição: Atacante
Idade: 22 anos
Local de nascimento:Araras-SP
Clubes que defendeu:
União São João
São Caetano
Toulouse-FRA
Palmeiras

Em busca de equilíbrio para lidar com afagos e cobranças, o jogador de 22 anos tem cinco gols na competição, mas já sentiu na pele ameaças de torcedores no aeroporto e no centro de treinamento, e viu os xingamentos virarem rotina.

Para se manter alheio à polêmica extracampo, Luan se apega à relação quase paternal com Felipão, exalta sua importância tática para a equipe e reconhece que as críticas têm algum fundamento. A necessidade de arriscar causa erros, algumas vezes, bizarros.

"Tem momento que até minha família fala, fica chateada quando uma bola não vai certa. Contra o Atlético-MG dei um chute que nem eu acreditei", admite, com bom humor.

O jogador atendeu à reportagem do UOL Esporte após treino do Palmeiras na Academia de Futebol. Sentado no gramado de um dos campos, falou com tranquilidade sobre as vaias, riu dos próprios erros e revelou sonhos com a seleção brasileira e o futebol europeu.

 

O Felipão sempre te elogia e fez questão que você permanecesse no clube. Como é sua relação com ele e ser protegido por um técnico pentacampeão mundial?

Faço uma função em campo que é difícil, marcar e sair com a bola. Ele me dá força, fica chateado porque parte da torcida pega no pé e tenta abraçar e apaziguar as coisas. Às vezes estou sem motivação, ele me motiva para entrar em campo e dar o meu melhor. Venho aprendendo bastante pela pessoa que ele é, paizão de todo mundo. Sempre dá conselhos, já viveu muitas coisas para passar para a gente. Ele diz que cada um tem sua vida fora de campo, mas dentro de campo sempre conversa comigo. Fala o jeito certo de marcar, o lado que devo ir. Com o que aprendo com ele, posso conseguir muitas coisas, como ir para a Europa.

PASSAGEM PELA EUROPA

No começo foi difícil. Não sabia a língua e o frio era demais. Dei azar de chegar e me machucar. A língua foi difícil, mas depois me acostumei. Não sabia falar, mas entendia tudo. Hoje não é fluente, mas sai alguma coisa.

A diretoria fez um esforço e desembolsou três milhões de euros (cerca de R$ 7 milhões) pela compra de seus direitos econômicos junto ao Toulouse-FRA. Acha que vale tudo isso?

Está de bom tamanho pelo que a gente já conquistou (risos). Não é qualquer um que vai para a Europa e tem essas oportunidades. Tenho que melhorar bastante ainda, mas fiquei super contente pela diretoria, pelo esforço. Até o ultimo minuto brigaram e conseguiram.

Seu papel tático é importante para o time ajudando também na marcação. Acredita que a torcida não entende bem? Isso te chateia?

Acho que pelo nome da posição, ‘atacante’, a torcida quer gol em todo jogo, e não entende a função que venho fazendo, mais de marcação no meio campo e para ajudar os laterais. Às vezes fico chateado pela forma como ajudo o Palmeiras e não sou reconhecido. Mas estou super contente pelo crescimento que demonstro para o Felipão. Não tenho vaidade nenhuma por não ser a estrela.

Você é conhecido por perder muitos gols e errar bastante. Isso acontece por que gosta de arriscar?

O Felipão cobra, diz que uma hora a bola tem que entrar e não é para ter medo de arriscar. Pode ser de longe, de perto, tem que bater para o gol. Claro que se tiver um companheiro mais bem posicionado, tem que tocar, mas ele cobra para arriscar.

E muitas vezes acaba errando...

(risos) Isso ocorre bastante. A torcida fica um pouco chateada por estar errando, tentando, errando. Ficam bravos nessa parte (risos). Como o Felipão passa confiança, não tenho medo de errar. Uma hora a bola vai ter que entrar

SONHO DE RETORNAR AO VELHO CONTINENTE

Penso em voltar para a Europa, é o sonho de todo jogador conseguir algo em um time grande de lá. Quando não tinham me dado a resposta se eu ficaria, estava contente por voltar. O time é bom, tenho muitos companheiros e gostei de viver na França. Tentaria fazer tudo que não consegui na primeira passagem. Mas o primeiro objetivo era ficar aqui.

Os torcedores têm razão nesse aspecto?

Tem momento em que até minha família fala, fica chateada quando uma bola não vai certa. Contra o Atlético-MG dei um chute que nem eu acreditei, a bola saiu de lado. Mas se eu ficasse abatido não faria o gol logo em seguida, quando sobrou a bola. Vou seguir tentando.

(No duelo contra o time mineiro no Canindé, Luan recebeu de Maikon Leite e chutou tão mal que a bola saiu pela lateral do campo aos 10 minutos do segundo tempo. Seis minutos depois, ele balançou as redes)

Tem noção de que não é tão habilidoso como outros jogadores na sua posição?

Sei que não sou. Não tenho essa habilidade toda para jogar igual a jogadores como Neymar, Ganso ou Kleber, Valdivia e Patrik aqui no Palmeiras. Tenho consciência que não tenho, mas tenho bastante força para ajudar a fazer os gols e está dando certo.

(Luan é o artilheiro do Palmeiras no Brasileirão com cinco gols. Em seguida, aparecem Kleber, Marcos Assunção e Mauricio Ramos, todos com três)

Você já pensa em ser convocado para a seleção brasileira?

Penso em seleção bem para a frente, quem sabe daqui a uns anos. Agora é difícil, tem bastantes jogadores habilidosos como Neymar e outros vários atacantes. Tenho que aprender bastante, sou novo, vou pegar firme. Trabalhando certinho, sem passar ninguém para trás, chego sim.

Apesar das críticas da torcida, você diz que mantém o foco no campo. Como consegue se desligar? Às vezes as cobranças não te ‘enchem o saco’?

Fico bastante chateado de escutar as críticas, tem uma parte da torcida que não entendo as cobranças. Mas tenho que seguir em frente, busco forças em Deus e na família para melhorar a cada jogo e a cada treinamento. E é só uma parte da torcida, quando saio para o shopping ou almoçar, o torcedor sempre vem me dar parabéns, fala para continuar assim. Isso me dá força.

Você se sente incompreendido?

Pequena parte da torcida não entende o que a gente vem fazendo, o sacrifício. Eles ficam chateados porque erro um pouquinho a mais que os outros. Mas no fim vai dar tudo certo, o Palmeiras, a torcida, todo mundo vai ganhar.