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Camanducaia revela pazes com Márcio Rezende sobre polêmico gol anulado de 95

Camanducaia e Márcio Rezende foram personagens da decisão do Brasileiro de 1995 - Folha Imagem/AFP
Camanducaia e Márcio Rezende foram personagens da decisão do Brasileiro de 1995 Imagem: Folha Imagem/AFP

Bruno Freitas

Em São Paulo

26/08/2011 07h00

O Santos conseguiu ganhar praticamente todos os títulos possíveis nos últimos dez anos, deixando para trás um longo marasmo sem conquistas. Mesmo em tempos de bonança, não há torcedor santista que não recorde do Campeonato Brasileiro de 1995 com uma ponta de frustração, na lembrança da derrota para o Botafogo na final, marcada por um erro da arbitragem em um lance do atacante Camanducaia.  

MÁRCIO: JUIZ DE JOGOS IMPORTANTES

Apesar do envolvimento em lances polêmicos nos Brasileiros de 1995 e 2005, Márcio Rezende de Freitas construiu uma carreira invejável no futebol, marcada por escalações para jogos importantes tanto no Brasil como no exterior.

No país, o árbitro dirigiu as finais do Brasileiro de 1995 e 1996 (Grêmio x Portuguesa), por exemplo. Também mediou uma das partidas da decisão de 1999 (Corinthians x Atlético-MG).

Márcio Rezende representou o Brasil na Copa do Mundo de 1998 e teve a honra de apitar a estreia da anfitriã França, diante da África do Sul. Também esteve à frente da decisão do Mundial Interclubes de 1996, entre Juventus e River Plate.

Em entrevista ao UOL Esporte, o atacante que foi o talismã da torcida do Santos naquela campanha de 1995 diz que ainda carrega consigo a mágoa pelo lance que teve o possível gol do título anulado pela arbitragem comandada pelo mineiro Márcio Rezende de Freitas. No entanto, Camanducaia revela que selou a paz com o ex-juiz em um encontro casual anos depois daquela tensa decisão do Pacaembu.

Em 2006, quando defendia o Ipatinga, Camanducaia viu seu caminho cruzar com Márcio Rezende no saguão do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. O ex-santista reconheceu o personagem importante de sua carreira e não teve dúvidas em caminhar na direção do antigo algoz para falar sobre o polêmico lance da final contra o Botafogo.

"Estávamos para pegar um voo para jogar em Recife contra o Náutico. Eu estava no saguão, ao lado do presidente do Ipatinga. Ele estava lá, junto com o [jornalista] Bob Faria, os dois são comentaristas da Globo em Minas. Ele me viu e se assustou. Disse: 'Existem duas pessoas que me odeiam, você e o Milton Neves [apresentador de TV e ilustre torcedor santista]'. Disse para ele que não tenho mágoas. Ele errou, reconheceu que errou, e a vida segue. Paciência, todos estão sujeito a errar. É levantar a cabeça", relata Camanducaia.

O ex-ponta do Santos lembra de outro lance controverso envolvendo Márcio Rezende, mas faz questão de não recriminar o ex-árbitro da Fifa.

"Assim como ele errou no jogo Corinthians e Inter [Brasileiro de 2005], quando não deu um pênalti do Tinga, acontece. Eu só tenho que agradecer. Tive realizado o sonho de ser jogador profissional, eu era um entre milhões de adolescentes", destaca.

SANTOS x BOTAFOGO: A FINAL DOS ERROS

Artilheiro em 1995, Túlio comemora gol na final Botafogo x Santos imitando um peixe

Com a vitória no jogo de ida no Maracanã por 2 a 1, o Botafogo foi ao Pacaembu no dia 17 de dezembro de 1995 precisando apenas de um empate para se tornar campeão brasileiro. O Santos, por sua vez, contava com a melhor campanha na fase de classificação e sairia com a taça com uma vitória simples.

No primeiro erro da arbitragem naquela noite de domingo, Túlio abriu o placar para o Botafogo aos 24min da etapa inicial, finalizando diante de Edinho em condição de impedimento. O Santos empatou logo no primeiro minuto do segundo tempo, com Marcelo Passos, após passe de mão do lateral Marquinhos Capixaba, em nova polêmica na decisão.

Após dois gols validados apesar de irregularidades, o Santos marcou um legal, com Camanducaia desviando de cabeça uma cobrança de falta de Marcelo Passos. No entanto, a arbitragem comandada por Márcio Rezende assinalou impedimento, frustrando a jogada que poderia mudar o desfecho da final naquela altura.

Na transmissão da Globo daquela partida, disponível hoje no site de vídeos YouTube, Léo Batista informa o narrador Galvão Bueno sobre a análise dos computadores do "Tira Teima":  Camanducaia estava em posição legal no momento do passe, 59 centímetros atrás do volante Leandro Ávila.

"Eu continuo carregando na minha vida aquele gol inválido. Onde vou o pessoal comenta sobre ele. O Santos foi o campeão moral de 95. Talvez minha trajetória pudesse ter sido outra se a gente fosse campeão, eu seria valorizado. Mas são coisas que acontecem no futebol", diz Camanducaia, titular naquele empate por 1 a 1, que favoreceu os cariocas.

AOS 36 ANOS, CAMANDUCAIA AINDA QUER JOGAR

Camanducaia treina em 2010 pelo Grêmio Osasco - Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

No ano passado, Marcelo Camanducaia sofreu uma lesão grave no joelho direito e mal teve oportunidade de jogar pelo Grêmio Osasco, o último time de sua carreira profissional até o momento. Hoje, aos 36, o atacante atua como empresário no interior de Minas Gerais, administrando um campo de futebol society (na cidade de Camanducaia) e uma pousada em Monte Verde.

Mesmo momentaneamente longe da bola, o antigo xodó da torcida santista nos anos 90 diz que ainda espera voltar a jogar. "Se ainda aparecer alguma coisa, tenho condições de jogar. Estou em forma, continuo trabalhando na academia", afirma, deixando o convite no ar para possíveis interessados.

Além de Santos, Ipatinga e Grêmio Osasco, Camanducaia rodou bastante pelo futebol nacional, defendendo as cores de Bahia, Guarani, Portuguesa Santista e Figueirense, entre outros. No exterior, atuou no México por Tigres e Santos Laguna e também acumula passagem pelos Emirados Árabes.