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Luiz Ceará projeta "pendurar" microfone em 2014 e critica era dos assessores

Luiz Ceará projeta seguir em rede nacional somente até a Copa do Mundo no Brasil - Divulgação
Luiz Ceará projeta seguir em rede nacional somente até a Copa do Mundo no Brasil Imagem: Divulgação

Bruno Freitas

Em São Paulo

25/08/2011 07h00

Um dos nomes de frente da popular equipe de esportes da Bandeirantes, o veterano Luiz Ceará caminha na reta final de uma trajetória como repórter de campo no futebol. O novo blogueiro do UOL avisa que projeta "pendurar o microfone" após a Copa de 2014 no país, quando deixará para trás uma recente realidade estabelecida no universo dos boleiros, marcada pela intermediação de assessores.

NOVA VIDA DE BLOGUEIRO

Luiz Ceará é o novo integrante da equipe de blogueiros de esporte do UOL. Em seu espaço de opinião, o jornalista traz observações sobre o cotidiano do futebol e promete levar um pouco de suas preferências musicais aos leitores – que já viram por lá menções a João Gilberto e Beatles.

O novo blogueiro também espera conversar bastante com o leitor, como faz fora da vida virtual, papeando com torcedores nas ruas ou no ônibus entre Campinas e São Paulo.

"É uma responsabilidade muito grande. Você tem que levantar informações, procurar coisas. Procuro escrever o que acontece. Não sou muito de dar furo, nunca fui muito disso. Procuro mais comentar os fatos, dar a minha opinião pessoal. Quero também conversar com as pessoas. O retorno tem sido muito maior do que eu imaginava", diz o jornalista, que conta gostar de interagir bastante com o leitor que deixa seu comentário no blog.

Aos 61 anos, Ceará já deu início ao processo de transição para deixar o dia a dia do futebol. Neste ano, o repórter deixou as transmissões da Band na Série A e tem aparecido com mais frequência nos jogos da Segundona, sem contar as entradas ao vivo nos noticiários esportivos da emissora.

"Depois da Copa, se a Band continuar comigo até lá, eu vou parar. Quero me proteger um pouquinho, existe uma renovação natural de repórteres. Não quero que aconteça comigo o que aconteceu com o Eli Coimbra, que foi desrespeitado, demitido através de uma carta na Record", afirma, em menção ao antigo colega, morto em 1998.

Mas a despedida das telinhas não será definitiva, pois Ceará planeja se manter na ativa pela Band Campinas, onde estreia um programa de entrevistas com personalidades do esporte ainda este ano. Como entrevistador, o conhecido jornalista bom de papo espera levar amigos como Sócrates, Careca, Magic Paula e Hortência ao seu estúdio.

VETERANO NA ERA DOS ASSESSORES

O currículo de Ceará exibe passagens por praticamente todas as grandes emissoras de TV do país. Com 35 anos de trajetória, o jornalista de Campinas se esforça para manter a abordagem informal na era dos assessores, profissionais que ajudam os jogadores de futebol em diversos campos de atuação, como imagem, em um processo de padronização na comunicação com os fãs do futebol.

"Isso faz parte de um processo, mas está muito atropelado. Sou de uma época que o repórter ficava dentro de campo, atrás do gol, assistindo ao treino. Hoje o pessoal fica na sala de imprensa, só escrevendo, sem ver nada. Pega a coletiva e faz a matéria. Já eu procuro manter uma coisa pessoal, longe desses assessores", diz.

"(O trabalho dos assessores) atrapalhou muito o relacionamento com a imprensa, é o intermediário. Por isso tem tanta fofoca, tanta notícia atravessada, tanto balão de ensaio. Eu já fui a centenas de festas com jogadores, andava no ônibus da seleção, com Zico, Junior, a gente fazia pagode junto. Não dava para falar que os caras bebiam, porque a gente também bebia. Hoje o cara toma uma caipirinha e vira assassino", acrescenta.

SBT: SUCESSO NO "AQUI AGORA" E AUDIÊNCIA RECORDE NO FUTEBOL

Luiz Ceará integrou o quadro de repórteres do SBT durante dez anos. Na emissora de Silvio Santos, teve o privilégio de participar da criação do inovador programa "Aqui Agora", que influenciou o modo de fazer jornalismo de TV no Brasil a partir dali.

  • Reprodução

    Luiz Ceará é presença frequente em entradas ao vivo no noticiário esportivo da TV Bandeirantes

"O Silvio Santos mostrou uma fita de um programa argentino, queria uma pegada igual. Eu tinha facilidade de fazer ao vivo e acabei incluído (no projeto). Fiz o piloto aqui em Campinas, numa penitenciária. O SBT inventou essa pegada de câmera andando, como se fosse ao vivo. Fizemos um grande sucesso, batendo a TV Globo", recorda sobre o programa no início dos anos 90.

Mais adiante na mesma década, Ceará participou da transmissão histórica do SBT, na final da Copa do Brasil de 1995, entre Corinthians e Grêmio.

"Foi a maior audiência do SBT, 70 pontos. Nem o Silvio Santos conseguiu isso. Pena que não durou, ele não gosta de esporte. Nós fizemos a Copa do Brasil virar um sucesso", afirma, em menção à equipe que tinha nomes como Luiz Alfredo, Juarez Soares, Silvio Luiz, com a chefia de Roberto Cabrini e Michel Laurence.

AS COPAS: BRIGA EM 90 E CHORO ATRÁS DO GOL DE TAFFAREL

Com quatro Copas do Mundo no currículo de repórter, Luiz Ceará viu de perto momentos marcantes em jogos históricos da seleção. O veterano relata ter acompanhado de perto o racha no grupo de 1990, na briga por divisão de premiação. Quatro anos mais tarde, não conteve o choro ao testemunhar de perto o tetracampeonato nos EUA.

"Fiz a matéria chorando. Eu estava atrás do gol do Taffarel. Não poderia estar ali, entrei como se fosse um fotógrafo. Fiz a matéria para o 'Aqui Agora'. Quando o Baggio chutou pra cima, vi o cinegrafista que estava comigo chorando. E aí choraram os dois", relata.

1994: Ceará está em algum lugar atrás do gol de Taffarel na histórica decisão por pênaltis

PAIXÃO PELA MÚSICA: PARCERIA COM O MEIA ZENON

Quem acompanha o trabalho de Luiz Ceará na TV talvez não saiba que o repórter da Band mantém uma ligação próxima com o mundo da música. Antes de entrar no jornalismo, era baterista e se arriscava nas composições. Um dia levou uma de suas canções para a Elza Soares e acabou vendo de perto o famoso namorado da cantora: "O Garrincha entrou na sala. Ali eu decidi que iria mudar de profissão para ficar perto daqueles caras".

Hoje, Ceará segue brincando com a música. Um de seus parceiros é Zenon, ex-meio-campista de Guarani e Corinthians: "Ele toca violão. A gente fica duas horas tocando música do Roberto Carlos".

SEM ESCONDER TIMES: PONTE PRETA E FLAMENGO

Alguns comentaristas esportivos e demais homens de estúdio costumam revelar seus times de coração, mas são poucos os repórteres que vão a campo que ousam expor sua preferência. Luiz Ceará é um deles, com o argumento de que é essa paixão que move o jornalista em sua escolha pelo noticiário esportivo.

"O jornalista esportivo precisa ter um time, senão tem que trabalhar como caixa de banco. O cara tem que amar o futebol, amar o clube, mas precisa manter a ética. É bundão quem protege seu clube, o seu jogador. Já fiz quatro jogos da Ponte na Série B este ano. Por que vou ficar protegendo a Ponte? Quem paga mau salário é a Bandeirantes. E todo mundo sabe que meu time nacional é o Flamengo. Quem não tem um time que vá fazer matéria de natação", afirma.